Uma das atividades que sempre gostei em minha jornada de 40 anos de publicitária é a participação em eventos, aproveitando as oportunidades que trazem na troca de conhecimento e no networking. Apesar de estarmos totalmente adaptados pelo mundo online, poder encontrar pessoas, conversar, abraçar e beijar como boa brasileira mineira, ouvir de perto o que está dando certo ou não, a visão de grandes líderes sobre a nossa indústria, cases de sucesso, iniciativas que estão transformando o marketing, é uma das melhores formas de aprender e nos inspirar.
E tendo voltado há pouco de Toronto, no Canadá, compartilho um pouco do que vi, vivi e ouvi no maior evento da indústria de anunciantes do mundo a WFA Global Marketer Week, principal evento da WFA - World Federation of Advertisers, entidade global que representa os anunciantes e à qual a ABA é filiada e eu sou membro de seu Executive Committee, que foi realizada de 14 a 17 de maio.
A Global Marketer Week reuniu mais de 700 convidados, sendo 66 instituições parceiras, entre associações, federações, sindicatos e institutos de comunicação e marketing de todos os continentes, e as mais altas lideranças globais da indústria publicitária, para discutir tendências e desafios do setor, dentre eles, a importância do marketing responsável, uma das bandeiras de advocacy da ABA.
Foram quatro dias de uma agenda intensa, com reuniões, fóruns, palestras, bate-papos, almoços e jantares, que me fizeram voltar para casa munida de muitas ideias para compartilhar com nossos associados e lideranças aqui no Brasil, e com a sensação de dever cumprido, em saber que a ABA está alinhada com as melhores práticas globais e cumprindo seu propósito de Mobilizar o marketing para transformar os negócios e a sociedade, tendo se antecipado em trabalhar alguns dos principais temas que foram debatidos na Global Marketer Week, como IA Generativa, ESG, DE&I, marketing responsável e o novo papel do CMO.
O tema principal da Global Marketer Week foi Building Better Brands – como usar a criatividade e a inovação para construir marcas melhores e mais fortes, responsáveis perante as pessoas, o planeta, os reguladores e os acionistas. As marcas estão sendo cada vez mais cobradas por esse papel de comprometimento com as causas sociais e ambientais, de serem mais inclusivas, sem deixar de lado os lucros, claro. O crescimento sustentável que tanto falamos! Mas, quando o assunto é usar o poder das marcas para causar impacto positivo, o marketing entra em jogo e com ele, o trabalho do CMO.
Trago aqui um pouco de reflexão sobre os assuntos tratados no evento e quero começar até fora da ordem cronológica, para priorizar aquele que julgo o mais importante: o papel do CMO hoje. O painel “СМО: um trabalho impossível?”, foi um dos que ocorreram na Global Marketer Conference, no terceiro dia do evento onde refletimos que a atividade desses líderes de marketing nunca foi tão complexa. Em um cenário de política polarizada, noticiários 24 horas por dia, sete dias por semana, mudanças intermináveis nos hábitos de consumo e novas tecnologias surgindo numa velocidade sem precedentes, os CMOs têm a tarefa de impulsionar o crescimento dos negócios por meio de marcas inclusivas e com propósitos que atraiam públicos novos e mais diversificados.
Profissionais de marketing têm visto seus cargos serem transformados junto com a transformação digital. A combinação da inovação e da criatividade com essas responsabilidades vão apontar os melhores caminhos para o crescimento e fortalecimento das marcas. Mas, no dia a dia desses líderes, a tarefa é bem mais complexa. Aprendizado é hoje uma constante. Disrupção, um poderoso diferencial para desafiar o status quo. Visão holística de dados, um skill fundamental para performar melhor. A intersecção de habilidades é cada vez mais fundamental. E tudo isso sem deixar de lado um dos principais papéis de toda e qualquer liderança: inspirar pessoas.
Temos percebido que, quanto mais tecnológicos ficamos, mais desejamos um olhar humano – fato é que a personalização é hoje um grande diferencial competitivo das marcas. Comecei a falar desse painel porque é isso que essa semana intensa de eventos da WFA faz, volta seu olhar para as pessoas que estão por trás das marcas. Instiga, provoca, mas leva conhecimento e inspiração em trocas riquíssimas. Líderes de marketing das maiores marcas globais sobem ao palco para compartilhar conhecimento e também aprender uns com os outros. E essa troca é fundamental nos dias de hoje. A construção coletiva é sempre um impulso para as melhores ideias, tal como as parcerias em prol de um bem maior vêm crescendo entre as marcas. Se queremos um mundo melhor, temos que nos unir e trabalhar juntos para isso.
