É impressionante como sua perspectiva muda quando você sai da inércia e leva sua cabeça para ver novos ares, ouvir novas histórias, bater papo com novas companhias, observar novos comportamentos, se surpreender com novas atitudes e por aí vai.
Porque tem horas que quando a gente está fazendo a mesma coisa, do mesmo jeito, todos os dias, vendo as mesmas pessoas, falando dos mesmos assuntos, a nossa cabeça não tem estímulo e fica desanimada, sem motivação, sem inspiração, com dificuldade de criar novos planos e novos objetivos...
Mas aí vem aquela certeza de que o mundo é maior que a gente e merece ser apreciado, contemplado, observado. E como é bom ser curioso! A curiosidade nos leva além. É o interesse pelo novo, pelo desconhecido. O impulso de aprender mais. De ampliar o nosso saber. E o bom disso é o elemento surpresa que vem junto e aguça nossa adrenalina. Porque quem fuça, não sabe o que vai encontrar, nem enfrentar. Só sabe que a inquietude, de alguma forma, há de trazer um aprendizado ou uma percepção que pode abrir uma janela para o horizonte, a visão para um novo ângulo.
Meus filhos sempre me falam: “Mas mãe! Você tem de puxar conversa com todo mundo? Nem conhece a pessoa ou sabe falar a língua e já sai batendo papo”. Tá bom, eles até me observam muitas vezes, mas minha vontade de conhecer a história por trás daquela pessoa, daquela vida, é maior que minha ignorância e meu senso do ridículo. E, no final, até eles se surpreendem com o tanto que vem de vida, de energia, de inspiração dessas novas histórias descobertas.
Olha, o mais gostoso mesmo é que a cabeça viajou longe, mesmo sem sair do lugar. Foi imaginando a situação e vivenciando como se fosse um filme. Foi se colocando naquele lugar e sentindo empatia, pertencimento, igualdade, amor ao próximo.
Eu aprendi isso com meu pai, a quem dedico esse texto. Eu tinha uns 13 anos, e já era uma nerd incorrigível. Era um domingo e ele vinha nos buscar para passear porque era o dia dele. Eu disse: “Pai, hoje não posso de jeito nenhum. Tenho prova e um monte de coisa pra amanhã!”. Estava agitada, ansiosa, nervosa. Ele disse: “Não senhora! Isso não vai te levar a nada. Você precisa de uma pausa. Precisa levar a cabeça pra passear. Olhar a cidade, as pessoas caminhando, tomar um sorvete... Quando você voltar, vai resolver só o que realmente importa. E amanhã, vai estar mais calma e focada. Você vai ver como vai até se sair melhor.”
Ele tinha razão. Eu fui e me senti leve de novo. Respirando, vivendo... em vez de sofrendo e me vitimizando.
E o melhor, eram as frases de efeito dele, que acabavam mesmo ficando na nossa cabeça. Ele arrematou: “Tem um provérbio chinês que diz. Se você tem um problema que tem solução, solucionado está. Se você tem um problema que não tem solução, solucionado também está”. Nunca chequei se isso é um provérbio mesmo ou se pelo menos essa frase ou pensamento realmente existe, mas vire e mexe me pego refletindo sobre ele em algumas situações.
Meus filhos falam que sou a “senhora das frases” que eles nunca ouviram ou expressões inventadas. Como a gente herda manias dos pais sem sequer perceber, não? Minha equipe e meus clientes também, vira e mexe, falam isso. O que será que isso tem de projetivo para meu pensamento e minha inspiração, não? Será que essas frases prontas e provérbios levam minha cabeça para passear? Trazem uma nova dimensão para aquela situação ou pensamento do momento?
Eu admiro muito os mais velhos, os filósofos, os cientistas... achados e frases expressam sabedoria e pensamentos. Pensamentos nos movem. Somos únicos e somos necessários. Cada um a seu modo, com cada um com sua bagagem. Cada um com sua história.
Levar a cabeça pra passear nos mantém vivos, pulsantes. E nos desafia, nos inquieta, nos projeta. Nos ensina, nos contesta. Nos ajuda a balizar nossa existência, nosso propósito. Nos faz sentir humanos, como tantos outros.
E você? Já se desafiou hoje a levar sua cabeça para passear? Cuidado com o caminho. Ele pode ser perigoso, mas deliciosamente surpreendente. Só vai.
Ira Finkelstein é chief strategy officer da Cheil Worldwide e CEO da Finkers Branding