Em tempos de onipresença de IA, vale uma reflexão que antecede e extrapola qualquer iniciativa de comando de ferramentas de inteligência artificial: o tal do prompt. As máquinas necessitam comandos assertivos e bem elaborados para contribuir com o homem. Mas não só elas.
Os seres humanos também. Em todo trabalho coletivo ou mesmo naqueles conduzidos por líderes, o papel mais importante é a formulação da equação. Mais do que desenvolver respostas, precisamos ser precisos ao estabelecer perguntas.
Tem muita gente (e máquinas) com respostas prontas para perguntas que se repetem. Mas a inovação só acontece quando mudamos as perguntas.
Lembro-me de uma citação que me marcou num desses eventos (talvez Cannes Lions) tempos atrás: “Quando começo a ter boas respostas, vem um estraga-prazeres e muda as perguntas”.
É isso mesmo: o mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) muda as perguntas o tempo todo.
Na verdade, quem quer garantir boa performance hoje e no futuro, deve proativamente vislumbrar novas perguntas o tempo todo.
Nos dicionários, prompt é traduzido por incitar. Pois bem, a inteligência artificial deve ser incitada a gerar boas perguntas. Na verdade, a geração de um bom prompt deve ser precedida por uma incitação entre os humanos.
É o prompt do prompt. Em vez de temermos a IA, devemos lidar com ela com a maior eficiência. E tudo começa com um bom prompt.
Quem sabe formular um bom prompt e, depois, analisar e contextualizar com inteligência e perspicácia o que as máquinas gerarem de resultado, sempre terá lugar no mercado.
É o que disse David Droga, CEO da Accenture Song, no último Cannes Lions: “Você não vai perder o emprego para máquinas, mas, sim, para outro ser humano que saiba lidar melhor com elas”.
E completou: “Os melhores trabalhos do Cannes Lions contaram com a ajuda da tecnologia. Mas não eram trabalhos de tecnologia.”
Não devemos nos esquecer disso: as ferramentas tecnológicas são muito importantes, mas elas são somente isso: ferramentas. Ferramentas que devem ser bem manipuladas pelos humanos para obter bons resultados.
Voltando ao tal prompt. Por conta da inteligência artificial, ele está na moda, mas gostaria de resgatar sua importância na geração de qualquer trabalho, seja ele de IA ou convencional, envolvendo apenas humanos.
O briefing e a identificação das dores ou oportunidades são etapas de extrema importância antes de se iniciar um trabalho.
E só depois vem o prompt na sua concepção mais completa: de incitar, mas também de “levar a algo”, “encorajar”, ou seja: fazer acontecer com qualidade.
É quando você monta um squad com componentes encorajados, bem orientados, com ferramentas e conjunto de informações adequados para o desenvolvimento do job.
É quando você define um norte claro e estabelece o que deseja de resultado com clareza, mas também com liberdade para que sejam criadas soluções inovadoras.
Isso tudo tem a ver com o nascimento de um processo virtuoso em que o fundamental está posto, mas que não será um pecado questionar a respostas.
Mas é fundamental preestabelecer também os pontos que não serão passíveis de alteração. Exemplo de predefinição imutável: “A solução a ser encontrada deve preservar respeito total às questões ambientais, sociais e éticas”.
E complementar com as variáveis a serem consideradas em cada uma dessas dimensões. É assim que se constrói um bom prompt, mas também uma cultura de inovação com responsabilidade.
Deve-se “perder” um bom tempo na formatação da equação para que se pavimente um caminho virtuoso para a ideação. Estabeleça bem as regras do jogo e, depois, deixe a bola rolar.
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
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