O café da manhã é bom e farto, ao lado de um amigo de longa data, Gustavo Almeida, fundador e diretor de relacionamentos da MField. A nossa passagem pelo Rio de Janeiro estava longe de ser um passeio de amigos aproveitando os prazeres de uma cidade incrível.

Estamos ali para viver dois dias de um evento que é anunciado como o maior encontro de criatividade e inovação da América Latina, e em nossa primeira vez, com mais de mil palestrantes e 10 áreas simultâneas de conteúdo, com oficinas, workshops, masterclasses, keynotes e painéis.

O RIO2C é um evento de grandes nomes e promessas, mas ele se mostrou mais do que isso, já que abriu um portal na mente dos presentes, criando um buraco entre o hoje e o futuro, e mostrando os caminhos que precisam ser desenvolvidos.

Em nossa passagem pelo evento, ficou mais do que claro, que a nossa visão sobre o mercado de publicidade no Brasil e no mundo vem fugindo do tradicional, mas que todas devem começar e terminar em uma história bem contada. O conteúdo é o que interessa.

"Foi um grande encontro de gerações, com uma pauta bem direcionada para as novas tendências do mercado tecnológico e inovações. Foram colocadas na mesa a visão da geração Z (nascidos entre 1995 a 2010) e assim foi traçado diversos direcionamentos sobre o futuro das comunicações, plataformas e comportamentos." Gustavo Almeida, diretor de relacionamento da MField.

o RIO2C tangibiliza algo existente, mas que a gente não repara muito. Algo que movimenta milhões e que passa quase que como um detalhe, que precisa ser visualizado, pois representa o futuro. O empresário de terno gravata careta existe, mas ele não é mais a única fatia poderosa dos mercados, ele precisa aceitar que o espaço também é do empreendedor de braço tatuado, bermuda e barba por fazer, assim como, o mercado também é do empreendedor de estilo indefinido, afinal de contas, os cartões de visita não são mais de papel e padronizados, a sua melhor apresentação é o seu conteúdo.

Um rapper, um diretor de canal de youtube, uma influencer… Todos podem ser e são nomes fortes, empreendedores de primeira linha, diretores e c-levels que talvez, em certos casos, não entendem o que os trouxeram até os palcos, mas é o que os tornam fortes e preparados.

O evento evidenciou que para ser empreendedor não é mais preciso seguir uma cartilha formal de apresentação, mas sim defender um ideal, ser fiel ao que acredita e principalmente não se deixar levar pelas oportunidades do mercado que não entregam valor para sua comunidade, outro assunto que foi fortalecido durante os keynotes.

Mais legal que ser padronizado e programado para parecer algo, é ser de verdade. Os maiores empresários do momento não tentam se encaixar nos rótulos e nas expectativas, apenas são quem são. Quanto ao mercado? Eles também não estão 100% preocupados com isso, a construção de comunidade inverte essa ordem e as marcas vêm atrás.

O desafio de defender seus ideais abre um leque de possibilidades e de caminhos, todos eles baseados no poder de contar histórias. Algo que foi repetido de diversas formas por diversas pessoas ao longo dos dias que estivemos no evento, vou destacar duas:

Ice Blue, ou melhor, Mestre, um dos fundadores do Racionais Mc's nos deu uma aula de como o grupo sempre pensou a frente do seu tempo, mesmo que isso custasse alguns passos para trás na carreira do grupo. O cantor foi cirúrgico ao deixar claro que para estar em um festival, o grupo sempre se questiona se o seu público tem condições de pagar o ingresso, de ser bem recebido, e se realmente o era para estarem ali.

O show é o final, todo o entorno, o pré-evento, é um storytelling perfeito, desde a escolha da roupa até os convidados que vão estar no palco, é pensado para contar um boa história e entreter o público do começo ao fim, sempre levando em conta as característica da sua comunidade. Talvez eles façam isso sem perceber que estão montando uma narrativa quase perfeita desde 1988, digo isso pois toda história tem seu clímax, e isso que torna ainda mais apaixonante, mas o fato é que já são 34 anos de vários capítulos de uma bela série, onde às vezes a maioria só enxerguem um grupo de rap que lança músicas e faz alguns shows.

Agora, vamos falar do poder da comunidade? Mais um assunto que ficou evidente dentro dos conteúdos do RIO2C. Gaulês, Bruno Playhard, Luiz Justo, Porta dos Fundos e Xamã, enfatizaram o quão são preocupados em entregar conteúdos de qualidade para a sua comunidade, sendo todas as decisões pautadas em como irão impactá-los.

Já no keynote Game+Boss, Bruno Oliveira, mais conhecido como Bruno Playhard (CEO da Loud), nos contou um pouco mais sobre o sucesso da organização e como se tornam influenciadores em gigantes do entretenimento.

Vivemos desde a primeira infância entre tribos, a necessidade de se conhecer é imprescindível tanto para pessoas como para as  empresas, gerar nos seus receptores/compradores uma paixão que é verdadeira, criar empatia, identificação e uma ideia de pertencimento. O mercado evoluiu e mudou em várias particularidades, o que não mudou foi o usuário/cliente querer se identificar, quem toma conhecimento e aplica os negócios dessa forma colhe os melhores frutos.

O propósito grita mais alto enquanto os "padrões'' falam baixo e timidamente. Sentimos necessidade de água e de boas histórias quase que na mesma medida, afinal de contas os dois nos nutrem e nos mantêm vivos.

O storytelling está no álbum que você gosta, no jogo que você curte, no clipe que vê e dá like, nas séries, nos comerciais e nos produtos. Quem reconhece este movimento e aplica a favor, lidera os mercados, ao invés de apenas fazer parte dele.

Em eventos como RIO2C surgem muitas oportunidades de crescimento pessoal e profissional, é possível aprender, empreender, reforçar conexões e networking e muito mais. No entanto, o que ninguém te conta é que nestes eventos também é possível se transformar.

Vivemos a era da sedução, em que oportunidades parecem missões, mas sempre brinco que quanto mais o que você fala o que não faz, mas você reforça o que você faz.

O RIO2C não é uma experiência tridimensional e ultra tecnológica, ele cutuca o que temos de mais profundo e complexo, a nossa essência. Às vezes não abertamente nos temas dos keynotes, ou nos discursos dos palestrantes, mas é válido a reflexão das pessoas que estavam em cima do palco, empreendedores não tradicionais, modelos de negócios disruptivos, média de idade baixa, o que essas pessoas têm de incomum?

Para nós resta apenas o melhor e mais proveitoso uso do aprendizado sem limites.

Chegou a hora de acreditar no propósito, construir e nutrir sua comunidade de boas histórias.

Gabriel Lima é COO da MField e Gustavo Almeida, diretor de produtos da MField