Ciente de nossa missão de apoiar o dia a dia dessas lideranças, o ano passado nosso evento ABA Summit, realizado em 31 de outubro, teve como tema: “O que está tirando o sono dos líderes de marketing? Precisamos falar sobre isso!”, no qual debatemos os principais desafios desses profissionais. A ABA também é apoiadora no Brasil do Clube CMO, uma iniciativa da Exame e da Zmes para a troca de conteúdo, insights e networking entre CMOs de grandes anunciantes brasileiros.
Bem, essas foram as reflexões dos painelistas, Jane Wakely, CCMO da PepsiCo; Asmita Dubey, Global CDMO da L’Oréal; e Jenny Rooney, Chief Experience Officer da ADWEEK, e do moderador, David Wheldon, President Emeritus da WFA. Mas, com a IA onipresente em nossa vida e nos negócios, principalmente no universo do marketing, fomos surpreendidos por um convidado bastante inovador: um Ritbot, um avatar de IA de Mark Ritson, criado pela Intentful, que dividiu o palco com essas renomadas lideranças como painelista.
Uma realidade a qual esses profissionais precisam encarar. E sem medo. Os CMOs devem atrair e reter clientes, como também enfrentar expectativas acrescidas para impulsionar o crescimento e a inovação dos negócios, especialmente com a adoção da IA. E priorizar campanhas orientadas pela IA que melhoram a experiência do cliente, ao mesmo tempo em que investem no conhecimento da equipe e em talentos especializados nessa tecnologia.
Não há mais como fugir dessa realidade e as lideranças precisam tirar proveito do melhor que a IA pode proporcionar para as estratégias de marketing das marcas. O medo de perder o emprego e ser substituído por um robô existe, vamos deixar claro. Mas, afirmo que a IA sozinha, sem uma curadoria humana não trará o mesmo resultado. Precisamos mergulhar fundo nessa tecnologia inovadora, cujo impacto para o planeta já está sendo comparado ao da roda e do fogo. A reflexão é que não devemos ter medo de sermos substituídos pela IA, mas, talvez, por outro ser humano que saiba usá-la melhor do que nós!
Elevar o papel do CMO tem sido uma conversa de longa data para a WFA e a série de relatórios EMARKETER publicados pela entidade traz alguns insights sobre isso.
Crescimento sustentável e diversidade e inclusão na mira dos negócios
Voltando a cronologia da WFA Global Marketer Week 2024, o 1º dia contou com a Reunião do Executive Committee da WFA, que se reúne trimestralmente para discutir as prioridades e orientar a estratégia da entidade global. O Comitê Executivo é formado por representantes seniores de empresas anunciantes associadas e das 66 associações nacionais, presentes nos seis continentes, eleitos anualmente, como é o meu caso, que participo desse board há 10 anos.
Destaco aqui a apresentação que abriu esta reunião: “Forças que moldam os negócios hoje”, de Tom Standage, editor adjunto do The Economist e editor de The World Ahead, que abordou algumas das grandes tendências que as empresas precisam navegar hoje: de eleições mundiais e conflitos militares ao trabalho híbrido e o impacto da IA. Tom nos trouxe a reflexão de que no cenário de mudanças rápidas que estamos vivendo, a imprevisibilidade é o “novo normal”: “Como sabemos o que esperar do futuro? Você pode olhar para a história e prever um resultado a partir daí. Você pode recorrer a muitas perspectivas diferentes, obter opiniões de diferentes tipos de pessoas, para obter uma ampla gama de possibilidades. Isso o levará a uma previsão precisa do futuro? Como será o nosso mundo daqui a 6 meses, daqui a 30 anos, qual será o impacto das alterações climáticas, será que a guerra na Ucrânia estará terminada há muito tempo. Como será a IA no futuro?”. Saímos dessa palestra com a provocação de que prever o futuro é uma tarefa complicada. Estamos diante da imprevisibilidade das previsões! No entanto, isso não nos impedirá de fazer previsões!
Na sequência, participei da Assembleia Geral Anual da WFA, ocasião em que os membros da entidade global fazem uma análise das atividades, desafios e principais realizações do ano anterior.
A agenda do dia ainda contou com a GARM Masterclass, com painéis, bate-papos e palestras com uma curadoria de temas projetados para líderes seniores de mídia e especialistas em segurança de marca de anunciantes, agências, plataformas e empresas de tecnologia de anúncios. Essa sessão exclusiva para convidados promoveu diálogos instigantes e o compartilhamento de práticas recomendadas sobre tópicos como segurança e proteção dos usuários mais jovens – e mais vulneráveis, no universo digital; as tendências e desafios da IA Generativa: o impacto das eleições em todo o mundo; as práticas recomendadas de sustentabilidade, como as que ajudam na redução dos Gases de Efeito e Estufa na mídia, e de diversidade, além do resultado da pesquisa recente da GARM – Global Alliance for Responsible Media.
Ao reconhecer o papel crucial que a indústria publicitária desempenha na moldagem de tendências e comportamentos, e entender a urgência do desafio global de mudanças climáticas, temos a responsabilidade de liderar essa filosofia sustentável em todo o ecossistema de mídia e esse tema permeou todo o evento da WFA, assim como faz parte da agenda estratégica da ABA.
Políticas Públicas e marketing responsável
O 2º dia da WFA Global Marketer Week 2024 contou com eventos simultâneos: Insight Forum, Media Forum, Sourcing Forum, Policy Forum e CMO Forum.
No Policy Forum foi lançado o “Guia WFA Framework for Positive Marketing Behaviours”, disponível exclusivamente para associados da WFA, que está em consonância com a pesquisa "Bridging the Gap", lançada pela primeira vez em 2019 e atualizada este ano pela WFA. A pesquisa aborda como profissionais de assuntos públicos e marketing percebem sua atual relação de trabalho, identificando áreas de colaboração positiva e onde há espaço para melhorias. Foi identificado um crescente reconhecimento da importância dos desenvolvimentos e tendências de políticas públicas para os profissionais de marketing, que cada vez mais buscam uma colaboração estreita para solucionar questões complexas em um mundo polarizado e um ambiente de marketing cada vez mais desafiador: 9 em cada 10 profissionais de marketing dizem que a contribuição de profissionais de relações governamentais é mais importante do que nunca. Essa colaboração é bem-vinda especialmente quando se trata de sustentabilidade ambiental, propósito de marca, reputação e gerenciamento de riscos e marketing responsável.
O Guia tem o objetivo de promover uma maior colaboração entre as funções em torno de questões-chave como reivindicações ambientais, governança de mídia responsável, IA e tecnologia, marketing de influência DE&I e marketing para crianças, para que ambos trabalharem juntos para construir marcas mais fortes e resilientes. Ele se baseia nas melhores práticas desenvolvidas ao longo de 25 anos pela WFA e seus principais membros e traz a importância dessa colaboração em cada área, os riscos e oportunidades, estudos de caso, ferramentas, diretrizes e estruturas relevantes desenvolvidas pela WFA e seus membros, além de um infográfico.
Para Stephan Loerke, CEO da WFA, “à medida que os profissionais de marketing terão cada vez mais de navegar pelas guerras geopolíticas e culturais, ao mesmo tempo que enfrentam um número crescente de desafios, como a sustentabilidade e as reivindicações ambientais, os líderes inteligentes procurarão formas novas e inovações de integrar sistematicamente o pensamento político, a fim de mitigar riscos e identificar oportunidades”.
No Brasil, a ABA lançou em 2019 o guia "Criando a Ponte entre os Times de Políticas Públicas e Marketing", que trouxe uma análise sobre os desafios e expectativas da colaboração entre as equipes de marketing e de políticas públicas diante de uma sociedade em constante mudança.
No Fórum CMO foi abordado como as organizações globais de marketing têm se saído em termos de crescimento sustentável, usando a criatividade e a inovação dentro de uma estrutura de responsabilidade. O marketing responsável e sustentável é uma bandeira da entidade global, assim como da ABA, e um caminho sem volta em que os anunciantes precisam concentrar forças e investimentos. Temas como redução das emissões de carbono, diversidade e inclusão, fazem parte das iniciativas da WFA e da ABA ao longo dos últimos anos e continuam mais vivos do que nunca, em um momento em que lucro e propósito precisam andar juntos e que os consumidores e colaboradores exigem práticas responsáveis, éticas e sustentáveis das marcas.
