A Justiça em nosso país é mais lenta que tartaruga cega e manca. E, muitas vezes, quando uma contenda chega ao fim, as partes nem mesmo se lembram mais da razão da briga. De terem acionado a Justiça.

No ano de 1993, Heloisa Assis – a Zica – empregada doméstica, casada, três filhos, decidiu abrir seu primeiro salão de beleza. O primeiro e início de sua empresa de sucesso, Beleza Natural. Anos antes, inconformada com seu cabelo, desistiu dos processos convencionais de alisamento, fez um curso de cabeleireira na paróquia da igreja da comunidade.

Terminado o curso, decidiu criar um produto e método para pessoas que tinham o tal do “cabelo ruim” e estavam cansadas dos alisamentos. Misturou as químicas, utilizando bacia e colher de pau, testava o resultado no próprio cabelo, perdeu muitos cabelos, ganhou alguns buracos no couro cabeludo, mas, finalmente, chegou lá. Descobriu a fórmula.

O resto é história, Zica virou celebridade nacional e segue firme e forte com sua Beleza Natural, com 38 unidades e uma fábrica em Bonsucesso, e um faturamento estimado de R$ 1,5 bi no ano de 2020.

José Carlos Semenzato começou adolescente a revelar sua veia empreendedora, vendendo coxinhas feitas pela mãe e para ajudar nas despesas da casa.

Tinha 13 anos. Com 22, abriu seu primeiro negócio, a Microlins, convertendo-se, em poucos anos, na maior rede de escolas profissionalizantes do país, com mais de 4 milhões de alunos.

Em 2003, com outros dois sócios, fundou o Instituto Embelleze, e depois mais um negócio, outro negócio, mais outro ainda, e hoje é um dos reis do franchise em nosso país.

Em 2012, decidiu criar mais um negócio. A Beleza Pura, na cidade do Rio de Janeiro, o que determinou de imediato uma ação na Justiça pela Beleza Natural. De cópia grosseira do modelo de negócio, solicitando o imediato fechamento do novo negócio de Semenzato, mais indenização pela cópia e prejuízos causados.

Quase nove anos depois, o processo chegou ao fim. A Justiça não deu provimento à reclamação da Beleza Natural alegando que, no fundo, todos os salões de beleza são muito parecidos, e isso vem desde muitas décadas antes do nascimento da Beleza Natural... Mesmo tendo recorrido, a empresa voltou a perder.

Só que, e no meio do caminho, Semenzato e seus sócios preferiram direcionar seus investimentos para outros negócios, mais rentáveis e escaláveis, e desistiram da Beleza Pura...

É isso, amigos. Assim é a realidade da mais que injusta Justiça brasileira. Quando as questões chegam ao fim, e se chegam, muitas vezes as partes nem mesmo se lembram por que brigavam... Quando ainda estão vivas...

Mas, por outro lado, uma importante lição. Para que a cópia se caracterize num negócio convencional e de longa tradição, é preciso que os traços de exclusividade, individualidade, nas diferentes dimensões, sejam o suficientemente únicos para caracterizar eventual cópia. Caso contrário perda de tempo, energia e dinheiro.

Quase sempre, nessa injusta Justiça brasileira, prevalece o brocardo: “Mais vale um mau acordo que uma boa demanda”.

Francisco Alberto Madia de Souza é consultor de marketing
famadia@madiamm.com.br