Estadão, 16 de agosto de 2024. Chamada de capa: “Número de jovens internados por ansiedade sobe 136% em 10 anos”.
Mesmo não sendo médico, tinha certeza que isso ia acontecer. Os nascidos de 1995 para cá encontraram um mundo radicalmente diferente de seus pais e avós, e ainda em processo de formação. Foram crescendo na medida em que esse mundo evoluía, aceleradamente. Assim, a chamada geração Z não tem absolutamente nada a ver com as que a precederam. Pais e avós aquietados com “pacifiers” – chupetas. Geração Z, aquietada com smartphones...
Segundo o Ministério da Saúde, nos últimos 10 anos os registros de internações relacionadas a estresse e ansiedade mais que dobraram, 136%. Segundo a coordenadora do estudo sobre a ansiedade na Universidade Federal de Uberlândia, Luciana Saraiva, hoje, em Minas Gerais, 60% dos estudantes revelam muitos graus acima das médias anteriores de ansiedade.
As pessoas, muitas, colocam a culpa no smartphone, nas redes sociais, e em outros gadgets e manifestações. É muito mais profundo. Como tenho comentado com vocês, a causa é estrutural. O tsunami tecnológico que destruiu o mundo onde nós, mais velhos, nascemos, dando lugar, e em processo de construção, a um mundo absolutamente novo. Nós, mais velhos, não sentimos tão fortemente, embora o nosso grau de ansiedade tenha aumentado, também, porque fomos nos adaptando, em paralelo às mudanças que iam acontecendo em nosso entorno. Diferentemente da geração Z, que quando abriu os olhos o caos já estava instalado, e olhavam para nós e não entendiam, como seguem não entendendo, porque nos comportamos do jeito que nos comportamos...
É isso, amigos. Os chamados gadgets – computadores, tablets, smartphones, e outros, são a ponta do iceberg. O iceberg de verdade é o tsunami tecnológico, a crise estrutural e não passa daqui a pouco e nunca. Só cresce, acelera, prevalece... Isso posto, e repetindo, paciência, amor, compreensão... Enquanto isso, nós... e além de... velhos... obesos!
Em poucos anos, a população do Brasil passa por um envelhecimento radical, e a caminho de um crescimento espantoso da obesidade. Em síntese, uma maioria de velhos e obesos. Sobre o envelhecimento, todos os dias as plataformas repercutem os resultados do Censo, onde segue despencando o número de filhos por casal, enquanto vivemos mais, e assim, o envelhecimento da população é definitivo, irreversível, e acelerado. Agora a informação é de que caminhamos inexoravelmente para a obesidade.
Dentre centenas de informações, separei a do doutor em endocrinologia pela Faculdade de Medicina da USP, Antonio Carlos do Nascimento. Em artigo em O Globo, e onde diz, a obesidade não tem cura mas é tratável, ou seja, tudo o que podemos ambicionar é convivermos em paz e harmonicamente com nossa obesidade. Diz Antonio Carlos do Nascimento: “Estudo recente projeta que a população brasileira crescerá apenas até 2041, enquanto outro levantamento elaborado pela Fiocruz concluiu que metade dos brasileiros será obesa em 2044. A primeira sacramenta a perda definitiva do bônus demográfico, e a segunda a prevalência da obesidade entre adultos, de 11,8% em 2006, para 22,4% em 2021.
O mais trágico dessa análise é que faltou iluminar a terceira e cruel decorrência, velhos, obesos, e... pobres! Mais velhos e mais obesos, aceleram-se as necessidades de mais recursos para a saúde, o que significa mais impostos, e jogar a renda média do brasileiro para baixo.
Talvez, numa espécie de premonição coletiva, é o que faz da chamada geração Z, a quem sobrará essa conta, tão desproporcionalmente ansiosa, ou como se brinca hoje, “ANZIOZA”, em relação às gerações anteriores. Curto e grosso, sem querer ser alarmista ou trágico. Está ruim e difícil, e mais para frente, vai ficar pior. Não colhemos o tal do bônus demográfico quando devíamos, mas nossos filhos e netos arcarão com os ônus da velhice e da obesidade. Assim, e em termos estruturais, esse é, de longe, o maior desafio do marketing dos próximos anos... O desafio de as empresas adequarem-se a uma nova realidade. A um mercado menor, obeso e pobre... Por favor, não me venham dizer que sou pessimista... apenas, antevendo e prevenindo...
Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing