Assimetria regulatória, essa a denominação que os três grandes bancos, Itaú, Bradesco e Santander, e por tabela mais o Banco do Brasil e a Caixa, passaram a verbalizar para explicar o terreno que vão perdendo dia após dia para as fintechs.
Os três perdem, mas, não necessariamente as fintechs ganham. E sobre isso tratarei em um outro artigo: a verdadeira, insólita e preocupante realidade das fintechs.
Não estão errados. Como as fintechs, boa parte delas, cresce e prospera nos territórios vizinhos ao mercado financeiro, conseguem driblar por um tempo as regulações que amarram e inibem ou impedem certas práticas pelas organizações tradicionais. Mas, quando chegar a hora do ataque final, que cada dia está mais próxima, as fintechs terão de pular o muro, invadir o território, e respeitar ou enquadrarem-se, ou, serem enquadradas, na mesma legislação.
De qualquer maneira, crescem os encontros e reuniões entre os grandes bancos para compartilharem ideias e estratégias sobre como enfrentar esse inimigo em comum, dividido em centenas ou milhares, e denominados genericamente de fintechs. Em todo o evento que envolva os grandes bancos, em algum momento o tema ocupa a pauta.
Meses atrás, num congresso de tecnologia bancária, boa parte do tempo foi utilizada para que os grandes bancos reclamassem – quem diria – das condições de desigualdade na competição.
Falando em nome dos bancos, muito especialmente dos três maiores, a Febraban chegou a ser pungente em seus choramingos. Logo na abertura do evento assim se manifestou Isaac Sidney, presidente da entidade: “Foram os bancos, e não as fintechs, que deram às famílias e às empresas volume inéditos de crédito...”. Quase chorei!
Curioso usar a palavra dar, para o que é um negócio dos bancos, e mais e verdadeiramente conhecido como empréstimos... E onde ganham muito dinheiro... Não dão nada, emprestam... E cobram... E não é pouco... Nada de errado prestar serviços e receber por isso, mas, cobrar e dizer que “deram às famílias...”.
Mas, o dia era pra pegar pesado, e Isaac apontou o dedo para as fintechs e as acusou de terem vergonha do que são, de padecerem de grave crise de identidade: “Não somos como alguns que estão crescendo bastante, que já alcançaram o tamanho dos bancos, parecem bancos, agem como bancos, mas preferem se dizer e apenas empresas de tecnologia...”.
No mesmo evento, a resposta veio à altura, e na voz de Diego Perez, da Ab-
Fintechs: “Com as fintechs quebrando oligopólios, desafiando as estruturas do
status quo, atraem a atenção dos investidores internacionais, que chegam com cheques enormes. Isso chama a atenção dos incumbentes que agora precisam se afirmar, mostrar que seguem prestando os seus serviços...”.
Era sobre essa guerra que temos comentado com vocês nos últimos dois anos. “O Oceano Azul dos cinco bancos vai se convertendo num mar vermelho de acusações, sangue em direção a uma batalha final, ou paz sobre muitas vítimas e perdas irreparáveis...”.
Começou a guerra, agora, explicitamente. Terminaram as tais das mesuras e suposta boa educação. Vale chute na canela. E com a situação da economia, o choramingo e as acusações crescerão em volume e em intensidade.
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
famadia@madiamm.com.br