Depois de duas décadas de céu de brigadeiro, a maior parte do tempo, mesmo porque suas presenças jamais foram imaginadas por quem quer que seja, o fato é que as big techs vieram, dominaram, reinaram, defenestraram, disruptaram e, em muitos até então e antes, prósperos negócios, não sobrou pedra sobre pedra.

Absolutamente imprevisíveis, porque recorriam a outros meios e recursos jamais imaginado pelos legisladores, suas práticas passavam à margem da legislação existente e, sem resistência, invadiam, dominavam e sentiam-se totalmente à vontade para fazer o que bem entendessem. Lembram, “Nullum crimen, nulla poena, sine lege”. Onde não existe lei, não existem crimes, e muito menos punições. Para as big techs, essa era a realidade. Para todas as demais PJ mortais, tornozeleira, multas, impostos, cadeia...

Esses primeiros 20 anos terminaram. Agora chegou uma espécie de acerto de contas com as empresas da velha economia submetidas a todas regras e legislações, assim como a sociedade como um todo, e dado às barbaridades que as big techs cometiam, por mais fascinantes e irresistíveis que fossem e continuem sendo seus serviços. Em verdade, nós, mortais, irresistivelmente seduzidos, não prestamos atenção na advertência que os mais lúcidos e experientes nos faziam, “se é de graça, o produto é você”. Simplesmente, arregaçamos, entregando nossos dados, vidas, riquezas, recato, confidencialidades...

É o que assistiremos daqui até o fim desta década. Cobranças, acusações, multas, punições, às chamadas big techs, em maiores ou menores proporções, pelos abusos que cometeram e pelas omissões deliberadas que, sob o olhar mais crítico de hoje, passado o deslumbramento e o entusiasmo iniciais, a sociedade começa a constatar, incomodar-se, revoltar-se, e querer ir à forra.

Isso posto, daqui para frente, semana sim outra também, as big techs e outras empresas da nova economia tendo de prestar contas e se defender na Justiça de todos os países, em menores ou maiores proporções e intensidade.

Neste momento, as big techs, todas, investem mais tempo e dinheiro em prepararem-se para uma longa rodada de acusações e processos, fortalecendo suas já gigantescas equipes jurídicas, contendas que avançarão por esta e a próxima década. Agora, hoje, todas, em maiores ou menores proporções, são acusadas nos Estados Unidos pelos processos viciantes que adotaram em suas plataformas e algoritmos, causando dependência e danos à saúde mental de parcela expressiva da população jovem.

Nos primeiros processos alegavam que não tinham nenhuma responsabilidade, lastreando-se na Primeira Emenda da Constituição Americana, que, em tese, atribuía toda a responsabilidade sobre a educação e permissões para os filhos de seus pais. No início até que essa tese da defesa deu certo, mas, de tempos para cá, vem se revelando insustentável. Nos últimos julgamentos, as big techs vêm sucumbindo por, independentemente do que diz a Constituição, terem se revelado e comportado de forma irresponsável, pela não implementação de controles eficazes para que os pais pudessem agir, assim como pela utilização de recursos para agregar atratividade e dependência as suas plataformas.

É isso. Com total tranquilidade e calma, utilizaram de recursos de tecnologia poderosíssimos, diante da realidade até então vigente, e induziram novos comportamentos e culturas, diante de pais, famílias e sociedade entorpecidos pelas novidades. Quando todos se deram conta, tinham em suas casas e seu redor duas gerações de pessoas, filhos e netos, no mínimo, diferentes. E que agora reconhecem, não só não têm recursos, como muito mais, ainda, não sabem como proceder.

É isso, amigos. Todos, agora, enfrentando e pagando o preço de 20 anos de fantasia, delírio, encantamento e vício da pesada, em novidades e atrações simplesmente irresistíveis, viciantes e geradoras de radical e absoluta dependência.

Sem entrar no mérito de outros danos para a saúde...

Antes de 2040, não existirá a menor possibilidade de paz. Passada a bebedeira, porre, embriaguez, estamos iniciando longos anos de ressaca profunda e dolorosa. Será que terá valido pagar o preço...?

Francisco Alberto  Madia de Souza é consultor de marketing
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