Se eu escrevo porque eu estou aqui, é porque de alguma forma acredito que a minha razão possa ser também a sua, e talvez você só não tenha se dado conta antes.
Eu escuto há muitos anos em uma frequência alta: por que seguir na publicidade e propaganda? E esse questionamento vem de pessoas distintas, em momentos distintos, mas eu reparo quanta gente faz a mesma pergunta.
Uns dizem que falta nobreza, para outros falta propósito, alguns só odeiam o dia a dia (e para esses eu concordo que não é o lugar). A verdade é que eu gosto do que eu faço, mas tem razões maiores para estar aqui também. Com o passar do tempo eu entendi que o meu trabalho é uma caixinha importante da minha vida e que me traz autoestima. Ser produtiva e fazer parte de um mundo corporativo me desafia e me intriga. E desvendar os problemas e contribuir para desatar os nós, me motiva. E o fato de ser mulher e duvidar eternamente da minha capacidade, talvez seja o próprio combustível para ocupar cada vez mais esse lugar (Alô, Síndrome do Impostor).
Mas isso não é tudo. Eu adoro a ideia de que eu sou capaz de formar times e contribuir com a vida profissional das pessoas. Eu sei que isso é pequeno, se comparado ao todo, mas eu penso que se eu tiver melhorado a vida profissional de uma pessoa, já valeu a pena. E eu guardo algumas histórias em um lugar muito quentinho do coração. Descobri também que na propaganda a minha paixão/ou ódio por questões de gênero são um prato cheio para transformação. Especialmente quando a gente fala de mulheres e suas trajetórias profissionais, afinal, eu tive e tenho muita ajuda de mulheres na minha carreira. E quero retribuir.
Eu também tenho certeza de que eu estou no lugar certo quando consigo influenciar em um casting. Quando eu peço para a pessoa que está regando as plantas ser um homem e quem está saindo do trabalho ser mulher. Mais uma vez, parece pouco, mas para mim é enorme. Quantas pessoas vão ver essa representação aí fora e absorver isso sem nem perceber?
E por fim, como diria Lulu Santos, “eu vejo a vida melhor no futuro”... Eu acho que cada vez mais as marcas vão ser agentes culturais. Você, talvez, já saiba que não tem como construir cultura sem comunicação. Mas eu acredito que estamos caminhando para não ter como fazer comunicação sem construir cultura. As marcas vão precisar transformar a sociedade para serem vistas, ouvidas e especialmente amadas. E eu acho isso fantástico.
Eu me sinto no lugar certo quando ocupo meu tempo falando sobre como a energia de uma marca de cerveja é produzida, discutindo o papel contemporâneo da maternidade ou falando com um cliente de autos sobre a possibilidade de minimizar acidentes de trânsito por meio da comunicação. E, claro, que tem muito mais coisa nesse pacote e sem ingenuidade também sei o tamanho que essa contribuição tem no todo. Mas a verdade é que eu tô aqui. Você também está. E podemos fazer nossas perguntas separados. Mas a resposta, seja ela qual for, é juntos!
Juliana Elia é head de estratégia da Publicis Brasil