É interessante pensar como a cultura brasileira foi influenciada pelos norte-americanos durante muitos anos, mas agora parece que essa tendência começa a mudar de direção. Se no passado a maioria das referências dos jovens vinha de filmes americanos e europeus, hoje em muitos casos ela vem de outro continente: o asiático.
A onda asiática no Brasil é puxada, sobretudo, pelo fenômeno dos K-dramas, K-pop, K-movies e tudo que o se refere à cultura da Coreia do Sul. Os primeiros contatos dos brasileiros com a música sul-coreana começaram em 2012 com ‘Gangnam style’, do cantor Psy. O videoclipe supera 5,5 bilhões de acessos no YouTube. O hit foi o primeiro a atingir um bilhão de visualizações na plataforma e gerou mais de US$ 8 milhões em receita publicitária, segundo dados do Google.
Mas, hoje, bandas de k-pop como Stray Kids, que está em turnê mundial e acaba de passar pelo país, são o hype da vez. Provocam uma histeria entre meninas parecida com o que a boy band Menudo foi capaz de fazer nos anos 1980. Desde Netflix, Globoplay e até a TV aberta como a própria Globo se renderam ao fenômeno cultural sul-coreano.
Em 2023, a Netflix, por exemplo, divulgou planos para alocar um investimento de US$ 2,5 bilhões para produções sul-coreanas até o ano de 2027. Dados do ‘Duolingo Language Report 2024’ mostram que o coreano é a sétima língua mais estudada no aplicativo.
Na Globo, a dramaturgia sul-coreana chegou à programação da emissora no ano passado. A novela ‘Volta por cima’ inseriu um K-drama em seu roteiro, por meio da personagem Tati (Bia Santana), fã do K-entertainment.
Matéria nesta edição mostra como as marcas estão surfando nesta onda. O setor de beleza foi o que agiu mais rápido ao perceber a admiração dos hábitos sul-coreanos principalmente pelas brasileiras. Nas redes sociais, uma das trends da vez é o truque das coreanas para conquistar uma pele perfeita.
Em outubro do ano passado, O Boticário estampou o nome da rede em coreano na fachada de sua flagship em Pinheiros, em São Paulo. Já a empresa de cosméticos Embelleze produziu a mininovela inspirada nos K-dramas ‘Perfume de dorama’ para lançar os seis itens da linha de tratamento ‘Novex Ritual Dorama’, com óleo de tsubaki.
Para Tatiana Pacheco, COO da Cheil Brasil, agência que chegou ao mercado nacional em 2003 com trabalho voltado para a Samsung, uma das principais gigantes sul-coreanas, o fenômeno tem conexão com o perfil do brasileiro, de ser early adopter, sempre aberto a novas tecnologias, plataformas e trends.
Mas não é só a Coreia do Sul que tem chamado a atenção dos brasileiros. Os japoneses são velhos conhecidos do país. Montadoras como Honda e Toyota estão entre as marcas de automóveis preferidas por aqui.
E, mais recentemente, a China também busca ampliar a conexão com o Brasil, seja por meio de acordos comerciais, com o Brics, ou através de suas marcas de carros BYD e GWM, que conquistaram o país com a difusão de seus modelos elétricos.
Tanto a BYD como a GWM se tornaram novos anunciantes no país. A primeira é atendida pela We, enquanto a GWM acaba de entregar a sua conta publicitária para a Artplan e a parte digital para a Jellyfish.
Pensando em como traduzir essa influência asiática sobre a cultura brasileira em oportunidades para o mercado publicitário, o propmark inicia nesta edição a publicação da coluna Conexão Ásia. O espaço é assinado pela jornalista e colaboradora do jornal Mirela Tavares, que traz nesta primeira semana uma entrevista com Bob Wei, fundador e diretor-presidente da Chinarte, agência especializada que divulga a cultura chinesa entre os brasileiros.
Frase: “Não há que ser forte. Há que ser flexível” (Provérbio chinês).
Armando Ferrentini é publisher do propmark