O caso das lojas Americanas e Marisa nos trazem algumas reflexões sobre como a imagem pública de uma empresa pode ser não apenas abalada mas também como as percepções coletivas podem ser distorcidas com a disseminação em larga escala de imagens e textos. Basta falar em dificuldades financeiras ou mudanças de cargos que o mercado brasileiro já acende um sinal de alerta e o farol amarelo ganha o mesmo status de farol vermelho.
E, claro, imediatamente as Pessoas Jurídicas afetadas mostram Pessoas Físicas como bode expiatório para dar a cara a tapa publicamente e serem a ilustração, a imagem do caos. Tanto a reputação corporativa quanto a reputação de indivíduos são afetadas e é um desafio enorme para profissionais de comunicação social porque, nessas horas, parecem que eles são os únicos responsáveis por conduzirem a boa percepção do público sobre a imagem dos seus clientes e de suas marcas.
Para contextualizar, vamos lembrar que, há um ano, a Americanas valia R$ 27,25 bilhões; Antes do anúncio do rombo bilionário, em 11 de janeiro de 2023, a varejista valia cerca de R$ 10,82 bilhões; E, na primeira semana de fevereiro, a empresa valia R$ 1,75 bilhão. Perdeu 64 bilhões de valor de mercado.
Quem também está com dificuldades é a Marisa que após anunciar a renúncia do presidente, de um membro do conselho de administração e informar que está em um processo de "otimização financeira e aprimoramento de sua estrutura de capital” teve queda de mais de 6% de suas ações na B3.
E não são apenas essas duas que estão com a corda no pescoço. Nos últimos dias vimos também a Light e a CVC entrarem nesse tsunami de dificuldades financeiras. E a Oi (Lembra dela?), que há pouco mais de um mês saiu de uma Recuperação Judicial arrastada por mais de seis anos, também apareceu com outra dívida e entrou com um pedido especial à Justiça para evitar a execução imediata de parte dos compromissos financeiros.
Para não termos alucinações, distorções das imagens reais e acabarmos confundindo focinho de porco com tomada precisamos olhar para as coisas como elas realmente são. Não é o fim dessas companhias. É um pedido de Recuperação Judicial que, nada mais é, que um processo que permite às empresas suspenderem e renegociem parte das dívidas acumuladas em um período de crise para evitar a sua falência, demissões e falta de pagamentos. É um processo de recuperação, como o próprio termo evoca. Ou seja, voltar ao normal. O que é bem diferente de morte decretada.
O antropólogo, sociólogo e filósofo francês Edgar Morin apresentou o conceito de componente alucinatório da percepção para demonstrar como nossas percepções podem ser influenciadas por fatores internos, pessoais ou sociais e que, de fato, não têm nenhuma relação com o fato percebido. E o que ele quer dizer com isso? Que o poder de modificação da realidade feita pelo observador acaba levando em conta fatores extra percepção física. Vale lembrar que alucinação é uma condição em que os nossos sentidos ficam confusos, percebendo coisas que não são o fato em si.
Ou seja, não vimos as lojas Americanas, Marisa e CVC com as portas fechadas. Entra no site delas para você ver com seus próprios olhos… E muito menos a Light (que, curiosamente, também tem como sócio o Beto Sicupira da Americanas) parou as operações e deixou de fornecer energia elétrica para o Estado do Rio de Janeiro. As vendas e o fornecimento de seus produtos continuam ativos. A imagem de falência dessas empresas estampa todos os materiais informativos que chegam aos nossos olhos e fazem com que tenhamos essa alucinação coletiva.
E este é o grande desafio para os profissionais de comunicação envolvidos em proteger e defender a existência e o valor de uma marca: criar imagens que informem, de fato, a realidade como ela é. Trazer à luz o que está nas sombras. É essa a mecânica das imagens; só acontecem com a ajuda da luz. Comunicar profissionalmente é um trabalho educativo. E a educação lida com alunos, que em sua etimologia quer dizer “aqueles sem luz”; sem a luz do conhecimento verdadeiro. A verdade e a transparência vão reduzir os danos, acalmar os aflitos e controlar o caos. Só basta ter um “papo reto” e ensinar da forma correta.
Um bom profissional de comunicação não atua apenas para vender produtos e serviços. Não fica escravo de metas pra garantir apenas o seu emprego. Um bom profissional de comunicação pensa no todo; é um agente capaz de criar e manipular imagens assertivas que façam a marca sobreviver, encantar, transformar e participar da vida das pessoas. Se tiver um último que queira sair, não apague a luz. Deixe que as imagens tragam vida porque é na vida que as melhores coisas acontecem.
Luciéllio Guimarães é Master Expert da HSM University, fundador da Imagem Academy e estrategista de imagem social