Existem muitas lacunas a serem preenchidas para se participar de um festival tão privilegiado como Cannes Lions, mas é importante ter a perspectiva e acreditar que é possível fazer parte desse encontro.

Quando cheguei em uma agência de publicidade e propaganda, alguns anos atrás, eu não compreendia o que era o Cannes Lions, e muito menos a relevância que as estátuas de leões expostas em uma das salas na primeira agência em que trabalhei significavam. Com o tempo, fui entendendo um pouco mais sobre a importância dessa premiação e, consequentemente, desse evento na carreira das pessoas. No entanto, ainda parecia algo distante para mim, uma realidade que não era minha, pois eu não fazia parte do time de criação e não via mulheres negras, como eu, ocupando esses espaços.

No entanto, embora o mercado, de forma implícita, ainda reforce a mensagem de que atividades que envolvem operações, área na qual faço parte, e a criatividade estão muitas vezes desconectadas, ao longo do tempo, percebi que isso não era verdade. Desde minha chegada na SOKO, a agência em que trabalho atualmente, meu senso criativo e estratégico em relação a tudo que construímos em nossas entregas foi sendo aprimorado. Todas as áreas da agência têm espaço para contribuir com ideias e são envolvidas no briefing do projeto desde o início.

A vida, no entanto, sempre nos surpreende, e depois de tanto tempo acreditando na desconexão entre a função que exercia e o evento, tive a oportunidade de participar do Festival Cannes como gerente de projetos. Vivenciar essa experiência tornou ainda mais evidente que nosso trabalho como GP envolve não apenas processos, mas também pessoas, criatividade, tendências, sustentabilidade e inovação, e todos esses temas foram abordados lá.

Quando estamos conectados com os temas que os diferentes players da comunicação do mundo estão discutindo em um festival como esse, temos ainda mais clareza sobre potencial, propósito e impacto de uma ideia para executá-la. Isso nos prepara para sugerir fornecedores com expertise e valores alinhados com a marca, com o desafio proposto e com um olhar sempre atento à diversidade e equidade, pensando em soluções mais sustentáveis para os entregáveis de uma campanha. Também nos fornece referências que ajudam a conhecer e sugerir diferentes caminhos de execução para os projetos mais incríveis e desafiadores.

Isso me faz pensar que não é apenas necessário, mas também relevante estarmos inseridos nesse contexto, ter acesso às discussões e conexões que acontecem lá. É enriquecedor ver os cases premiados e, mesmo que minimamente, compreender como foi a operação da campanha. Assim como nossos colegas do time criativo, precisamos ser abastecidos de conhecimento, inspiração, trocas e até entender as facetas da IA que tanto se discute. Ter uma equipe de GPs com um olhar apurado, atento e conectado com as tendências do mercado enriquece os processos e facilita o alinhamento com as diferentes áreas envolvidas no projeto durante a entrega, pois a premiação de Cannes não se trata apenas da ideia, mas também dos resultados da execução.

Por fim, foi emocionante, como profissional amante do cinema e também inserida no audiovisual, ter a oportunidade de ouvir Spike Lee ao vivo. Mas é ainda mais emocionante e revigorante profissionalmente enxergar o quanto há espaço, conhecimento, oportunidades e conexões para aqueles que, com orgulho, fazem parte do time de operações no Festival de Cannes. Espero que meus colegas também tenham a oportunidade de vivenciar essa experiência em suas carreiras.

Daniele Moura, senior project manager na SOKO