Todas as flexibilizações são possíveis, exceto a da moeda tempo que as pessoas dispõem. E que, cada vez mais, é mais escassa. Não é que o tempo diminuiu, o dia segue tendo 24 horas.

É que a quantidade de novas alternativas que temos para alocar nosso tempo escalou ao infinito. Só as incursões no digital, que não existiam 20 e poucos anos atrás, hoje já tomam 25% do tempo das pessoas.

A Timeless Society é a razão central da Nona Geração do Marketing. Anuncia-se no alvorecer do novo milênio.

Em meu “O Grande Livro do Marketing” registro sua chegada dizendo: “Nós, consumidores, passamos a ter em nossos bolsos uma nova moeda”.

Saem cara e coroa e entram em seus lugares tempo e dinheiro. Dinheiro segue sendo o poder aquisitivo.

Tempo, o poder restritivo. De nada adianta sobrar dinheiro se não temos tempo. Inverte-se o dito: Time is money... Money is time...

Teve um tempo em era abundante e disponível todo o tempo do mundo. As horas demoravam para passar. Nem nos lembramos mais quando...

Quando o Spotify deu o ar da graça, no dia 7 de outubro de 2008, era uma baita novidade e galopava sozinho. Uma espécie de corrida de um cavalo só, vindo muito distante, e numa mistureba monumental, o YouTube.

De lá para cá, o YouTube passou por sucessivos aprimoramentos, a Amazon oferece um serviço muito parecido e próximo do Spotify para seus assinantes prime, outros concorrentes surgiram, e, muito especialmente, além da concorrência específica, a genérica multiplicou-se ao infinito.

Na concorrência genérica, o que conta é a moeda tempo. Todas as demais alternativas de ocupação de nosso tempo que concorrem com o Spotify. E aí as coisas se complicam imensamente.

Conclusão, passados os anos de uma corrida de um cavalo só, Spotify, na concorrência específica são muitos nos competidores, e na genérica a concorrência é infinita.

Serviços, fatos e acontecimentos em nossas vidas, que disputam o mesmo e reduzidíssimo tempo que dispomos. Dispomos?

E aí, para tentar melhorar, mas piorando, o Spotify decidiu oferecer num preço menor para os que se dispuserem a ouvir publicidade e, diante do aumento de custos por perda de assinaturas pagas, precisou aumentar os preços, ou seja, o pior de dois mundos.

Mesmo assim, ainda, e em decorrência do pioneirismo e vendo enfraquecer a liderança mundial em streaming de áudio, com mais de 30% de participação de mercado, os números que eram verde de dar gosto, migraram para o amarelo, e agora, de uns tempos para cá, vermelho de dar medo.

No primeiro trimestre deste ano, o prejuízo foi de € 225 milhões, mesmo tendo a receita crescido em 14,3%.

Não tem solução.

Passado o período de graça quando uma inovação revolucionária cavalga sozinha, e tudo são flores, à medida que concorrentes de todos os gêneros e espécies vão chegando o cerco se estabelece, e as preocupações multiplicam-se.

Essa é a nova realidade.

E assim, todas essas espetaculares novidades dos tempos modernos têm um céu de brigadeiro por no máximo três anos, a partir do quarto as preocupações vão se manifestando, lá pelo cinco e seis anos os resultados tendem para o prejuízo, e até o 10 reinventar-se, revolucionar-se ou mergulhar em irreversível processo de partida, despedida, fim...

10 anos é o novo longo prazo...

Francisco Alberto  Madia de Souza é consultor de marketing
fmadia@madiamm.com.br