Nada poderia ser mais inspirador que isso! Quando aceitei o desafio de assumir o cargo de head de comunicação no Instituto Terra e estruturar essa área da ONG há dois anos, eu me encontrava quase em depressão com o nosso mundo e a humanidade. Para minha grata surpresa, isso mudou rapidamente quando vi pela primeira vez a imensidão de árvores nativas da mata atlântica que foram replantadas em uma terra que havia sido tão degradada que sequer o capim era capaz de vingar em 1998, quando a antiga fazenda de gado do pai do fotógrafo Sebastião Salgado, nosso fundador, foi convertida em Reserva Particular do Patrimônio Natural e se transformou no Instituto Terra.

Nosso mercado de marketing pode ser desanimador por vezes. Se é verdade que somos profissionais em horário comercial — e muitas vezes além dele —, também somos cidadãos em tempo integral e nem sempre encontramos motivação nas marcas e produtos para os quais criamos campanhas. Isso, que acostumamos a chamar de bloqueio criativo, muitas vezes é apenas consequência de uma falta de propósito.

Recebemos briefings fechados, sem espaço para agregar muita coisa à ideia dos clientes. Ou então, excessivamente abertos, e buscamos dentro do próprio guide do cliente por uma inspiração que o faça se destacar. Entre a cruz e a espada, estamos sempre tentando inspirar os outros quando nós próprios estamos carentes de inspiração.

Se hoje levanto para trabalhar com alegria é porque pude ver de perto aquilo que uma única organização realizou em 25 anos: são mais de mil hectares restaurados com mais de 3 milhões de árvores que se estendem até o horizonte. Debaixo da copa dessas árvores encontra-se uma vasta diversidade de animais de todas as espécies, que retornaram com a jovem floresta. A água voltou a jorrar das nascentes, formando córregos profundos. Tamanha é a abundância de vida que as palavras não fazem justiça.

Como se não bastasse — porque a verdade é que não basta —, firmamos uma parceria neste ano com a Cooperação Alemã, por meio do KfW — uma espécie de BNDES alemão —, para recuperar mais 4.200 nascentes em pequenas propriedades rurais da bacia do Rio Doce, além de implementar ao menos 2.200 hectares de agroflorestas. Unidas, estas ações são o perfeito exemplo do que significa a tão urgente transformação socioambiental de que precisamos: recuperação de recursos hídricos, proteção do solo e irradiação de biodiversidade como forma de incrementar a renda e diversificar a produção dos agricultores locais. Uma abordagem completa, que enfrenta a questão do uso sustentável da terra, da segurança alimentar e hídrica e se conecta a diversos ODSs da ONU.

Ao leitor desta coluna, que certamente já vivenciou inúmeras vezes o bloqueio criativo, se me cabe deixar aqui uma mensagem para os momentos difíceis é que considerem buscar a inspiração na sinergia que pode existir entre os seus clientes e projetos de interesse comum da sociedade. ONGs como o Instituto Terra estão sempre buscando parcerias que potencializem os seus impactos; os consumidores, que antes de tudo são cidadãos, estarão sempre buscando marcas que representem os seus anseios, principalmente por meio de ações concretas. À nós, cabe ser o elo entre esses stakeholders e assim resgatar o encantamento pelo nosso trabalho, pelas pessoas e pelo nosso planeta. Se esse tipo de ação ainda não faz parte do repertório dos seus clientes, não tenha medo de explorar esse “mato”. Garanto que nele reencontrarão um propósito e muita coisa mais.

Mário Constantino é head de comunicação do Instituto Terra