A descoberta de uma rede criminosa de influencers, com milhões de seguidores, acende um sinal amarelo (ou vermelho) para o mercado anunciante.

Se a prática de entregar marcas importantes aos cuidados de celebridades das redes sociais, para que elas criem e divulguem conteúdo, a seu modo ou seu estilo, vez por outra traz alguma dor de cabeça, como na ocasião em que pecuaristas se revoltaram com o Bradesco, por ver a marca associada a influenciadoras vegetarianas, imagine-se no caso de ter de conviver, no mesmo canal, com anúncios dos tigrinhos da vida.

Não surpreende o desvirtuamento desses meios. Nascidos e criados na selva digital, viraram campo fértil para o enriquecimento fácil, à margem da lei.

Graças à exploração mal-intencionada do seu potencial de polêmica, a regulamentação séria das redes tem sido demasiadamente lenta para dar o necessário basta à tamanha algazarra.

É exatamente essa demora que permite que a teia do crime seja tecida incansável, descarada e impunemente. É claro que a enganação através da mídia não é cria do digital. Por anos, meios tradicionais foram utilizados para ludibriar e lucrar, através da oferta de produtos inócuos, anunciados como cura de patologias, ou serviços de previsão do futuro, os famosos “ligue djá”.

A diferença é que a telepicaretagem foi barrada, ainda quando ensaiava se tornar um pilar de sustentação econômica de certas emissoras. Foi mais fácil a interrupção dessa escalada, porque as leis eram claras e a ação punitiva mais simples.

Havia, ainda, um outro risco que as emissoras trataram de evitar, o desconforto das marcas sérias em conviver com uma espécie de submundo mercadológico.

A internet, por sua vez, vem sendo utilizada pelo crime, como uma terra sem lei. O resultado nefasto dessa libertinagem de expressão vai muito além da enganação pura e simples dos incautos. Hoje se tornou o núcleo em torno do qual passaram a gravitar grandes negócios, ligados ao futebol e ao showbiz, por exemplo.

Todos bebendo das fontes ilícitas construídas e operadas por influenciadores, que negociam livremente suas mercadorias mais valiosas: milhões de seguidores.

Nesse grande caldeirão malcheiroso, celebridades das mais diversas atividades misturam-se a marcas de jogatina, parte delas operada por criminosos.

Tudo parece estar dando muito certo, porque o negócio não para de crescer. No patrocínio dos clubes ou de megashows, por exemplo, marcas tradicionais vão perdendo espaço para operadoras de apostas, algumas sob investigação.

É preocupante essa evolução desses ambientes tóxicos, no interesse de dezenas de milhões de brasileiros, bem como as evidências crescentes de que celebridades nascidas na mídia digital vão se tornando companhias inconvenientes para marcas com histórias respeitáveis.

Não é tarefa simples, atualmente, fazer escolhas para o desenho de um planejamento estratégico digital. Número de seguidores de alguém nas redes, que já foi um indicativo fundamental para tomadas de decisão, hoje pode significar um risco importante.

O fato é que há uma preocupante contaminação dos meios digitais pelo crime organizado. É preciso tomar muito cuidado antes de colocar a cara por lá.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing (stalimircom@gmail.com)