Quatro criativos se encontram no dia 2 de janeiro e precisam fazer uma campanha global para uma das marcas mais famosas do mundo. Eles têm apenas 21 dias para criar, aprovar, produzir e lançar o material. A estreia é global.

Apesar de já serem bem-sucedidos, tanto financeiramente quanto em fama global, eles colocam a mão na massa. Eles poderiam terceirizar várias ideias, recrutar outros ótimos criativos para escreverem raciocínios, insights, inspirações etc. Mas preferem fazer eles mesmos.

Eles trabalham pesado por 21 dias, das 9h às 18h, inclusive alguns sábados e domingos, nesse período. O resultado é uma obra prima.

Estou falando dos Beatles, do ano de 1969, quando criaram o álbum “Let it be” e o documentário “Get back”, lançado em 2021 por Peter Jackson.

Vale a pena conferir. Está em exibição na Disney Plus.

Estamos falando de quatro criativos fora da curva, como se Mozart, Beethoven e Bach montassem uma banda. Mas o que gostaria de enfatizar aqui é o esforço pessoal e emocional com que eles encararam o trabalho.

Se você disser, “ah, mas são os Beatles”, eu enfatizaria: se os Beatles faziam tudo isso, já sendo Beatles, o que os criativos de publicidade podem fazer? A resposta é “ter fome”.

O documentário mostra isso. Paul estava faminto, John Lennon e George também.
Criativos querendo emplacar ideias. Ali, no estúdio, os astros se tornam garotos inseguros com suas melodias inacabadas e com suas sugestões criativas de temas e letras.

Há momentos valiosos no filme, como quando Paul cria, na frente dos outros Beatles, a música “Get Back”, para desespero do George.

George, por sua vez com ideias maravilhosas, mas sem tanta voz ativa no grupo. Um ambiente criativo, enfim.

Está tudo ali, o ego, o líder, a química, a dureza da ideia do outro melhor do que a sua. Trabalho e foco.

Mas muito, muito trabalho. Eles tocaram juntos por vários anos em Hamburgo, na Alemanha. Oito horas por dia. Sem burnout.

Parece um assunto geracional, mas é atual e verdadeiro. Quatro pessoas talentosas em 21 dias podem fazer qualquer coisa. Mas é preciso querer muito. Mesmo tendo tudo, ainda é preciso querer de verdade. E arregaçar as mangas.

Mão na massa. Horas trabalhadas. Repertório de tentativas. Gaveta de ideias.

Todos os recursos são importantes, inclusive a repetição de acordes de outras músicas já compostas. E para isso é necessário estudo, dedicação e tempo. É intenso mesmo.

É pra ser, porque o processo criativo de uma música, uma sinfonia, uma série ou uma campanha é o mesmo.

Nada substitui o talento, como diz o slogan do Profissionais do Ano. Mas nada, nada mesmo, substitui o talento com dedicação.

Flavio Waiteman é CCO-founder da Tech and Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br