Jay Graber, uma executiva de 33 anos, está no comando do BlueSky, a plataforma de destino de mais de um milhão e meio de brasileiros (e contando!) desde que o X/Twitter saiu do ar. Uma ocupação inesperada que repete e amplifica os feitos do ano passado da plataforma indiana Koo, que virou tanto alívio cômico quanto campo de testes para acolher o desejo irrefreável dos pt-br de expressar suas opiniões em praça pública e em tempo real.

A liderança de Jay Graber vem com o gigantesco desafio de preencher o vazio deixado pelo X/Twitter — que nunca mais foi o mesmo depois da chegada de Elon Musk — e de desenvolver um espaço social saudável, com uma moderação que funcione e que seja minimamente protegido do tsunami de fake news, assédio e discursos de ódio que tomaram conta da antiga rede do passarinho.

Há quem diga que o Twitter já foi o “queridinho” da publicidade digital. Não tem sido minha experiência ao longo desses anos em agências. Não raro vejo a plataforma sendo avaliada pelos anunciantes com grande desconfiança, como um espaço sem controle para participar das conversas e sem formatos interessantes para anunciar. Faz sentido, sobretudo depois que a plataforma perdeu seus mecanismos de segurança e se tornou quase o umbral das redes sociais.

Por isso, Jay Graber e o time do BlueSky têm uma oportunidade de ouro nas mãos com a migração em massa dos pt-br. É a chance de conquistar a quarta maior base de “tuiteiros" do mundo e de, finalmente, transformar uma plataforma de interação em tempo real em uma potência comercial que atraia os anunciantes em vez de afugentá-los.

O BlueSky tem se esforçado para oferecer um ambiente mais seguro e inovador para os usuários, com políticas de moderação mais claras e ferramentas que há muito eram o sonho do tuiteiro médio. Se tudo isso vingar e a plataforma for capaz de criar formatos que favoreçam o engajamento genuíno da comunidade, o futuro é promissor.

Em mais de 15 anos de Twitter no Brasil, poucas marcas conseguiram compreender e se conectar com o espírito da audiência brasileira da plataforma. Não se trata de apenas um aglomerado de usuários, mas de uma comunidade que carrega consigo o cerne do jeito brasileiro de ser: altamente engajado, apaixonado, intenso e criativo, disponível para entrar na conversa com aqueles que consigam se conectar de verdade com esse espírito.

Mas tudo isso talvez só aconteça se o X/Twitter sair definitivamente do ar. X/Twitter é coisa séria demais por aqui. Há quem esteja com sintomas de abstinência. Muitos estão comemorando o bloqueio da plataforma e se dedicando a ocupar o território inexplorado do BlueSky. O passar dos dias dirá. Em tempos de “Kiko dos Foguetes” (apelido só para iniciados!) mudando as regras do jogo para pior, minha torcida, sem dúvida, é para o BlueSky. Embora sofrendo, claro, de sintomas de saudade…

Fabiana Lopes é diretora de conteúdo na Agência We