Sempre que viajo, gosto de chegar ao hotel e ligar a TV em canais locais para entender a cultura, os programas e, é lógico, assistir à publicidade de determinada região ou país. Faço isso há muito tempo e tento continuar fazendo. Tento. O problema é que a TV não quer mais que você assista TV — nem os canais abertos, nem a TV a cabo. Aliás, o que é TV? O aparelho, o conteúdo, um monitor?

O aparelho de TV atual é feito para o streaming. Tem botão direto para a Netflix, Prime Video, Globoplay etc. Mas, para colocar na TV aberta ou a cabo, dá um trabalhão danado. Que botões devemos apertar mesmo? Para essa missão, devemos memorizar uma sequência de clicks.

Quase uma senha. Na minha última viagem, estava no hotel e tentei de tudo para assistir TV, mas não consegui. Liguei para a recepção, enviaram alguém ao meu quarto para me ajudar e, ainda assim, não conseguiram.

Tive de clicar no botão da Netflix contra minha vontade. É tipo quando você não quer ir ao fast-food, mas ele te salva pela conveniência.

Outro dia, em casa, pedimos ao nosso filho de 10 anos para ele colocar nos canais de TV linear, e ele não soube como fazer. Para ele, TV é apenas um aparelho, um hardware, onde geralmente ele assiste Netflix e YouTube e não uma sequência de canais abertos ou fechados que geram conteúdo. Falar pra ele tirar do streaming e colocar na TV, pareceu castigo.

Na minha opinião, as emissoras de TV deveriam, sim, estar preocupadas com o digital e o streaming, mas também com o fato de que assistir à TV convencional ficou difícil e caro. Onde está o botão “TV” no controle remoto? Se buscamos praticidade em tudo, está difícil encontrá-la. O acesso está escondido, e tem gente que nem se lembra mais como assistir à boa e velha TV.

Infelizmente, a conveniência muitas vezes é mais forte do que a qualidade, a TV nunca deixou de produzir bom conteúdo, mas, para os padrões ultracontemporâneos, tem um empecilho a mais, aquela coisa de eliminar clicks para um site ou e-commerce para deixar a jornada mais intuitiva e simples, não vale só para o mouse e teclado, vale e muito para o controle remoto.

Nem vou entrar no assunto que essa praticidade extrema tem um efeito muito maléfico para as crianças e para nós também, do tipo, “quero agora e posso agora” e também de assistir zilhões de conteúdos picados estilo shorts e não terem mais paciência para uma narrativa mais longa e estruturada.

Essa coisa de assistirmos só o que escolhemos e não mais sermos expostos ao acaso a conteúdos aleatórios, me assusta um pouco.

Na era do excesso de conteúdo, os canais abertos e fechados deveriam facilitar o acesso, deixando à vista a possibilidade de assistir TV. Não adianta convidar o influenciador da moda para o programa se eu nem sei como chegar ao canal para assistir.

E, olha, no meio de tanta coisa ruim (e de muita coisa boa também) que é produzida para o streaming e o YouTube, a TV ainda teria muita lenha para queimar — se fosse fácil chegar até ela.

Botãozão de TV já no controle remoto!

Caio Aidar é CEO da CDR+