Mas, este ano, ética e responsabilidade estão extremamente ligados também ao uso da IA, que vem se expandindo a passos largos e requer atenção redobrada das marcas. Um dos painéis tratou sobre “Liderança e cultura da empresa em um mundo de IA”. Edward Bell, gerente geral de marca, insights e comunicações de marketing da Cathay Pacific refletiu que a IA Generativa é “tão empolgante quanto assustadora” e os caminhos para criar uma estrutura de sucesso para seu uso que aprimore, em vez de ameaçar, as pessoas e a cultura.
O painel “Onde Está a Criatividade? Identificando e Amplificando a Criatividade e a Inovação”, contou moderação do Presidente da WFA, Raja Rajamannar, da Mastercard, e como painelistas, membros da WFA: Jane Wakely, Diretora de Consumo e Marketing da PepsiCo, Susan O’Brien, VP Global Brand da Just Eat Takeaway, e Susan Akkad, SVP Inovação Social e Cultural da The Estée Lauder Companies. Os executivos refletiram sobre como as lideranças podem garantir uma excelente capacitação e aproveitar todo o potencial de seus talentosos profissionais de marketing para ajudar a impulsionar as agendas globais de crescimento das marcas.
Compartilhando experiências e boas práticas que impulsionam os negócios
A Global Marketer Conference, Conferência de Profissionais de Marketing, que aconteceu no 3º dia do evento, foi uma dia intenso de muito aprendizado, com mais de 700 profissionais aprendendo com cases de sucesso de grandes marcas, como AB InBev, boas práticas dos maiores anunciantes do mundo e insights do time da WFA, e eu ali na primeira fila, atenta, para trazer ao Brasil muita inspiração para a agenda da ABA, com foco sempre em apoiar o mercado de anunciantes, os profissionais de marketing e ajudar a construir marcas mais fortes e melhores.
A palestra de Stephan Loerke, CEO da WFA, e Moya Brown, Senior Vice-President, Brand Strategy & Experience da IG Wealth Management, refletiu sobre a importância de “Uma Agenda Global Compartilhada”, onde profissionais de marketing, não importa onde estejam localizados no mundo, enfrentam desafios semelhantes. E isso cria oportunidades interessantes.
Um desses desafios, foi abordado no painel “Confiando na IA?”, que trouxe dados de que, cerca de 40% das empresas ainda não implementaram o uso da IA, destacando uma lacuna dramática entre o hype e o uso e reforçando a importância dos assuntos acerca dessa tecnologia estarem presente em todos os dias da WFA Global Marketer Week 2024, assim como tem feito parte também de praticamente todos as conversas e eventos da ABA. Para superar as barreiras do uso da IA no marketing, melhorar as habilidades e a complexidade dos dados é preciso criar confiança na tecnologia.
E para dar continuidade a este tema, Raja Rajamannar Chief Marketing & Communications Officer da Mastercard, e Stephan Pretorius Chief Technology Officer da WPP, foram os painelistas sobre “O Impacto da Geração IA no Crescimento Da Marca”, onde ouvimos insights sobre o que podemos falar que é o futuro do marketing: aproveitar o poder transformador da IA Generativa para ajudar a construir marcas fortes, inovadoras e impulsionar o crescimento sustentável.
Um painel que quero destacar deste dia do evento, foi o de Marcus Collins, com o tema “Catalisador de Cultura”. O premiado profissional de marketing e tradutor cultural, professor assistente clínico de marketing na Ross School of Business da Universidade de Michigan, provocou os presentes de que cultura é uma palavra que usamos com frequência, mas raramente entendemos completamente. Segundo ele, poucas forças externas são mais influentes no comportamento humano do que a cultura. O que vestimos, o que vemos, com quem casamos, como votamos, o que apoiamos e quase todos os aspectos da vida quotidiana são informados por – e em muitos aspectos governados por – a nossa subscrição cultural. E isso explica porque é fundamental que consigamos compreender plenamente o que é a cultura e a física subjacente ao seu funcionamento. Ao integrar uma perspectiva profunda da cultura, baseada em dados de um século, e uma compreensão das possibilidades do mundo hiperconectado de hoje, podemos usar sua influência para levar as pessoas a agir. Com a cultura não apenas impulsionando o consumo de hoje, mas também conduzindo o futuro da marca, esse é um insight poderoso para profissionais de marketing, mas também para políticos, líderes, gestores e qualquer pessoa com interesse em fazer com que as pessoas se movam.
