As grandes tragédias costumam ser campo minado para a comunicação. Principalmente, porque a maior parte do que se diz é dito ao vivo, sem direito à revisão ou à edição. Se já é um desafio tremendo para profissionais calejados, imagine-se para os jovens.

Na cobertura das cheias no Rio Grande do Sul, vimos de tudo, mas, principalmente, um esforço gigantesco de levar a dimensão do drama dos gaúchos para o Brasil e para o mundo.

Para demonstrar a importância que dava ao evento, a Globo enviou William Bonner para comandar o ‘Jornal Nacional’, desde Porto Alegre.

Uma surpresa, considerando o padrão engessado com que a nossa maior rede de televisão trata a sua programação, em nome de um rigoroso controle de qualidade.

A ida de sua principal estrela do jornalismo para uma espécie de “aventura”, em meio ao caos em que a região se encontra, revelou, além, naturalmente, de um apreciável esforço de solidariedade, um certo excesso de cuidado para não ter de encarar os riscos do improviso.

Bonner parece não ter vocação para a reportagem, talvez pelo esmero com que busca a perfeição do planejado, cacoete de quem, há anos, tem a reponsabilidade com o conteúdo, a forma e a audiência de uma das marcas mais valiosas da Globo.

A busca por manter, em condições um tanto mais precárias, o ambiente controlado do estúdio tirou da reportagem direta e ao vivo, o brilho e a dinâmica que ela carrega por natureza.

O que se viu foi, praticamente, como ocorre no teatro, sempre a reprodução de alguma coisa exaustivamente ensaiada e detalhadamente estudada e produzida.

Nesse aspecto, a grandeza conceitual da decisão do jornalismo da rede, que se revelou esteticamente acertada para prender a atenção à primeira vista, perdeu em possibilidades de gerar um conteúdo com potencial de surpreender. O equívoco talvez tenha sido o de deixar a ideia no meio-termo, nem o estúdio nem exatamente o “olho do furacão”.

Bonner não estava, por exemplo, comandando o jornal, desde uma “base”, de onde descortinasse e revelasse as condições de um ambiente hostil e arriscado, e dali, acionasse seu pessoal “avançado”, como um general à frente da sua tropa.

Tampouco, ocupava, provisoriamente, os estúdios da repetidora da Globo, em Porto Alegre, de onde faria o que faz melhor, a edição e a apresentação do mais acreditado telenoticiário do país.

Do jeito com que a coisa foi feita, ficou um pouco à semelhança dos políticos que costumam espetacularizar suas entrevistas, vestindo jalecos e coletes salva-vidas, sempre sequinhos e impecáveis.

Mas acredito que o efeito de marketing foi positivo, pela novidade estética, a imagem (ou a informação visual) de um Bonner in loco, ainda que acolhido em ambiente absolutamente seguro, numa cidade tomada pelas águas, não deixa de ser surpreendente e, com certeza, segurou uma grande audiência.

Eu, por exemplo, acompanhei seu trabalho com atenção todos os dias, mesmo saturado com o fabuloso volume de notícias sobre o assunto a que assistia antes do ‘JN’.

Stalimir Vieira é diretor da Base de Marketing
stalimircom@gmail.com