Duas experiências recentes me inspiraram a escrever este texto. A primeira foi uma leitura detalhada do excelente resumão que a Binder e parceiros fizeram sobre os insights captados no último SXSW.

A Binder tem feito esses reports a cada edição do SXSW e são realmente muito bons para filtrar o imenso conteúdo gerado no evento. Se você ainda não leu, recomendo fortemente.

O segundo foi uma sessão de design thinking que conduzi para um cliente, com o objetivo de gerar um posicionamento institucional, além de uma revisão de Missão, Visão, Valores e Propósito.

O report da Binder é cheio de referências alusivas à valorização do humano no processo de inovação. Parece óbvio, mas precisamos ficar atentos para não achar que a tecnologia, os algoritmos, a inteligência artificial vão cuidar de tudo e nós seremos meros espectadores.

Como disse Rohit Bhargava, fundador da Non-Obvious e autor de diversos best-sellers, na sua palestra no SXSW: “A maior vantagem competitiva é ser genuinamente humano”.

Com o crescimento da IA, o diferencial não será quem tem mais dados, mas quem compreende melhor as emoções, os desejos e o comportamento das pessoas.

De fato, os comportamentos humanos essenciais como confiança, empatia e curiosidade continuarão moldando o futuro, independentemente dos avanços tecnológicos.

No meio de muitos insights do relatório, encontramos a frase: “A tecnologia precisa de propósitos”. Precisamos refletir muito sobre os rumos da IA: será ela um motor da equidade ou amplificador de desigualdades?

Corporações, marcas, produtos precisam de propósitos. E esses propósitos não podem estar centrados somente na geração de lucro e crescimento. É claro que o lucro e a capacidade de crescer são atributos fundamentais para a perenidade das empresas. São bases essenciais do capitalismo.

Mas as empresas não podem ignorar sua responsabilidade perante um mundo carente de maior atenção às questões urgentes de natureza socioambiental. O ‘Trust Barometer’, pesquisa desenvolvida anualmente pelo Edelman Group, aponta claramente o nível positivo de confiança que as empresas têm, em comparação com outras instituições, como governos e ONGs.

Na verdade, o estudo mostra que as empresas são a única instituição confiável, aos olhos dos entrevistados.

Mas, por outro lado, essa confiança vem acompanhada de uma cobrança: espera-se das empresas que façam algo pelas pessoas e pelo planeta – e não somente para seu lucro.

Desenvolver bons produtos ou serviços e disponibilizá-los a bom preço já não basta. É preciso mais! É preciso fazer isso com um olhar empático e sensível para a sociedade, como um todo. O bom disso tudo é que esses conceitos não são excludentes.

É possível adotar uma gestão consciente, de respeito à ética e às questões socioambientais, sem abrir mão do lucro.

Não à toa, o meu cliente, que já vem adotando práticas e princípios alinhados a um propósito maior, tenha tido um dos melhores resultados da sua história em 2024 e preveja um 2025 ainda melhor.

Não se deixe enganar pela atitude de alguns governantes e empresários oportunistas e insensíveis que saíram do armário lá pelos lados do Tio Sam. Que o diga o maior evento sobre inovação, que acontece naquele país.

Inovação, sustentabilidade e ética estiveram no centro das discussões do SXSW, ressaltando a urgência de um novo pacto entre progresso e responsabilidade.

O futuro não pode ser pensado sob a ótica egoísta do indivíduo ou da empresa. Precisamos pensar de forma mais abrangente, planetária.

Mais do que nunca, os princípios que norteiam o capitalismo consciente devem prevalecer, principalmente o olhar para todos os stakeholders.

Se sua empresa conseguir adotar um propósito nobre e genuíno, o bom resultado é mera consequência.

Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br