Vou lançar um podcast. Vai se chamar História da arte da publicidade.
Esse artigo e o podcast serão a continuação de um artigo que fiz tempos atrás sugerindo a criação de uma disciplina nas escolas de publicidade. Uma disciplina que abordasse profundamente os melhores caminhos mentais para a criatividade de alto nível.
Então vamos lá devolver a indústria aquilo que ela nos dá.
A iniciativa tem mais a ver com o meu eu empresário do que criativo. E é baseada na falta de sentido prático e desperdício econômico em termos jovens profissionais e alguns não tão jovens assim que desconhecem a literatura clássica básica da publicidade. Sem a qual a troca de ideias se complica.
Se alguém aprende fazendo ignorando o que já foi feito, demora mais tempo, erra mais e joga dinheiro fora. Dinheiro de quem contrata e o próprio, pois dificulta a promoção.
Conhecimento em criação tem o mesmo efeito que o conhecimento em cinema, artes plásticas e design. Não há hipótese de algum diretor de cinema novato que pretenda seguir carreira no cinema e tenha algum talento de não conhecer ‘Pássaros’, de Hitchcock, ou ‘Pulp Fiction’, de Tarantino.
Mas existe gente que não conhece a ‘Camisa do Fernandinho, o ‘posto Ipiranga’, ‘A semana’, o ‘Inconfundível’ (o primeiro), a ‘morte do orelhão’. Muito menos quem os concebeu, produziu e gravou.
O não conhecimento é um contrassenso econômico e desperdício de tempo e dinheiro de gente errando, querendo acertar, mas não querendo fazer a lição de casa.
No podcast História da arte da publicidade vou separar várias obras de arte da publicidade para falar sobre elas, comentar de onde surgiram, dos problemas que queriam resolver e das dificuldades técnicas de execução, com gente que participou, produziu ou de alguma maneira viveu a época e o mercado para falar sobre o tema com propriedade.
E sim, aproveitei o nome da disciplina “historia da arte”, pois algumas campanhas fazem a transição de atividade comercial para atividade artística.
Concordo que nostalgia fica bem em romance de época. Publicidade é para frente. Mas para ir para frente mais rápido é preciso dominar o passado e ter repertório.
Aprender com os caminhos mentais já percorridos é uma grande vantagem competitiva.
O primeiro episódio vai ser sobre “a morte do orelhão”, de 1979. Cinema de primeira, cinema bom. Texto de primeiro nível. O primeiro filme de ideia visual que se tem notícia, quando o lance era texto.
Lembro bem o pessoal em casa assistindo aquela cena cinematográfica com cara de surpresa. O filme é espetacular. Um orelhão (telefone público que funcionava com ficha telefônica de chumbo) bambeando as pernas, perdendo o equilíbrio, desfalecendo ao chão como se estivesse numa cena de um livro de Nelson Rodrigues. Cobrem-no com um jornal. A mensagem no final limpa e concisa: “acabou de morrer”.
Bom até hoje. Como, quando, onde, como e por que fizeram? Que caminhos percorreram? Dificuldades? Alguém entendeu e questionou se alguém entenderia? Saberemos.
Vai valer a pena também para discutir caminhos criativos, de até algum sucesso, mas que não precisavam ser percorridos. Aprender com o acerto dos outros é bom, mas aprender com o erro dos outros é bom também.
Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech&Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br