Se há dois momentos que sempre atraem a atenção nacional para o Nordeste são eles o Carnaval e o São João. Manifestações socioculturais ricas em tradições e que agitam centenas de milhares de pessoas, em diferentes cidades da região. Festas nas ruas, eventos privados e muita repercussão midiática acabam, consequentemente, despertando o interesse de empresas e marcas. Todas com o objetivo de criar maior aproximação com o público consumidor regional. Até aí, nada muito errado, quase tudo certo. Mas bora refletir um pouquinho.

O interesse dessas marcas é ficar ou "só ficar"? No dicionário formal, o termo "ficar" significa permanecer, alojar-se, continuar em um lugar. Já no informal, significa ficar com alguém,dar uns pegas”. Ou seja, nada de relacionamento sério. Um amorzinho de carnaval e olhe lá. Desses que, pouco depois, até se esquece o nome.

E é isso que acontece com várias marcas que dão atenção ao Nordeste apenas nessas datas. Investem uma grana e acabam, de um jeito meio desengonçado, dançando no ritmo do axé, do frevo ou do forró. Coisa bem típica. Típica de turistas. Marcas turistas. Vêm e vão, sem necessariamente criar vínculos fortes.

O objetivo aqui não é criticar estratégias de marketing que olham com carinho e apostam nesses macromomentos. Que são, sim, bem importantes. A intenção é provocar uma reflexão em quem, equivocadamente, não busca ou não sabe dar continuidade ao trabalho e rentabilizar melhor os investimentos feitos. Não por acaso, temos gigantes multinacionais levando um "piau" de determinados players locais, que sabem andar pelos becos, aproveitando muito bem o dia a dia e essas e outras grandes oportunidades.

Por exemplo, só neste segundo semestre, acontecem o REC'n'Play, maior festival de tecnologia e inovação brasileiro, que durante quatro dias mobiliza mais de 75 mil pessoas no Recife e é conhecido como o Carnaval do Conhecimento; e o La Folie Festival, evento LGBTQIAPN+, também em Recife, que trará nomes como Pabllo Vittar, Iza, Luísa Sonza, Gloria Groove, Lexa, Urias, Priscila Alencar e Melanie C.

Além desses, tem a Vaquejada de Serrinha, no interior da Bahia, que é como uma Festa do Peão de Barretos. Tem também o já famoso Carnatal, em Natal-RN. Subindo um pouco mais, indo para o Norte, o tradicional Círio de Nazaré, em Belém do Pará.

Então, ao planejar o ano que vem, que tal lembrar que o Brasil não começa a funcionar depois do Carnaval e nem o Nordeste para depois do São João?

Eduardo Breckenfeld é sócio e CSO da Ampla eduardo.breckenfeld@ampla.com.br