Onze de outubro de 2002.

Foi neste dia que entendi, com mais clareza, o significado de algumas palavras: amor, orgulho, inspiração.

Neste dia, dei à luz Sofia, minha primeira filha. Foi uma cesárea, no susto; depois de um exame de rotina, tive de correr para a maternidade - ela estava sem se movimentar e não havia tempo a perder.

“Vá para casa, pegue suas coisas e me encontre no hospital”, disse meu cunhado, médico anestesista e quem fez o parto. Eu já intuía algo de errado, senti na noite anterior que os chutes haviam diminuído.

Apesar do susto, a danada nasceu linda, coração batendo forte, com os olhos azuis mais puros que eu já havia visto e senti uma explosão de emoção.

Naquele momento, entre o seu choro alto e as conversas dos enfermeiros e médicos, desejei um punhado de coisas, mas o que eu realmente desejei foi protegê-la para o resto da minha vida. Era um amor que chegava a doer, ouso dizer que ardia.

Meu coração batia forte, a respiração era curta, eu chorava de alegria. E de medo também. Que baita responsabilidade eu tinha em minhas mãos.

Como não me comprometer para que nada de mal lhe acontecesse?

Eu me atirei por completo à experiência da maternidade.

Fui, aos poucos, fazendo várias promessas: ser uma mãe presente, carinhosa e acolhedora; brincalhona e engraçada para animá-la nos dias tristes; dura e com limites, na medida certa. Lógico que, na prática, tudo foi diferente. Quantas vezes me vi completamente perdida. Esses microsseres nos desestabilizam com uma facilidade enorme.

Voltei ao trabalho depois de quatro meses de licença. Dava a mamada da manhã e voltava o mais rápido que podia para a da noite. Gostava dessa intensidade de atividades, ser mãe e trabalhar intensamente. Sair de casa e ir para o escritório, acreditem, era também uma forma de descanso. Os anos foram passando, Sofia cresceu e, eu me inspirei a ter mais alguns filhos.

Por que não duplicar, triplicar, quadruplicar este amor?

Vieram mais três: Fernando, dois anos e meio depois, e, mais tarde, os gêmeos André e Gabriel.

Além dos meus amigos, do trabalho e família, os meus coalas (essa é a maneira que me refiro a eles), me motivam a ser essa mulher que sou hoje, cheia de funções, inquieta, apaixonada pela vida e orgulhosa da minha trajetória.

Ser mãe havia me proporcionado, até então, a minha maior realização, seguida pela minha profissão, que tanto me faz evoluir e ser feliz. Trabalho e maternidade, para mim, sempre caminharam juntos. O trabalho me dá a chance de ser uma mãe melhor e vice-versa. Que privilégio eu tenho.

Nos últimos meses, também estou vivenciando a alegria de ter uma cachorra, a Blue, que foi encontrada numa rua no extremo sul de São Paulo, enquanto um dos meus filhos fazia um passeio com a escola. Ficou internada, quase não sobreviveu. Foram dois meses de sofrimento. E de um novo amor imenso que nascia.

Recentemente, fiz uma uma viagem ao Egito com os quatro. Uma viagem que proporcionou conhecimento, experiências novas, risadas. Mas, mais que tudo isso, ela gerou conexão. Sem wi-fi em grande parte do dia, fomos “obrigados” a olhar as paisagens, conversar, rir de nós mesmos.

Eu trabalho para quitar muitos boletos, mas, acima de tudo, para mostrar o mundo aos meus filhos. Esse é o meu lema de vida enquanto ainda consigo levá-los.

Voltei recarregada da viagem e com o sentimento de missão cumprida. Ouvi gente dizendo que era uma loucura eu, uma judia, fazer turismo num país muçulmano - e ainda com quatro a tiracolo. Loucura é não ir.

Retornei ao trabalho disposta e já começando a economizar para a próxima viagem. Os filhos crescem rápido e seguem os próprios caminhos.

Outro dia li sobre a previsão do tempo: ele está passando, aproveite!

Natasha Szaniecki é head de comunicação, RP, marketing e mídias sociais na Endemol Shine Brasil