No ano do Brasil em Cannes ganhamos uma homenagem à criatividade do país, uma outra ao maior publicitário brasileiro de todos os tempos e ganhamos também um trabalho para os próximos anos que é a recuperação da credibilidade nas inscrições de Cannes e não só.

Tem algo sobre reputação e nacionalidade que a partir de agora estará sempre na mesa. Fato consumado, vamos seguir em frente. E para as agências independentes, o que fazer? Continuar entrando nessa festa dos grandes grupos ou procurar novos caminhos?

A resposta da organização do festival promete para os próximos anos uma fiscalização mais rígida e faz pensar: peraí, já não era assim? Sou levado a pensar que para tempos diferentes, caminhos idem.

Tem Oscar, mas tem também Sundance. Tem Grammy, mas tem também Montreaux. E daí lembrei de um caso da publicidade sobre esse difícil tema, que tem a ver justamente com o homenageado deste ano em Cannes, o Washington Olivetto.

No início dos anos 1990, a W/Brasil decidiu não inscrever seu trabalho em festivais. Era um protesto, mas ele encontrou um caminho original e editou o próprio anuário. Um Gibizão formato gigante A2, papel classudo craft e com o conteúdo de centenas de trabalhos incríveis da W/. Uma maneira de se posicionar, mas ostentando elegância. Foi distribuído e vendido em bancas. Na capa uma cobra morta e um taco de baseball com o nome W/Brasil.

Para as agências independentes que convivem com o desafio da responsabilidade financeira e responsabilidade extra com os números de maneira geral, pois os donos estão na linha de frente, com o bolso e a cara, existem outras maneiras para agregar valor e selos de qualidade aos trabalhos do dia a dia. A revista Luerzers Archive, ainda impressa em papel, continua sendo uma ótima vitrine e abre inscrições gratuitas a cada dois meses. O critério deles é respeitado. Ter um trabalho publicado na Adforum, para onde todas as agências globais enviam trabalhos do dia a dia, também me parece um bom caminho.

A Adforum, aliás, tem um prêmio chamado PHNX. O modelo do prêmio é pay per win (você paga uma pequena taxa se ele é finalista) e o troféu você mesmo imprime em 3D.  Os jurados pertencem à comunidade criativa global e são separados em dois júris, como Cannes: um online, amplo para decidir os finalistas; e um presencial, com discussões sobre cada trabalho.

Pode ser uma boa alternativa. Publicações gratuitas com curadoria de um diretor de criação craque, toda semana como Best Ads on TV, Little Black Book, Clio Muse também agregam. Escolhas da semana de outras publicações digitais como Contagious e Shots também contam.

As empresas independentes podem contar com as premiações da Advertising Age, onde você inscreve vários trabalhos, fala sobre a cultura da agência, faturamento, desafios e dificuldades do mercado e como a empresa se posiciona sobre tudo isso. Os jurados são de altíssimo nível. Aliás, a T&S já ganhou como agência do ano duas vezes no Small Agency of the Year da AdAge, em 2020 e 2021. No Brasil, sem dúvida, o Profissionais do Ano da Rede Globo é o que há, além do seríssimo Effie, que traz Jobs do dia a dia.

Estar no Zag nunca foi tão importante quanto agora e vai demorar um tempo para nosso mercado superar essa situação. Mas temos muita gente boa, muitas boas ideias e vontade de trabalhar. Narciso saia do espelho, sente-se no computador e mande bala, que amanhã tem mais.

Flavio Waiteman é sócio e CCO da Tech&Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br