Em meados de 2010, eu tive uma experiência inusitada. Com meu paladar peculiar, fui ao Mc Donald’s e pedi um combo do Cheddar McMelt apenas com pão, carne e queijo. Aparentemente deveria ser algo simples, se não fosse a resposta recebida, “senhora, não vem queijo no Cheddar McMelt”.

Um pouco confusa repeti meu pedido e a resposta foi “senhora, no Cheddar vem pão, hambúrguer, cebola caramelizada e creme cremoso de cheddar”. Com fome, pedi apenas que retirassem a cebola. E guardei essa história em uma caixinha de memórias.

Três anos depois, vi essa cena se repetir com a pessoa que fazia seu pedido antes de mim. Quando chegou minha vez, como boa comunicóloga, me conectei com a colaboradora da rede de fast-food com empatia em uma breve troca de palavras sobre o episódio. Então, pedi licença para uma pergunta e, com seu consentimento, fiz o que você possivelmente está torcendo para que eu tivesse feito! Pedi que ela me dissesse o que é cheddar.

“Moça, que loucura. Cheddar é queijo!”? Rimos um pouco e trocamos algumas considerações sobre a importância de pensar além daquilo que o mundo corporativo nos limita. E a trivialidade voltou para a caixinha de lembranças.

Até que, em meados de 2014, com apenas 25 anos, assumi meu primeiro papel de liderança. Na época, li um livro que se chama “12 dias para atualizar sua vida”, do autor Tiago Brunet, especialista em desenvolvimento pessoal. E imediatamente a estrutura proposta pela leitura me remeteu a um paralelo entre o que vivi nas experiências na lanchonete e o que vivencio dia a dia no trabalho - por um lado tendo os clientes como chefes e, por outro, o time como motor propulsor dos resultados.

Nem só de dois hambúrgueres, alface, queijo, molho especial, cebola, picles e um pão com gergelim é feito um Big Mac. Há ingredientes nas entrelinhas. Há expectativas na experiência. E, mais do que ensinar seu time a listar do que é feito um lanche, deveria ser primordial não tentar esmagar sua inteligência e sabedoria para que caibam em uma receita pré-pronta de como vender seu produto.

Nem só de criatividade é feito um projeto de comunicação. A mistura é muito mais complexa e demanda acesso a repertório, habilidades, argumentos e ferramentas para que cada pessoa possa continuar a ser si próprio e a externar sua inteligência, apesar de todas as asas que o mundo corporativo nos poda e mesmo quando o cliente tenta lhe manter dentro de uma caixinha chamada briefing.

Apesar de vender comunicação, o como fazer comunicação é a minha real inspiração. Entender e ensinar todos os dias para quem faz a comunicação acontecer que, como já dizia Tiago Brunet, para baixarmos novos aplicativos (habilidades) em nosso sistema (mente) devemos ter bateria suficiente (inteligência emocional), espaço na memória (apagar o velho e dar espaço ao novo) e estar conectado a uma boa rede de dados (rede infinita de conhecimento e informações - a sabedoria).

O que me faz querer estar lá todos os dias é o prazer de ser meio para o desenvolvimento de tantas jovens profissionais, como um dia fui, que cruzam a minha história e eu espero inspirar a ter a sabedoria de colocar e interpretar as necessidades dos seres humanos (e, principalmente, as próprias) antes da lista de do’s e dont’s de uma marca. Porque, no final, não importa se na ficha técnica cheddar é ou não queijo, desde que alguém sorria na mesa, satisfeito, por ter sido entendido e compreendido ao morder seu lanche favorito, que alguém sorria atrás do balcão, satisfeito, por, à sua maneira, ter aplicado o treinamento e a experiência do dia a dia para entregar o resultado que se espera.

Naty Sanchez é owner e diretora de operação na Growth Comunicações