No mês passado, o presidente Lula e seu vice e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços assinaram artigo conjunto tratando do esforço do que chamaram de neoindustrialização no país. Segundo Alckmin, o processo passa pelo fortalecimento de áreas em que o Brasil tem capacidade instalada e potencial para ampliar, como Aeronáutica, aeroespacial, saúde e energia renovável.

“O Brasil vai crescer, e vai crescer com sustentabilidade”, disse Alckmin. “A pergunta sempre foi: onde fabrico bem e barato? Agora, a pergunta é: onde fabrico bem, barato e consigo compensar emissão de carbono? É no Brasil! O Brasil é o grande protagonista desse momento de combate às mudanças climáticas e de avanço das energias renováveis”, completou.

De acordo com o ministro e vice-presidente, para dinamizar o setor industrial, que hoje representa 10% do PIB, mas já representou 30% nas décadas de 1970 e 1980, é preciso reduzir juros e implantar uma reforma tributária. De outro lado, mas não em oposição, temos Marina Silva, ministra do Meio Ambiente e das Mudanças Climáticas.

Conhecemos muito bem esses personagens e sabemos que são bem-intencionados e desejam genuinamente melhorar nosso país. Conseguirão?

Ao mesmo tempo em que se apregoa a importância da preservação dos nossos biomas, principalmente a Amazônia, o governo se coloca a favor da exploração de petróleo na foz do Rio Amazonas e lança um controvertido plano de incentivo ao carro popular.

A exploração de petróleo na Amazônia é um contrassenso flagrante para um país que se mostra, perante o mundo, como alinhado à preocupação com a preservação do meio ambiente e empenhado em conter o desmatamento naquele bioma e recuperar 12 milhões de áreas degradadas até 2030.

Você poderá dizer: então vamos ignorar o rico petróleo embaixo da terra e deixar de explorar uma riqueza potencial?! E a resposta mais consciente deveria ser sim. É claro que o petróleo será, por décadas ainda, uma fonte energética importante.
Mas nós devemos – e temos condições privilegiadas para isso – acelerar uma transição energética sustentável.

Nós temos outras fontes tão relevantes quanto o sujo petróleo, que serão muito mais valiosas daqui duas ou três décadas, quando o mundo já terá cumprido boa parte da sua transição energética, privilegiando fontes mais limpas e renováveis.

A importância do petróleo cairá, ano após ano, e poderá ser um mico daqui duas ou três décadas.

O Brasil é ensolarado o ano inteiro, tem ventos favoráveis para a geração de energia, além da biomassa (fomos os pioneiros da exploração do etanol como fonte energética renovável), e, principalmente, tem o potencial imenso de produção do hidrogênio verde.

Nossa energia elétrica, hoje, já é proveniente de mais de 80% de fontes renováveis.

Somos o país com as condições mais favoráveis para produzir o hidrogênio verde, que poderá nos catapultar para uma posição de liderança mundial na geração da energia do futuro.

Podemos nos tornar a Arábia Saudita dos anos 2050. É por isso que devemos torcer para que Marina Silva e Geraldo Alckmin se harmonizem e casem esforços.

Mais do que proteger e recuperar o nosso meio ambiente, devemos fazer dele nossa força maior na geração de riqueza e mola propulsora da tal neoindustrialização.

Para isso, Marina deverá ser firme no seu posicionamento de contenção da degradação ambiental, mas deverá também trazer para perto o seu companheiro de ministério Alckmin para, juntos, de modo pragmático e efetivo, desenharem formas de desenvolvimento sustentável.

É preciso que ambos minimizem suas diferenças e, de braços dados, mostrem ao governo o enorme potencial que temos para finalmente deixarmos de ser o eterno país do futuro para nos tornarmos o país do presente. A união da energia verde com a neoindustrialização pode ser o casamento do século!

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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