Em uma das minhas recentes aulas do curso de psicologia, a professora fez uma provocação: “Psicólogos gostam de fofoca.” No SXSW 2025, a especialista em ambiente de trabalho Amy Gallo, autora de Getting Along: How to Work with Anyone (Even Difficult People), trouxe à tona a mesma temática em sua palestra Spill the Tea: Um Guia Estratégico para Fofocas no Escritório.

O que há em comum entre essas duas abordagens? Ambas resgatam o significado original do termo “fofoca”, sem o peso negativo comumente associado a ele.

Fofoca / fo·fo·ca/
Substantivo: conversa informal ou troca de informações sobre alguém na ausência dessa pessoa. Na psicologia, especialmente no trabalho com crianças, conversar com outras pessoas (familiares, escola, profissionais da saúde) é essencial para uma visão sistêmica e um entendimento profundo do contexto em que os sintomas aparecem.

Na visão de Amy, quando eliminamos a carga pejorativa, a fofoca pode ser entendida como um mecanismo natural e evolutivo da comunicação humana.
Estudos mostram que:
• Homens e mulheres fofocam igualmente;
• 80% das fofocas são neutras, 13% negativas e 5%, positivas.

Mas, se a fofoca é inevitável, como podemos usá-la a favor das relações no trabalho? Amy destaca seus impactos negativos e positivos:

Os riscos da fofoca
• Danos à reputação;
• Desinformação;
• Declínio moral e perda de tempo;
• Sentimentos feridos;
• Exclusão e divisões no time;
• Redução nas avaliações de desempenho.

Os benefícios da fofoca
• Compartilhamento de informações;
• Influência informal;
• Definição de normas organizacionais;
• Fomento à cooperação;
• Conexão social;
• Redução do estresse.

Amy defende que, quando há um desconforto que gera a fofoca, ele pode (e deve) ser reformulado e transformado em um feedback claro, assertivo e respeitoso. E aqui entramos em um tema essencial: segurança psicológica.

Criar ambientes onde as pessoas possam expressar ideias, preocupações e críticas sem medo de retaliação é fundamental para times de alta performance. O Projeto Aristóteles, conduzido pelo Google em 2015, já havia comprovado que a segurança psicológica melhora a performance das equipes. Mas, como reforçou a especialista, na prática, sua implementação ainda é um desafio.

Por que esse tema volta com força em 2025? O painel AI Agents and the Future of Human Collaboration, com Nickle LaMoreaux (CHRO da IBM) e Hannah Elsakr (Global Head de Novos Negócios da Adobe), abordou como os agentes de IA estão transformando o ambiente de trabalho. Diferente de chatbots ou assistentes digitais, esses agentes são orquestradores de múltiplas ferramentas de IA, otimizando tarefas e facilitando a interface com humanos.

Mas, se a IA está assumindo funções operacionais, quais habilidades humanas serão indispensáveis nesse novo cenário?
• Domain expertise: expertise técnica e conhecimento profundo;
• Judgment & Communication Skills: capacidade de julgamento e comunicação eficaz;
• Creative Collaboration: criatividade e colaboração.

Quando a comunicação e a colaboração se tornam ainda mais cruciais, a capacidade de dar e receber feedbacks de forma clara e respeitosa será determinante para qualquer profissional.

Questionada sobre quais empregos serão mais impactados pela IA, Nickle LaMoreaux foi enfática: “Todos os empregos serão transformados. IA é uma plataforma, é uma ferramenta. Isso é o que sabemos agora.” E precisamos falar sobre essas transformações. Segundo Nickle, o medo vem, justamente, do silêncio.

Simone Gasperin é sócia & head de marketing e growth da BPool