Qual o seu melhor trabalho?

O próximo, disse Washington.

Publicitário bom gosta de uma missão impossível, adora uma segunda-feira com novidades e fica estressado quando não tem um desafio importante sobre a mesa.

Segunda pós-Cannes então. É quando a gente faz propósito, resolve ter disciplina e promete ser melhor do que o ano que passou.

É assim que percebi grande parte do trabalho que vi exposto no Palais. É como se fosse um espelho do momento anterior, pois representa o que de melhor aconteceu, sem garantia nenhuma que vai influenciar o que virá.

Costumo dizer que os festivais de prêmios da publicidade são como olhar estrelas. Eles premeiam o passado.

O brilho delas veio do ano anterior, de quando o trabalho foi originado, criado, concluído e veiculado.

O mundo hoje é outro. É bom aprender com essas soluções criativas, mas o foco é o presente.

O que está acontecendo agora. Ou o que vai acontecer imediatamente agora. É nisso que a gente pensa pós-Cannes.

Na mitologia, Sísifo é a melhor figura filosófica que existe para falar do publicitário e da função da publicidade.

Você passa o dia todo levando a pedra para o alto da montanha e ela ao final rola para baixo novamente.

Filosoficamente pouca gente questiona o porquê de a montanha precisar de uma pedra a mais. E que descuidado esse Sísifo, que deixa a pedra cair todo dia, logo no final.

O ano publicitário começa agora num mundo um pouco mais caótico, repleto de desafios sociais, econômicos e de mercado para atuarmos e ajudarmos a resolver.

O entusiasmo é grande e o aprendizado deste ano em Cannes foi gigante.

Sobre o mito de o festival ser gringo e não entenderem a publicidade brasileira, identifiquei diversas campanhas que poderiam ser brasileiras pela sua linguagem e alegria, vindas de diversas partes do mundo.

Como os brasileiros vêm de toda parte do mundo, vale. Cannes é a cara da minha aldeia na verdade.

A linguagem pode ser gringa, mas o ser humano é o mesmo que saiu das cavernas. Em outras palavras, publicidade brasileira é global e vice-versa. O restante é marketing.

Algumas dessas ideias:  a nova embalagem de marca própria alemã com o preço gigante estampado na embalagem para frisar o preço baixo.

Incrível, poderia ter sido feita por qualquer mercado aqui com marca própria e um proposito de preço baixo.

O ticket de trem na Índia que funcionava como ticket de loteria e fez a compra de passagem se multiplicar.

E o Grand Prix de Vaseline, obra do Marco Versolato (o segundo consecutivo para Unilever e Singapura), que fez a verificação científica de todos os mitos de internet sobre a vaselina. Imperdível, simples, efetivo e multicultural.

Ideias simples, bem executadas e inspiradoras sobre a inventividade humana com a qual somos todos comprometidos.

Essa é a sensação que tenho dessa edição, além de um orgulho enorme em ser brasileiro ao ver a homenagem que fizeram para o Washington que, por falar em mitos, sempre soube voar alto, mas nunca tão próximo ao sol.

Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech&Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br