Conselho das Associações Nacionais
O 4º e último dia da WFA Global Marketer Week 2024 foi marcado pela realização do NAC - National Associations Council, um encontro que conecta as Associações Nacionais de Anunciantes de todo o mundo, filiadas à WFA, como a ABA, com o objetivo de compartilharmos experiências, ideias, histórias de sucesso e estratégias de crescimento em um mundo de rápidas mudanças, além de inspirar e sermos inspirados por profissionais de marketing com insights sobre inovação em diversas áreas da indústria.
A programação do NAC contou com um painel sobre DE&I e Sustentabilidade, onde Taide Guajardo, CBO – Europe, da P&G, e Isabel Massey, Global Head of Media & Content, Marketing, da Diageo, ISBA and Union des marques, apresentaram a Advertising Accessibility Alliance (Aliança De Acessibilidade De Anúncios), iniciativa intersetorial liderada por marcas para tornar o conteúdo publicitário mais acessível para pessoas com algum tipo de deficiência (visual, auditiva, cognitiva, motora). Taide também compartilhou como a P&G abraçou o desafio e transformou suas campanhas em uma força para o bem e para o crescimento. O painel também abordou o papel das associações nacionais na defesa da acessibilidade. Sendo DE&I um tema estratégico para a ABA, promover a acessibilidade está alinhado com nossa missão. Dentre tantas iniciativas já realizadas nessa agenda, a mais recente, de 2023, foi uma reunião realizada pela ABA, com tema “Pessoas com (D) eficiência em Cargos de Liderança: Dicas para mais inclusão”.
No painel, “Fazendo a mudança para um setor Net zero” Rob Rakowitz, da WFA/GARM, e Michelle McEvoy, do Planet Pledge, compartilharam os planos da WFA para desenvolver um modelo comum de cálculo de carbono em todo o setor e deram orientações para impulsionar comportamentos positivos em relação ao clima na publicidade. Para atingir a meta do limite climático de 1,5ºC, teremos que alcançar zero emissões até 2050. E o setor de publicidade desempenha um papel fundamental para atingir esse objetivo. Sophie Roosen, da Union des marques, compartilhou atualizações sobre o Oneframe, uma estrutura para medir melhor as emissões de gases do efeito estufa nas campanhas.
Alinhada com essa agenda de DE&I e ESG, em 2023 a ABA lançou no Brasil de forma pioneira, o “Guia GARM de Sustentabilidade: ações para reduzir as emissões de gases de efeito estufa na indústria de mídia”, uma atualização do documento já publicado em 2021, elaborado pela GARM da WFA, que dentre suas funções, aponta conexões e negócios com fornecedores comprometidos com práticas eco-friendly, sendo está uma das chaves para que a cadeia de mídia sustentável se consolide. Ainda ano passado, publicamos o “Guia Marketing Sustentável 2030”, a “Carta Global de Mídia” e o “Censo Global de DE&I - report Brasil”, que mediu a DE&I na indústria de marketing.
A ABA também aderiu ao projeto Planet Pledge da WFA, no mesmo ano do seu lançamento, em 2021. Trata-se de um compromisso global para ajudar as empresas a liderar iniciativas de sustentabilidade e a promover mudanças positivas, tanto internamente, quanto para os consumidores, usando o marketing como uma força positiva para a mudança ambiental. Desde então, a ABA perpetua o apoio e divulgação das iniciativas entre seus associados, como campanhas em nossas redes sociais e destaque em nossas newsletters internas, disseminando boas práticas para ajudar o mundo a enfrentar os desafios estabelecidos nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
Para falar sobre Mídia Responsável, Matt Green, da WFA, Phil Smith, da ISBA, e Bob Liodice, da ANA, explicaram como tornar a medição de mídia cruzada uma realidade. Com o programa Origin da ISBA se aproximando da fase de testes no Reino Unido, a iniciativa CMM da ANA entrando em sua fase de testes nos EUA e o interesse crescente entre outras associações nacionais, a estrutura de medição de mídia cruzada Halo está ganhando impulso e os palestrantes pontuaram como outros mercados podem seguir seus passos.
