Na semana passada, o governo anunciou o programa Nova Indústria Brasil, visando impulsionar a indústria brasileira até 2033.
O programa prevê políticas públicas, como subsídios, empréstimos a juros reduzidos e ampliação de investimentos federais, além da aplicação de incentivos
tributários e fundos especiais para estimular setores
da economia.
De fato, a indústria brasileira precisava de um estímulo para retomar sua relevância no PIB brasileiro. O programa coloca foco em seis áreas, que chamou de missões. São as seguintes:
- Cadeias agroindustriais sustentáveis e digitais; 2. Forte complexo econômico e industrial da saúde; 3. Infraestrutura, saneamento, moradia e mobilidade sustentáveis; 4 . Transformação digital da indústria; 5. Bioeconomia, descarbonização, e transição e segurança energéticas; e 6. Tecnologias de interesse para a soberania e a defesa nacionais.
Embora as questões ambientais e sociais estejam bem contempladas no plano, principalmente nos itens 1, 3 e 5, ficamos com a impressão que o governo continua preso a uma visão anacrônica de subsídio e proteção da produção nacional, quando o foco deveria ser no novo potencial, expresso principalmente na missão 5, que trata da bioeconomia, descarbonização, transição e segurança energéticas.
É aí que o Brasil tem maior potencial competitivo e deveria colocar mais fichas para o jogo dos próximos 10 anos.
É claro que a sustentabilidade das cadeias agroindustriais é extremamente importante e deve estar contemplada em qualquer planejamento estratégico. Mas isso já vem sendo cumprido naturalmente pelos players do agronegócio, que já entenderam que a adoção de técnicas sustentáveis gera maior produtividade e competitividade.
O cuidado com o meio ambiente é uma decorrência natural desse processo. É triple bottom line na veia: você cuida do meio ambiente e dos aspectos sociais, mas não abre mão de uma maior lucratividade. Esse é o “nirvana” do agronegócio e de qualquer outro business. E, assim, a agropecuária entra de cabeça na era dos “bios”: bioinseticidas, biofungicidas, bionematicidas, bioinoculantes.
Não à toa, o mercado de biológicos cresce a uma taxa de mais de 40% ao ano. O mesmo acontece com a energia no campo.
Segundo a ABPA – Associação Brasileira de Proteína Animal, 90% dos seus associados declaram já implementar programas de energia limpa, 73% deles a partir da biomassa.
Portanto, a agroindústria vai muito bem, obrigado. É claro que não se pode descuidar desse importantíssimo setor, ao qual o governo deve garantir apoio permanente, mas o foco de um programa que objetiva dinamizar a indústria deveria estar em outros pontos de enorme potencial.
Eu, particularmente, acho que o Brasil deveria radicalizar na busca por se posicionar como o país da produção verde. Temos uma matriz energética única, que garante mais de 50% da energia proveniente de fontes renováveis e uma eletricidade gerada em 90% por fontes limpas.
E energia é chave para qualquer tipo de industrialização. As fontes renováveis existentes, tendo a hidrelétrica como carro-chefe, mas com a inclusão de outras em franca expansão, como eólica, solar e biomassa, tornam o Brasil o país verde que todo o mundo busca.
E ainda não falamos do hidrogênio verde, que o nosso país tem todas as condições de se tornar produtor de primeira grandeza.
Com energia verde farta, o país ganha competitividade, não só para sua indústria local, como para atender ao tal nearshoring, que é a migração para cá da indústria de outros países mais próximos, como os EUA, por exemplo, em busca de uma produção sustentável, em linha com o Pacto Global de redução de emissão de carbono.
A conclusão disso tudo é que, apesar da atitude louvável de impulsionar a indústria nacional, aparentemente, os dirigentes ainda subestimam o potencial do nosso verde e da aplicação dos critérios ESG como elementos impulsionadores.
Espero que essa luz verde atinja nossos governantes e a indústria brasileira.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br