Dez anos atrás, trabalhei com uma pessoa incrível, dedicada, ética, curiosa, mas que, em uma reunião com um cliente estrangeiro, travou. A conversa era em inglês, ele achou que estava pronto, mas claramente não estava.

Ao término da ligação, ele pediu desculpas e disse “Eu não estou pronto, não dou conta, não entendi nada”. Eu respondi: “Bom, então o que resta a fazer é estudar. Hoje foi difícil, mas a gente precisa começar”.

O tempo passou e, quase dois anos atrás, voltamos a trabalhar juntos. Dessa vez eu o convidei a encarar o “monstro” do inglês, porque não me conformava como uma pessoa com tanto talento se colocava nos bastidores quando os resultados do trabalho deveriam ser apresentados a clientes que não falam português. Ele abraçou o desafio.

Poucas semanas atrás, tivemos, novamente – em um caso superdelicado para o cliente – uma reunião em inglês. E logo ele me disse: “Pati, eu conheço esse caso de trás para frente, gostaria de liderar a conversa”.

Ele fez a ligação, ainda um pouco nervoso no começo, com um errinho ou outro, mas entregou. Entregou muito. E eu fiquei super orgulhosa dele, porque ele teve coragem de se jogar, de identificar um ponto fraco e ir atrás da melhoria, de não se intimidar pelo nervosismo e pelo medo de ser julgado pelos outros. Aliás, foi julgado, sim, e devidamente celebrado, não apenas por mim, mas pela cliente, que sabia que era a sua primeira ligação em inglês, pela sua conquista naquele momento.

No final das contas, foi um ato de amor-próprio, de alguém que cuidou com carinho da carreira. Não no discurso – na prática. Na forma como a gente se respeita, se escuta, identifica onde pode melhorar e vai atrás.

É claro que evoluir sozinho é possível, mas esse caminho não precisa (e não deveria) ser solitário. Ambientes seguros, nos quais seja cultivada uma cultura de acolhimento, em que seja possível se desenvolver, testar caminhos e até errar, sem medo, no qual ter sotaque é símbolo de coragem, e não motivo de vergonha, fazem diferença. Porque quando o foco está sempre em querer alcançar a sua melhor versão, os acertos e grandes entregas se ampliam, e as pessoas podem celebrar a beleza de ser quem são e das histórias que construíram.

E, nesse Dia dos Namorados, fiquei pensando nisso. Amor tem muitas formas — romântico, familiar, entre amigos — mas talvez o mais transformador de todos seja o amor-próprio. Amar a si mesmo é mais do que se aceitar; é cuidar de si com ações consistentes, com disciplina, com gentileza. É ter coragem de enfrentar os próprios medos, se comprometer com o próprio crescimento, e não se abandonar. Porque ser fiel a si mesmo é um ato de amor profundo — é reconhecer suas imperfeições, se expor ao desafio e, ainda assim, seguir em frente. E quando isso acontece, as vitórias deixam de ser apenas individuais: tornam-se inspiração para todos ao redor.

Patricia Barboza é advogada especializada em Direito Trabalhista Empresarial