Assim como em todo o mercado de trabalho, a propaganda abre pouco espaço para os profissionais 50+. Quando as pessoas chegam a uma certa idade, já começam a se preocupar com uma possível substituição na empresa ou enfrentam muito mais dificuldade para encontrar um trabalho na disputa com os mais jovens. A barreira aumenta ainda mais quando se chega aos 60 anos.

Definitivamente, não deveria ser desse jeito. Os profissionais mais velhos têm a seu favor a experiência no currículo. No caso de um criativo, por exemplo, o repertório é um fator que conta muito na hora de ter uma ideia e desenvolver o projeto buscando referências na vivência mesmo. Além disso, tem a questão da troca geracional.

Em matéria nesta edição, líderes ouvidos pela reportagem reconhecem a importância estratégica que os 50+ oferecem, com diversidade de experiências para agregar perspectivas na resolução de problemas e maturidade na tomada de decisões. Mas a realidade nas agências é outra. O percentual de seniores é muito pequeno.

Na VML, uma das poucas agências que abriram esse número, a população 46+ representa 10% do total do time. “Seguimos monitorando e buscando o equilíbrio. Isso nos permite aproveitar a diversidade de perspectivas que diferentes gerações trazem. Ao construir equipes que incluam pessoas com diferentes trajetórias de carreira, teremos mais pontos de vista e, como resultado, uma visão mais estratégica e soluções inovadoras”, diz Camila Arruda, chief people officer da agência.

Provavelmente, as empresas ainda não se deram conta de que a expectativa de vida aumentou nos últimos anos e haverá cada vez mais idosos no Brasil.

As projeções de população do IBGE mostram que, de 2000 para 2023, a proporção de idosos (pessoas com 60 anos ou mais) na população brasileira quase duplicou, subindo de 8,7% para 15,6%. O total passou de 15,2 milhões para 33 milhões, no período. Em 2070, cerca de 37,8% dos habitantes do país serão idosos, o que corresponderá a 75,3 milhões de pessoas com 60 anos ou mais.

Na publicidade, talvez uma das vantagens para os chamados silver heads é que eles
conseguem atuar como especialistas e muitas vezes de forma mais consultiva, como autônomos ou independentes. “Mas a realidade da demografia brasileira vai exigir que as instituições  avaliem como incorporar e manter esses perfis”, completa a executiva da VML.

Presente em toda a sociedade, o etarismo torna invisíveis talentos com ideias alinhadas aos anseios de uma parte importante dos consumidores.

“Com o crescimento da população 50+, essa faixa etária representa não apenas um grupo demográfico relevante, mas também um recurso valioso para atender às demandas de um mercado cada vez mais diverso e em transformação”, pontua Paula Molina, diretora de recursos humanos da agência WMcCann, que considera ter colaboradores da geração 50+ como fundamental para as organizações.

A conquista do Globo de Ouro de melhor atriz por Fernanda Torres pela atuação no filme ‘Ainda estou aqui’, dirigido por Walter Salles, que também foram indicados ao Oscar em três categorias, é um exemplo de como a vitalidade não vem só dos jovens.

“Olha, agora mesmo aconteceu a premiação do Globo de Ouro e Fernanda Torres tem 59 anos, Walter Salles tem 68, Selton Mello 52 (que também atua no filme) e seguem brilhando. É a prova de que a experiência não é antagônica ao frescor. Pelo contrário. E outra, eles vêm sendo bons desde que nasceram na profissão. Quem é bom, é bom”, analisa Manir Fadel, CEO e CCO da Grey Brasil.

Por outro lado, o mercado avalia que os seniores precisam se manter atualizados em relação às novas tecnologias, uma vantagem largamente atribuída aos mais jovens. Mas vale lembrar que a troca de experiências é o que enriquece um time.

Frase: “Nos Estados Unidos, o impossível é o que fazemos de melhor” (Donald Trump, 20/1/2025)

Armando Ferrentini é publisher do propmark