Um dia, o mais que querido amigo Edson de Godoy Bueno, membro eterno da Academia Brasileira de Marketing, e fundador da Amil, estava jogando tênis. Fevereiro de 2017, 74 anos. Dono da maior empresa de planos de saúde do Brasil, não dava muita importância a sua saúde. Cardiopata, sofre um infarto fulminante... “Como você pode imaginar, meu pai tinha acesso aos melhores médicos e hospitais... De certa forma foi uma das pessoas que criaram um setor da saúde do jeito que é hoje, mas esse setor falhou com ele...”, disse Pedro, a Daniel Salles, do jornal Valor. Pouco mais de um ano antes Pedro, 24 de idade, assume o comando da Dasa. Empresa resultante da soma do Lavoisier, Delboni Auriemo e Salomão Zoppi, mais 10 hospitais, a quinta maior rede diagnóstica de todo o mundo, 247,6 milhões de exames e 973 mil atendimentos médicos em 2020. O negócio do pai do Pedro, Edson, era a Amil. Com a venda da Amil em 2012 para a Unitedhealth, a família, capitalizada, comprou, em 2014, 75% da empresa controladora da Dasa.

“Meu pai era contra. Sempre quis que eu tivesse uma experiência executiva, achava que era um desafio muito grande para seu filho..., mas decidi encarar o desafio... Pensei, se tudo der errado, ninguém vai me culpar, porque tenho 24 anos. Vão culpar os loucos do conselho de administração que me colocaram aqui. Não tenho nada a perder... Ah, antes de aceitar a posição pedi carta branca a meu pai. Ele disse que daria, não acreditei, mas deu mesmo e de verdade...”. Hoje, mesmo ainda muito jovem, Pedro valoriza a trajetória que a vida e as circunstâncias determinaram a ele. “Você pode estudar gestão em Harvard, mas, na verdade, só aprende fazendo”. O que aconteceu com Edson, pai de Pedro e com um outro amigo, que morreram podendo ter driblado a morte se fossem mais atentos aos exames, definiu muito o reposicionamento da Dasa, e o nascimento da plataforma NAV, lançada no mês de abril de 2021. Segundo Pedro, um dos desafios da medicina era, e ainda é, de certa forma, a fragmentação. Cada uma cumpre uma etapa e dá sua missão por encerrada. Por exemplo, feito um exame, tudo o que o laboratório tem a fazer é entregá-lo para o paciente... E assim, muitos casos graves poderão permanecer adormecidos na memória de um computador, ou num exame não acessado... “Em nossa plataforma NAV, pretendemos diminuir esse tipo de risco. Através da NAV e além de consultas online, agendar exames, todos podem e devem consultar exames e compartilhar com médicos e parentes... “Nossos algoritmos conseguem detectar quando um paciente, por exemplo, está com câncer em estágio inicial e nos leva a tomar uma atitude. Podemos ir atrás do paciente ou do médico caso a caso, e oferecer o melhor tratamento a tempo, na hora certa... Hoje já são 450 mil pacientes cadastrados...”.

Pedro lembra que o sistema de saúde – clínicas, hospitais, médicos – nasceu nas grandes guerras do século passado, e ganhava dinheiro tratando de doenças. Daqui para frente terá de se viabilizar prevenindo doenças – é melhor e mais eficaz em todos os sentidos impedir um pré-diabético de tornar-se diabético, do que lidar, mais adiante, com as consequências da doença... Quando Edson morreu, a Dasa não dispunha de nenhum hospital... “Tudo o que tínhamos vinha funcionando muito bem, mas isso não atendia na plenitude às necessidades e expectativas de nossos clientes. Foi nesse momento que concluímos que nosso negócio não é fazer exame, é promover saúde”! “Daqui a alguns meses, em tese, a vacinação terá sido concluída. Mas o que vamos fazer com nosso país nos próximos 10 ou 20 anos? Falta uma narrativa para unir o país, e compete a todos nós escolhermos um novo líder para desempenhar essa missão”. Concordo integralmente com o Pedro de Godoy Bueno... Mais que chegou a hora de construirmos um novo e moderno Brasil.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
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