Quem diria, o consumo de conteúdo digital está em xeque. As previsões dos gurus que disseram há pouco tempo que o digital seria a mídia dominante e, provavelmente, mataria todos os meios caem por terra diante do cenário atual. Sem querer parafrasear a música do Chitãozinho e Xororó, mas são muitas ‘evidências’.

A Universidade de Oxford escolheu em 2024 ‘brain rot’ (cérebro apodrecido, em uma tradução livre) como o termo do ano. O conceito significa nada mais nada menos do que a sensação de deterioração mental provocada pelo consumo excessivo de conteúdo digital superficial.

Diversas pesquisas já mostram que o consumo digital excessivo causa vários danos à saúde mental. A partir de 2020, com o isolamento provocado pela pandemia de Covid-19, as pessoas recorreram à internet e se conectaram via redes sociais. E esse comportamento parece que veio para ficar em alguns.

Mas especialistas alertam sobre os sérios efeitos do isolamento social em razão do aumento de casos graves de depressão e grandes eventos de inovação como o SXSW (South by Southwest), realizado no Texas (EUA), discutem o surgimento da chamada epidemia da solidão.

Estudos revelam os indicadores desfavoráveis. Um relatório da OMS, baseado no Estudo de Carga Global de Doenças (GBD), por exemplo, estimou que a pandemia de 2020 provocou um aumento de 27,6% nos casos de transtorno depressivo maior e 25,6% nos casos de transtornos de ansiedade no mundo todo – só no primeiro ano da crise sanitária.

Pesquisas também apontam uma tendência de as pessoas preferirem ficar em casa a sair para encontrar os amigos e familiares no presencial. Onde fomos parar? Como assim, não gostar de interagir com as pessoas, sair com os amigos e familiares, jantar fora, ir ao cinema ou teatro para ficar em casa? A lógica inverteu mesmo.

E as marcas entraram no debate. Estudo feito pela Heineken (que está com a campanha global ‘Social off socials’) em parceria com a Onepoll, que analisou os hábitos de 17 mil adultos em diversos países, revela que 32% dos entrevistados afirmaram que já adiaram encontros presenciais com amigos, e 18% não conseguem sequer cogitar a ideia. Cerca de 40% dizem conversar mais online do que pessoalmente.

E agora com a entrada da inteligência artificial no jogo, o cenário embaralhou de vez. Um estudo realizado pela Talk IA em 2024 reforça o impacto: uma em cada dez pessoas declarou usar um chatbot como amigo ou conselheiro emocional. Um dos entrevistados, por exemplo, é um pai de 46 anos que, por se considerar uma pessoa “fechada”, diz conversar mais com a IA do que com seres humanos.

O cenário só piora. A pesquisa também aponta para um comportamento característico da geração Z: 42% dos entrevistados confirmaram usar tecnologia de forma intensa tanto na vida pessoal quanto na profissional. Segundo o estudo, esse estado de hiperconexão constante, sem pausas ou filtros, tem gerado o que alguns especialistas chamam de sedentarismo mental.

Brain rot não chega a ser um termo médico, mas seu uso como metáfora reflete os sintomas reais da vida digital. “O cérebro roto vai aparecer como uma espécie de alienação, de impossibilidade de concentração, de impossibilidade de presença em relação ao outro ou até de impossibilidade de produzir uma história”, disse o professor Christian Ingo Lenz Dunker, do Instituto de Psicologia da USP, ao repórter Vitor Kadooka, autor de ótima matéria de capa do propmark sobre os impactos do brain rot na vida real.

DPZ
Confira nesta edição entrevista com Benjamin Yung, presidente da DPZ, que, conforme conta a editora Janaina Langsdorff, pode não ter as iniciais de seu nome encravadas na agência, mas afirma que a herança deixada por Roberto Duailibi, Francisco Petit e Jose Zaragoza se reflete em tudo o que fazem na agência. Ele fala em consolidação da nova DPZ.

Frase
“Não espere pelo momento perfeito, aproveite o momento presente”
(autor desconhecido).

Armando Ferrentini é publisher do propmark