Sempre que ouço alguém falar “não tenho tempo pra isso” eu reflito sobre o quanto essa frase é verdadeira.

Tempo, todos nós temos o mesmo, e muitas vezes obrigações e compromissos parecidos, mas o que se encaixa nele é uma decisão nossa. Não é uma questão de ter “pouco tempo” e sim, de prioridades. E cada um tem as suas.

Colocando o meu lado pessoal aqui, sou casado e tenho um casal de filhos pré-adolescentes. Claro que 90% do meu tempo desperto (e olha que durmo muito pouco) é dos três, do meu trabalho e de outras obrigações adultas.

Mas sempre temos aqueles 10% só nosso. E é essa fração de tempo que é disputada por todos os seus hobbies e paixões.

Sou um publicitário e estrategista especializado em games e tecnologia. Claro que o cenário gamer do trabalho ocupa lacunas de tempo diferente daqueles games que simplesmente jogo por lazer.

E, como um grande “apaixonado por hobbies”, sempre acabei escolhendo os mais malucos possíveis. Já fui da equipe de remo do Flamengo, atleta federado de tiro com arco, barítono em um coral e por aí vai.

Sem falar de outros hobbies, como ler compulsivamente, escrever, compor, tocar guitarra, ouvir e gravar podcasts, jogar RPG, videogame, desenhar e assistir filmes, séries, futebol americano, entre outros. Tudo isso lutando por esses 10% do meu tempo livre.

Às vezes escuto alguém dizendo “Não tenho tempo pra jogar videogame”, até com um leve ar de julgamento. Acho engraçado, porque depois descubro que essa pessoa joga futebol com os amigos todas as quintas e lê quadrinhos todo dia. Essas coisas estão na fila de prioridades dela e provavelmente os games estão tão longe que nunca cabem nesses 10%. Para mim, por exemplo, a academia de manhã é sagrada e obrigatória. E eu de fato poderia usar esse tempo para meditar, fazer um curso de pintura ou até dormir. Já a noite, o pouco tempo livre é disputado, como sempre, pelos hobbies. Um dia vou preferir ler mais 20 páginas do livro, já em outro, vou jogar um pouco. Fato é que o tempo que temos é o mesmo para todos, inexoravelmente.

Se olharmos para o mercado publicitário, não é diferente. Foi-se a época em que um canal de TV precisava disputar sua atenção com outro canal. Ou que uma revista mais interessante poderia chamar mais a sua atenção e converter uma assinatura.

Hoje, todas as marcas e produtos são concorrentes, já que elas disputam seu tempo a cada segundo. Internet, TV, redes sociais, esportes, estudos, música, arte ou livros estão querendo a sua atenção.

Talvez você dê ‘pause’ no game que está jogando porque acabou de receber uma promoção de pizza pelo app. Ou interrompa sua leitura porque o algoritmo daquela plataforma de streaming ofereceu algo que é mais interessante para você assistir naquele momento.

A luta pela sua atenção é real e está acontecendo todo dia, sem que você perceba. Marcas e serviços usarão seus artifícios para conquistá-la, a qualquer custo. Afinal, todos querem morder um pedaço destes 10%.

Pedro Derbli é head de gaming da Cheil Brasil