No painel, Entendendo Retail Media, Tom Ashby, da WFA, fez um balanço dos desenvolvimentos e iniciativas recentes e Phil Smith, da ISBA, compartilhou a Estrutura de Retail Media Responsável do Reino Unido, uma colaboração de todo o setor para impulsionar a padronização. O Retail Media é um ecossistema em rápido crescimento e evolução nos últimos anos, com receitas de US$ 120 bilhões em todo o mundo em 2023.
E a IA Generativa apareceu novamente. Neste painel, vimos alguns dados sobre o uso da tecnologia: 3 em cada 4 empresas já a utilizam no marketing ou planejam usá-la em breve e a maioria está otimista quanto ao potencial da tecnologia para impulsionar o crescimento dos negócios, mas está igualmente preocupada com os riscos legais, éticos e de reputação. Essa preocupação também faz parte dos debates que a ABA vem trazendo ao mercado e promovendo com seus associados, para fomentar a importância de uma cultura de governança com regras claras que garantam o uso ético e responsável da IA, em consonância com nosso compromisso com a bandeira da autorregulamentação.
A ABA incentiva que as marcas sejam progressivas e inovadoras e, em agosto de 2023, lançou no Brasil, de forma pioneira o “Guia ABA sobre Impactos da Inteligência Artificial Generativa na Publicidade”, que terá uma versão atualizada este ano, pautada no guia da WFA sobre IA. Também fomos uma das entidades signatárias da carta enviada ao Senado com sugestão para ampliar o debate e ajustar os textos sobre o PL que trata da regulamentação da IA no Brasil, e até o final do ano, lançaremos um livro sobre IA no Marketing, abordando direito, inovação e tecnologia.
Fechando com chave de ouro e reeleição: 10 anos de Executive Committee da WFA
Neste ano de 2024 em que celebro meus 10 anos como CEO da ABA, tive a honra de ser reeleita pela 10ª vez para o Executive Committee da WFA. A WFA reúne os maiores mercados e profissionais de marketing do mundo, representando cerca de 90% dos gastos globais em comunicações de marketing, o que representa quase US$ 1 trilhão de dólares anuais. A Federação Nacional de Anunciantes ajuda a estabelecer padrões para comunicações de marketing responsáveis em todo o mundo, incentiva iniciativas de liderança, que vão além da conformidade com os padrões existentes da indústria, defende uma comunicação de marketing eficiente e eficaz e ajuda seus associados compartilhando conhecimento, experiência e benchmarking. A entidade fornece uma rede global única de profissionais de marketing que se ajudam mutuamente a navegar no cenário de marketing em rápida mudança e também assume um papel de liderança global nas principais questões de marketing que afetam seus membros.
Sinto-me honrada pela reeleição e, em nome da Diretoria e Conselho da ABA, e dos nossos 124 associados e 1400 marcas, de dar voz ao Brasil neste grupo, representando a entidade. É gratificante ser membro desse Comitê há uma década e participar deste evento, a WFA Global Marketer Week, que oferece a oportunidade única da troca de ideia e estreitamento de laços com representantes dos anunciantes de mais de 60 países, visando o fortalecimento do mercado global e a atração e desenvolvimento de novos projetos para a ampliação dos mercados nacionais, e onde posso também compartilhar as iniciativas da ABA globalmente.
Neste momento de profundas e rápidas transformações, com os desafios que estamos enfrentando e com a responsabilidade que temos de buscar caminhos para anunciantes e, consequentemente, para todo mercado publicitário de agir de forma responsável social e ambientalmente, a missão da ABA é ainda mais especial.
Ao mesmo tempo, ver que a associação é protagonista e pioneira em relação às mudanças que nossa indústria está enfrentando e segue alinhada com as principais tendências, novos modelos de plataformas e tecnologias a serem exploradas, e causas globais a serem combatidas, é muito gratificante.
O marketing é um importante vetor para a transformação de uma sociedade mais justa, igualitária e um planeta sustentável. E essa luta é coletiva. É preciso olhar além e ver como todas as nossas ações individuais podem ajudar a impulsionar objetivos sociais e ecológicos maiores. Precisamos todos juntos embarcar nessa missão: #Better Marketing: anunciantes mais responsáveis, mais sustentáveis e mais eficazes!
Sandra Martinelli é CEO da ABA e membro do executive committee da WFA
presidencia-executiva@aba.com.br