Só quem não conhece a História pode cogitar a mudança de nome do nosso querido estádio esportivo que o povo paulista e brasileiro se acostumou a chamar de Pacaembu.

A razão principal reside na construção do estádio municipal no elegante bairro do Pacaembu, notório no início de sua construção pela privilegiada localização escolhida pelos engenheiros e expertises da então administração da Prefeitura de São Paulo.

A visão panorâmica que se tem dos jogos em seu gramado permite-nos afirmar que se transformou em exemplo para os estádios que foram construídos após o então chamado Estádio do Pacaembu, oficialmente batizado de Estádio Municipal Paulo Machado de Carvalho.

O nosso Pacaembu durante décadas foi o preferido na cidade de São Paulo, muito pela facilidade de acesso e, repetimos, pela visão extraordinária que os seus frequentadores têm do campo de jogo.

Mas o motivo deste texto reside na estupefação que tivemos com a notícia da recente venda do naming rights do estádio, como consequência da concessão feita em 2019 pela Prefeitura de São Paulo à iniciativa privada para a exploração comercial de um dos locais mais queridos dos paulistanos.

Quanto à concessão em si, nada de errado nisso. O Brasil segue nesse particular uma tendência internacional, com predomínio do particular sobre o estatal, livrando o erário de incalculáveis despesas de manutenção.

Aqui em São Paulo, dentre outras operações, nossa Prefeitura, proprietária do Pacaembu, negociou a concessão total do complexo (estádio e demais locações) a um grupo financeiro internacional, com várias cláusulas de facilitações de uso e de dependências, o que teria permitido aos adquirentes comercializar o nome do estádio.

E é aqui que entra, a nosso ver, uma desfaçatez, pois está se passando por cima do valor imaterial do nome oficial e histórico do estádio, então uma decisão a um dos grandes vultos da História brasileira, paulista e, sobretudo, paulistana: Paulo Machado de Carvalho, cuja participação na vida empresarial e nos seus laços esportivos merece ad aeternum a nossa homenagem.

“Doutor Paulo”, como carinhosamente era chamado por aqueles que o admiravam, teve o seu nome batizando o Estádio do Pacaembu e grandes motivos não faltam para essa e outras homenagens. Com a atual mudança da legislação, permitindo ao poder público, em todo o país, a concessão à iniciativa privada da exploração comercial de equipamentos públicos, está indo de roldão o batismo em tempos idos e que deve ser lembrado, principalmente, neste caso, por quem conhece a nossa História, quando se inicia uma negociação comercial entre o poder público e o particular.

Devido à abundância da legislação a respeito, ainda há tempo de se corrigir essa calamidade, extremamente injusta para a figura inexcedível desse gigante que foi Paulo Machado de Carvalho.

Cito apenas um grande mérito sob a sua responsabilidade direta: a conquista pelo Brasil da sua primeira Copa do Mundo da Fifa, na Suécia em 1958, em uma época em que o nosso país era considerado possuidor de um dos melhores jogadores desse esporte mundialmente admirado. Nosso patrono repetiu o feito na Copa seguinte, em 1962, realizada no Chile.

O nome do doutor Paulo não pode agora sofrer esse descaso e aqui cito um fato que a memória popular muito provavelmente esqueceu. Com a permissão da Wikipédia, relembro que em 2017, “o prefeito de São Paulo, João Doria, manifestou interesse em conceder o estádio à iniciativa privada, em virtude do alto custo de manutenção de todo o complexo, com custo (na época) de R$ 40 milhões a cada quadriênio aos cofres públicos. Essa empresa não poderá mudar os ‘naming rights’, mantendo o nome atual e só poderá realizar no local partidas de futebol, sendo proibidos shows e eventos religiosos”.

Também importante registrar que a Câmara Municipal de SP aprovou a concessão por 35 anos, com a Prefeitura realizando um chamamento público para receber propostas e fixar as regras de concessão. Em setembro de 2019, a Prefeitura assinou a concessão do estádio para o Consórcio Patrimônio SP, depois Allegra Pacaembu, liderado pela construtora Progen, por 35 anos.

O que agora ocorre, motivo principal deste Editorial, é a retirada de uso, pela concessionária, do nome do dr. Paulo Machado de Carvalho, como foi batizado o estádio. Ainda que o nome venha a continuar gravado na entrada principal na Praça Charles Müller, é fato que o estádio passará a ser chamado pelo nome da empresa que adquiriu os naming rights.

O que queremos dizer é que, na prática, o estádio terá outro nome porque assim será chamado, divulgado e utilizado pela concessionária nos eventos que ali vier a operacionalizar.

O nome “Paulo Machado de Carvalho” será apenas um letreiro feito de concreto na fachada da edificação. E, usar isso como argumento para defender que o nome do estádio não será alterado, não passa, com todo o respeito, de mera retórica jurídica.

A comercialização de naming rights não é nada mais que a venda dos direitos sobre o nome, em tradução literal para o português que não precisa de nenhuma interpretação linguística para se compreender.

Em sã consciência, nenhum paulistano, paulista e mesmo brasileiro pode concordar com essa aberração. E, no caso, não se trata de nome de nenhum político, mas do coordenador das duas vitórias seguidas (1958 e 1962) do nosso país em Copas do Mundo.

Naming rights sobre equipamentos públicos, como estádios, praças, monumentos, museus e parques, não devem – ou não deveriam – poder ser comercializados. O que pode e deve ser comercializado é a exploração comercial desses locais, pois a população só tem a ganhar com a iniciativa privada cuidando desses espaços públicos.

Mas, por serem públicos, diferentemente de equipamentos particulares como são outros estádios da cidade de São Paulo, merecem ter seus nomes mantidos como forma de se preservar a nossa História.

Seria o mesmo, mutatis mutandis, que trocar o nome da Praça João Mendes, em São Paulo, por outro nome que pouco ou nada tem a ver com a nossa História. Outros exemplos de manutenção de nomes de grandes patriotas estão espalhados por todo o país, resistindo à saga de imperdoáveis interesses comerciais.

Imagine o leitor a Praça da Sé tendo a sua denominação mudada para o nome de um bem-sucedido empresário do nosso mercado. A praça é do povo, como o condor é dos céus (Castro Alves).

Carnaval
O ano começa depois do Carnaval. Essa frase, repetida pela maioria dos brasileiros no início do ano, ficou para trás. Em vários setores da economia, 2024 começou aquecido e tem sido assim nos últimos anos, inclusive para o setor de publicidade e marketing. Já aconteceu muita coisa na propaganda brasileira em janeiro último. Várias trocas de lideranças em agências e clientes, e movimentação de contas.

Tem publicitário que afirma que praticamente emendou um ano com o outro, de tão agitado que foi o último trimestre de 2023. Mas, é claro que, a partir de fevereiro, março, o mercado fica mais aquecido, uma vez que o próprio Carnaval movimenta vários negócios, e a publicidade e o live marketing acompanham o ritmo.

Matéria nesta edição traz o dado que, segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a folia movimentou cerca de R$ 8 bilhões no país em 2023. Já a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel) projeta faturamento até 15% superior ao do ano passado.

Frase: “Quando você estava indo, eu já tinha ido e voltado.” (Sabedoria popular brasileira).

Armando Ferrentini é publisher do propmark