Trabalho no mercado de audiovisual há um bom tempo. Comecei minha jornada em 1993 e, desde o início, fui tocado por uma paixão profunda pela música e pelas pessoas maravilhosas que conheci ao longo desse caminho. A publicidade sempre esteve presente na minha vida. Sou filho de ex-publicitários, casado com uma diretora de TV e pai de duas meninas, que também trilham caminhos ligados a arte.

Lembro-me nitidamente da primeira vez que gravei alguns sons. Foi num walkman Aiwa que tinha microfone e gravava em K7. Eu devia ter uns 8 ou 9 anos e, quando apertei propositalmente o temido REC e coloquei o fone, a sensação de amplificação do som foi marcante. Ouvi minha voz com tantos detalhes que nem me agradaram tanto (rs), e então botei o gravador na janela do 6º andar e veio um mundo de sons: meus amigos jogando bola lá embaixo, o busão passando na rua de cima e todo bafo da cidade. Foi uma experiência que até hoje, quando crio novos sons originais para usar em projetos, me remete a essa brincadeira gostosa de criança que se tornou mais tarde uma paixão pelo áudio.

Minha grande inspiração é o próprio som, com suas nuances e complexidades que se propagam por diversos materiais. Cada superfície, seja madeira, pedra, metal, concreto, oferece uma assinatura sonora única, trazendo à tona memórias sensoriais ricas e diversas. A madeira, por exemplo, com seu calor e ressonância. A pedra, fria e reverberante, traz lembranças de cavernas e remete aos sonhos. Tive o privilégio de trabalhar num estúdio onde havia uma câmara de eco natural desativada, mas ainda estava lá e às vezes abríamos o alçapão e gritávamos para ouvir a voz rebatendo nas paredes de azulejos.

Engraçado que essas vivências de estúdios mais antigos me trazem muitas lembranças de cheiros que também estão nitidamente na minha memória; o olfato desempenha um papel crucial, interligando os sentidos de uma maneira única. O cheiro da fita magnética, impregnado com o magnetismo das gravações, ou o aroma do acetato recém-cortado, repleto de possibilidades e histórias ainda não contadas, complementam a experiência sonora.

Quando respiro o aroma dessas ferramentas de trabalho, memórias de sessões de gravação antigas e a expectativa das novas emergem, criando uma ligação íntima entre o som e o cheiro. Hoje em dia, os materiais são outros e as possibilidades estão aumentando a cada dia com a entrada das fascinantes telas. Temos tudo que tínhamos num prédio numa caixinha de metal.

As novas tecnologias trazem desafios empolgantes e abrem portas para inovações que antes eram inimagináveis. Cada avanço tecnológico é uma nova ferramenta para explorar, uma nova forma de expressar criatividade e uma nova oportunidade para criar experiências sonoras ainda mais ricas e imersivas. Essa evolução constante mantém a chama da inspiração acesa, e é emocionante pensar no que o futuro reserva para o mundo do áudio.

A paixão pelo som, combinada com a curiosidade e a adaptação às inovações, garante que o trabalho no audiovisual permaneça numa jornada emocionante e infinitamente fascinante. Estou curioso para ver e ouvir as novas criações que surgirão desse encontro entre o talento humano e a tecnologia avançada. O som, em sua essência, continuará a ser a minha maior inspiração, renovado e enriquecido a cada novo desafio tecnológico.

Pedro Magrão Cortez é head de finalização de PP da Loud+