“Barcos contra a corrente arrastados incessantemente para o passado”. Scott Fitzgerald

Em momentos de ruptura e transição radical, de ordem estrutural, como estamos vivendo, e sendo otimistas, 50% de tudo o que está sendo decidido hoje tem elevadíssimos riscos de não fazer o menor sentido amanhã.

Muito especialmente as decisões que envolvem a gestão de países, estados e cidades. Decidimos investimentos monumentais cujos resultados e conclusões acontecerão num horizonte não inferior a cinco anos, com elevadíssimos riscos de, quando prontos, concluirmos termos protagonizado uma tolice absurda.

Assim, com esses olhos e entendimento, li, preocupado, a decisão da Companhia do Metropolitano de São Paulo, o Metrô, ter assinado um novo contrato para a linha 2, no valor de R$ 1,98 bi. Em meu entendimento, por sensibilidade, comedimento e cautela, todos os novos investimentos em grandes obras deveriam ser congelados até termos uma visão mais clara do que acontecerá com as nossas cidades e ainda no correr desta década,
em decorrência do tsunami tecnológico, acelerado pela pandemia, que muda por completo a forma de acessarmos serviços, empregos, realizarmos compras, morarmos...

Mas, infelizmente, isso não vai acontecer. E acordaremos na próxima década descobrindo todas as tolices que cometemos, e o dinheiro que enterramos em obras deletérias e perfunctórias. Se tivéssemos juízo, deveríamos evitar qualquer investimento maior projetado para o atendimento de uma necessidade futura que muito provavelmente não acontecerá. Mas, repetindo, não é assim que funciona nossa cabeça coletiva, e, por essa razão, estamos condenados a protagonizar tolices monumentais. Ou seja, esse contrato de R$ 1,98 bi para Linha 2 do Metrô jamais deveria ter sido assinado. Nem mesmo sabemos se o Metrô continuará fazendo sentido diante de uma mais que novíssima realidade.

Como disse Scott Fitzgerald, em sua monumental obra The Great Gatsby, “Barcos contra a corrente arrastados incessantemente para o passado”... Casas Bahia, Uma Nova Tentativa... Na mesma direção e sentido caminha a tentativa de recuperação da Casas Bahia.

Depois de renegociar suas dívidas com seus principais credores – Bradesco e Banco do Brasil –, de R$ 4,1 bi, defender e preservar um caixa de R$ 4,5 bi, reduzir o custo da dívida e aumentar o prazo de seu pagamento de 22 meses para 72 meses, e trocar o comando há um ano, a Casas Bahia se diz pronta para retomar sua trajetória de sucesso. Não será fácil, mas...

Há um ano com novo profissional no comando, Renato Franklin, que traduz a revisão na estratégia no mote, “saímos de uma estratégia de crescer para dar lucro e colocamos em prática o plano de dar lucro para crescer”. Toda a gestão de Franklin começa com dar um passo para trás antes de dar muitos à frente. Isso implicou no fechamento de 55 lojas e quatro centros de distribuição, mais 8,6 dispensas de funcionários. Redução em 1/3 do valor dos estoques, de R$ 6,5 para R$ 4,4 bi. Desistir da venda de alguns produtos no digital, que brilham os olhos e sangram os bolsos, como bebidas, brinquedos, fraldas, produtos de higiene, que, segundo Franklin, “Vender no digital é fácil. Difícil é vender ganhando dinheiro...”.

Nesta derradeira tentativa de resgate e recuperação, a Casas Bahia, descartando definitivamente uma tolice chamada VIA, concentra sua atuação no que deu origem à empresa: eletrodomésticos – linha branca, televisores, smartphones – mais móveis. Segundo Franklin, “desistimos de vender tudo e nos concentrar no que somos mais que competitivos e sabemos ganhar dinheiro...”.

Se tudo caminhar conforme o previsto, na próxima fase dessa espécie de operação resgate, a Bahia pretende concentrar-se no analógico, ao contrário de seus principais concorrentes, conforme matéria na Revista Dinheiro. A partir de 2025, voltar a abrir lojas físicas, e evoluir durante cinco anos. É isso. Não será fácil. Reverter o processo de derretimento de uma empresa que chegou a ter valor de mercado ainda em 2023 de R$ 4 bi, e hoje mal alcança R$ 500 milhões...

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
fmadia@madiamm.com.br