Muitas vezes me pego a imaginar qual seria a outra profissão que daria, para gente tímida, geek, nerd e vinda de todas as classes sociais, mas predominantemente da classe média e média baixa, a hipótese de ser bem-sucedido na vida.
Publicidade para mim é uma profissão que você junta uma turma legal em volta de uma mesa com papéis em branco e se preenche o papel e com aquilo se resolve um monte de problemas gigantes de grandes empresas.
E fazendo isso, essa turma se diverte e, o que é mais incrível, consegue ainda receber algum dinheiro para pagar as contas.
E olha que quando os problemas a serem resolvidos são muito difíceis, mas muito mesmo, a gente junta mais gente legal e acaba pedindo pizza e parece que depois da pizza a solução sempre acaba aparecendo. Quase uma irmandade.
Aquele meio músico e meio peladeiro de fim de semana pode se tornar um ótimo produtor musical. A menina que não saía do quarto lendo fanfic, em vez de sair às sextas-feiras à noite, tem tudo para se tornar premiadíssima em Nova York, Dubai.
O garoto da periferia que passava o dia desenhando, pois a mãe não tinha coragem de deixá-lo brincar na rua, pode ser um dia C-level global de uma rede de agências.
Na vida isso pode ser exceção, mas na publicidade é quase regra. É que na publicidade mais vale aquilo que te ensinam, do que aquilo que se aprende (Roberto Dualibi).
É uma das poucas profissões onde você troca ideia com gente formada no MIT e Harvard e eles não sabem sequer a faculdade onde você se formou.
Vai para uma reunião, aconselha um cliente a tomar decisões e, ao final, o cliente vai embora de helicóptero e o publicitário pega o metrô e vai pra casa.
As pessoas simplesmente querem saber o que você acredita e como resolveria um determinado problema. Quem diria que aquele garoto estranho seria tão relevante um dia.
Este ano, Cannes Lions reconhecerá a importância do Brasil como país criativo do ano. Comenta-se que foram mais de mil Leões, 20 GPs.
Agora queria ver qual seria o resultado levando em conta a participação de brasileiros em cases vencedores pelo mundo afora.
Outra coisa sensacional será a homenagem do festival a Washington Olivetto, que é a representação de tudo isso que é a publicidade brasileira.
Um misto de talento, intuição, genialidade, mas também dessa brasilidade de gostar das coisas originais do Brasil, música, humor, beleza e um lance pessoal, que o brasileiro tem e o mundo a maior parte das vezes estranha.
Que é uma coisa de ir para a frente. Não retroceder. Que não é ambição, é mais “querer dar certo”.
Muito comum brasileiro trabalhando fora e o chefe chega e diz para não trabalhar tanto, pois aquela intensidade pega mal ali.
Muitos já contaram isso. Eu já vivi isso. Mas o que fazer quando você está sendo pago para se divertir? Ano de celebrar o que fazemos e por que fazemos.
Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech&Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br