No começo, parecia simples: a IA só copiava a gente. Afinal, ela foi treinada com tudo o que produzimos. Seu “processo criativo” nasce de um banco de dados quase infinito de textos, imagens, músicas, roteiros, campanhas, layouts, estilos e decisões tomadas por pessoas reais ao longo de décadas. O que chamamos de “inteligência” é, na prática, uma imensa capacidade de recombinar padrões e referências.
Nesse sentido, a IA imita o homem. Ou, pelo menos, tenta emular seus padrões criativos, seu estilo, sua lógica narrativa, sua estética e suas ideias. Até aqui, tudo certo: a máquina recriando a obra do seu criador.
Mas talvez o jogo tenha virado.
Dentro das agências, das empresas e das produtoras, a IA já está em tudo. Textos, títulos, roteiros e imagens aparecem em segundos. Vídeos, músicas e jingles são cuspidos aos montes. Imagens em 3D, fotos hiper-realistas, vozes e até coisas que você nem imaginava que dava pra fazer.
Você apresenta pro cliente. Ele aprova. Ama. Se encanta. O time comemora. Viva! E alguém solta a frase: “Agora a gente precisa produzir. Botar na rua. Fazer de verdade.”
E aí começa o paradoxo: o homem precisa copiar a IA.
Contratam o fotógrafo pra refazer a imagem com a mesma estética gerada pela máquina. Chamam a produtora pra rodar o filme que nasceu inteiro em IA.
A produtora de áudio come um dobrado pra reproduzir um jingle parecido com o que o algoritmo criou e que o cliente já não consegue tirar da cabeça. O ilustrador é desafiado a copiar, só que diferente, o personagem que a IA inventou e virou benchmark.
Ironia pura. A IA copia o que fizemos no passado. E nós temos que copiar o que ela faz no presente.
Isso não é uma crítica. É uma constatação curiosa do nosso tempo. É só mais um capítulo dessa transformação incrível que estamos vivendo.
Aí eu te pergunto: qual será o futuro dessa história?
Bem, você, eu não sei. Mas eu vou pedir pra IA sugerir mais quatro versões.
Andre Havt é co-managing director da MullenLowe e CCO da Mediabrands Brasil