De cara, já esclareço que a sacada Eu S G não é minha. Foi mais uma expressão criativa do amigo Dil Mota, ao qual pedi autorização de uso. Uma simples e curta expressão – como toda boa ideia criativa deve ser – que resume muita coisa. O sentido implícito nessa simples conjunção de letras é só um: o sucesso do movimento ESG não depende de governantes de todo o mundo, nem da ONU, tampouco de instituições ou mesmo das empresas.
O sucesso desse movimento tão importante depende de cada um de nós. Sim, um governante também é uma pessoa; diretores, decisores e influenciadores também, antes de mais nada, o são. Você, eu, todos estamos impactados e exigidos.
Parece óbvio, mas nós, seres humanos, tendemos a ver o problema como sendo
do outro. A corrupção incomoda, mas alguns não pensam nela quando adotam atalhos e jeitinhos para resolver problemas corriqueiros. Já vi gente que bate no peito enaltecendo sua honestidade, mas não
hesita em tomar a decisão de usar de recursos “não ortodoxos” para resolver o estouro de pontos da sua habilitação para dirigir, por exemplo.
Outros que acham que dar uma “caixinha” para um funcionário público acelerar uma solução ou para o guarda de trânsito, para livrar uma multa, não é um desvio ético. Esses mesmos são aqueles que, na rodinha de conversa, se dizem horrorizados com a corrupção na esfera governamental. São aqueles que se dizem cansados com tanta corrupção por aí.
“Esse país é assim mesmo”, dizem, sem pestanejar. Desnecessário lembrar que o que sustenta o pilar “G”, de Governança, do ESG é uma atitude ética, honesta e transparente de todos, sem condescendência com pequenos pecados, tratados como se fossem um mal menor para facilitar nossa vida.
O mesmo acontece na vertente “S”, de Social. Muitos se declaram frontalmente contra qualquer tipo de racismo, mas fazem uma ponderação ridícula quando o tema envolve elementos da sua família. Não são racistas, mas preferem cada um na sua turma. Acham desnecessárias cotas e ações afirmativas, dizendo que o que deve valer é a capacidade de cada um, independentemente da cor, esquecendo-se do handicap educacional das pessoas negras no Brasil. E a questão de gênero?
Da boca pra fora, muitos homens defendem a igualdade de gêneros e o empoderamento feminino, mas basta ser preterido em uma posição de trabalho ocupada por uma mulher para derramar um monte de argumentos retrógrados para questionar a escolha. Quando a mulher se impõe, é raivosa, quando o homem bate na mesa, é machão!
O mesmo acontece na convivência com pessoas identificadas com o perfil LGBTQIA+. Quantas vezes vemos piadinhas escondidas nos corredores das empresas, relacionadas a esse público. O mesmo acontece com pessoas mais velhas, invariavelmente taxadas de ultrapassadas pela simples aparência, levando apelidos de “tiozinho” ou coisa pior.
Do lado da vertente “E”, relacionada às questões ambientais, ficamos horrorizados com o lixo que invade ruas e rios da nossa cidade, mas quem se preocupa em separar seus resíduos diários para garantir um reaproveitamento adequado e evitar o crescimento de lixões?
Quem se preocupa com as embalagens de produtos e com a forma de fazer compras visando reduzir a geração de lixo na origem? Quem adota um uso racional de água sistematicamente, encurtando banhos e fechando torneiras nos intervalos de uso? Pois é... O errado é sempre o outro.
A atitude ESG que esperamos de governantes e gestores de empresas deve começar conosco, com cada um de nós, como indivíduos. Estamos perante uma pressão – e, ao mesmo tempo, uma oportunidade – histórica pela adoção de práticas social e ambientalmente responsáveis, além de uma postura ética e honesta, de forma incondicional.
O momento ESG é muito relevante e não podemos desperdiçar essa chance. Isso tudo realmente pode mudar o mundo. Mas começa com a gente se olhando no espelho e se questionando fortemente, antes de apontar o dedo para outros.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br