Em 1985, fui trabalhar na DPZ-Rio. Levava comigo um grande problema: onde comprar o, então, Propaganda & Marketing, que era distribuído encartado na Gazeta Esportiva. Afinal, quem no Rio de Janeiro estaria interessado nos bastidores do futebol paulista? Um paulista, talvez. E foi esse sujeito que encontrei, em plena Copacabana, na décima-quinta banca em que perguntei pelo jornal. Ele acabara de comprar um exemplar da Gazeta Esportiva.
Vibrante, pedi ao jornaleiro: uma Gazeta Esportiva, por favor. E ele: vou ficar devendo a você, acabei de vender. Olhei para o lado e o sujeito tinha embarcado num ônibus. Corri para o ponto, acenei ao motorista, e ele tornou a abrir a porta. O ônibus estava cheio e eu tentava localizar meu alvo naquele aperto. Lá estava ele, claro, calvo e, paulistanamente, de bermuda, tênis e meia. Pedindo licença, fui me aproximando. Com um braço esticado, segurava-se na barra superior; sob o outro, a Gazeta Esportiva.
Quando senti que estava próximo o suficiente, para ser ouvido, mesmo falando baixo, para não passar nenhum ridículo diante dos outros passageiros, iniciei o seguinte diálogo:
-Bom dia, o senhor é paulista?
-Sim, por quê?
-Eu vi que o senhor comprou a Gazeta.
-Sim.
-É difícil de encontrar.
-Muito. Só tem naquela banca, acho.
-Quanto o senhor pagou?
-Dois cruzeiros.
-O senhor é publicitário?
-Eu? Eu, não.
-O senhor sabia que tem um caderno só para publicitários na Gazeta de domingo?
-Não lembro.
-Eu sou publicitário.
-Ah, é?
Vagaram dois assentos juntos e nos sentamos.
-O senhor não quer conferir se o caderno veio nesse domingo?
-Deixa eu ver.
-Olha só, é esse aí...
-Hum...
-Viu? Só coisa pra publicitário.
-É mesmo.
-O senhor não quer me vender?
-Vender?
-Sim, pago cinco cruzeiros.
-Cinco?
-O jornal inteiro não custou dois?
-Sim, e esse caderno, por que vale tanto?
Voltou a abrir o caderno com mais atenção, página por página, talvez tentando achar alguma pegadinha.
-Vale pra mim, que sou publicitário.
-Hum...
-Vamos fechar negócio?
-Que tal dez?
-Dez o quê?
-Dez cruzeiros.
-Aí é sacanagem.
-Você está me chamando de sacana?
-Claro que não, só quis dizer que não seria justo.
-Como você sabe? Eu tenho um vizinho publicitário. Ele pode se interessar também.
-O senhor está querendo fazer um leilão?
-Por que não? Já que vale tanto pra vocês.
-Tá bom, eu pago os dez.
Entreguei o dinheiro e ele me ofereceu o caderno. Saltamos na Central do Brasil. Peguei um ônibus de volta para a zona sul. Acomodado no último assento, abri a janela, deixei entrar a brisa, e vim lendo, feliz da vida. Chegando em Copacabana, desci no ponto, onde ficava a tal banca de jornais. Fui a jornaleiro e propus:
-Eu sou publicitário e vou fazer você ganhar dinheiro.
-Como assim?
-Tá vendo esse caderno?
-Sim.
-Ele vem dentro da Gazeta Esportiva.
-Certo.
-Então, você vai retirá-lo de dentro do jornal e deixar separado. Quando alguém pedir a Gazeta, você pergunta se é publicitário. Se não for, você entrega o jornal sem o caderno. E guarda o caderno pra mim, que eu pago o preço do exemplar inteiro. Pode ser?
-Tudo bem.
Assim, o Propaganda & Marketing esteve me esperando todos os domingos naquela banca, enquanto morei no Rio. PROPMARK, há 57 anos inspirando soluções criativas.
Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
stalimircom@gmail.com