Transparência virou a palavra de ordem no mercado de comunicação. Em movimentos separados, entidades representativas de agências especializadas do setor lançaram recentemente campanhas para pedir concorrências com regras mais justas e transparentes. A primeira delas foi a Ampro (Associação de Marketing Promocional), que representa as empresas de live marketing. A entidade lançou uma campanha em que critica o tratamento que as empresas do setor têm recebido, e pede mais respeito e empatia por parte de marcas e anunciantes.
A entidade usa a sigla ESG, que expressa práticas sustentáveis sob o ponto de vista social, ambiental e de governança, para fazer uma analogia, intitulando a ação ESG - Estamos ESGotados.
“Depois de dois anos massacrados pela pandemia, não podemos executar as atividades nas mesmas condições de antes, como processos equivocados de concorrência job a job, prazos extensos de pagamento e não sendo tratados como parceiros estratégicos ou com o respeito que merecemos”, afirmou Heloisa Santana, presidente-executiva da Ampro.
Na esteira, a Abracom (Associação Brasileira de Comunicação), que representa as agências de relações públicas, revelou que a partir de julho lança a segunda etapa da campanha #Respeito às agências.
Ausência de transparência em concorrências, briefings vagos, verbas inadequadas, descumprimento de contratos, pedidos extras e outros pontos estão entre os itens que comprometem a saúde do trade que, segundo Daniel Bruin, presidente da Abracom e sócio da Xcom, tem como principal asset construir reputação de marcas.
Em artigo nesta edição, intitulado Conversando a gente se entende, Nelcina Tropardi, presidente da ABA (Associação Brasileira de Anunciantes), fala que o mercado publicitário e de comunicação busca incansavelmente por liberdade, transparência, ética e responsabilidade, conceitos e características que, em tempos de guerra e desproporcional polarização, podem se perder, resultado da falta de conciliação, empatia e equilíbrio. Mas, segundo ela, “para a ABA é e sempre será tempo de união!”
Vale pontuar que as agências de live marketing, de PR e as produtoras convivem com prazos de pagamentos de até 120 dias.
Na semana passada, a ABA também realizou evento para discutir as melhores práticas no relacionamento entre agências e anunciantes, que derivou de discussões que reuniram mais de 80 profissionais ao longo do ano passado para criar o guia de melhores práticas da entidade, com contribuições sobre como ter um ambiente de negócios mais saudável e sustentável.
Em um dos painéis, Frank Pflaumer, CMO da Seara e 1º vice-presidente da ABA, disse que as conversas tocaram em pontos essenciais para a evolução da indústria, que se perdeu ao longo do tempo por não discutir sobre o modo que as coisas se davam. “Tem de deixar essa abertura para trocas e entendimentos, que o relacionamento se estabeleça com confiança, com modelos que sejam atrativos para todos os lados”, afirmou Sheila Vieira, gerente de suprimentos indiretos de marketing e varejo do Grupo Boticário.
Em comum, os movimentos pedem que as ações saiam do discurso e sejam efetivamente colocadas em práticas. Do lado das agências de publicidade, Marcelo Tripoli, fundador e CEO da Zmes, afirmou que há práticas consideradas abusivas, como concorrências com dezenas de agências convidadas e aquelas criadas apenas para forçar a renegociação dos valores. Para ele, a mudança no mercado só será possível se os anunciantes impulsionarem o processo, logo que são os “donos” do dinheiro.
Armando Ferrentini é publisher do PROPMARK