Ouvi essa frase de Washington Olivetto três anos atrás. Ele visitava a agência para nos entregar o Grand Prix do Cresta Awards, a pedido de Alan Page, seu amigo de Londres e manager do festival. A conversa foi boa. Sobre o mercado publicitário, sobre a vida, em meio a tietagens de nós, seus fãs. E daí ele manda essa. Achei um pouco fora de contexto na hora, mas a frase ficou na cabeça. Éramos 15 pessoas então, hoje somos 130 e agora faz um pouco de sentido. Fora a visão de jogo dele, no palpite de que poderíamos crescer, como vem acontecendo.

O craque que, pressupostamente no imaginário coletivo seria o responsável por todos os grandes lances de um dos melhores times de sempre, adverte: meu, passa a bola e dá lugar para outros fazerem o gol. Conselho inteligente e generoso. Lembrei-me daquele vídeo famoso de Cristiano Ronaldo no YouTube, na conquista da Copa da Europa, dando um esporro no Moutinho, seu colega de seleção portuguesa que estava com medo de bater o pênalti na final: “Anda, venha bater. Se perder, foda-se. Você bate bem! Força!”

O time precisa acreditar que consegue. Quando você tem recursos para contratar estrelas é uma coisa, mas a realidade hoje é criar o time de base para o profissional. O mais difícil na formação do time é fazê-los entender que podem ser o que quiserem e chegar onde desejarem. A lógica é simples, ser o melhor do seu bairro, da sua cidade, do seu estado, do seu país ou do mundo dá basicamente o mesmo trabalho. A excelência é uma só. Se você mirar no mais difícil e inalcançável e errar por pouco, já vai ter um resultado melhor que achava que poderia. Mas é preciso coragem e disciplina para chutar essa bola na frente e correr atrás. Mas daí é aquela história que tem na frase do Washington, mas pouca gente presta atenção. Deixar o outro bater o pênalti requer um distanciamento, uma renúncia e abnegação gigantesca. Quem vai sozinho e rápido, chega logo ali. Quem vai em time e constante, chega longe. E, reconhecer o talento do outro é só para os grandes. Em todos os podcasts ou entrevistas do Washington ele elogia alguém com quem trabalhou. Um cliente, um sócio, funcionário ou colega. E todos sabemos que o cara é amado por publicitários e artistas consagrados. Ele até fala bem dele também, mas ele é o Washington, pô.

Pessoas geniais sabem muito. Pessoas geniais e generosas sabem muito e espalham o que sabem para quem sabe pegar nas entrelinhas. Semente boa em terreno fértil vira flor. Semente boa em terreno ruim vira comida de passarinho. Mas esses caras semeiam. Lembro do Washington numa palestra em São José do Rio Preto, 30 anos atrás, convidado pela TV Tem, a retransmissora Globo da cidade. Não entendi muita coisa na época, mas lembro que abriu minha atenção para a publicidade.

As pessoas bacanas e relevantes são assim: vão semeando palavras, dicas, ensinamentos e palpites como um ato contínuo normal. Mas tem muito ali. É preciso saber ouvir e entender. O milagre e a mágica estão nos olhos de quem os vê e no sentimento de quem escolhe sentir. Cansei de tirar grandes momentos de situações banais. É por isso que uma das grandes vantagens do criativo não é tanto a inteligência, mas a imaginação, a curiosidade e a empatia. Curiosidade é uma qualidade quando se faz algo bom com ela. Como resolver problemas. Se cada problema a ser resolvido é um pênalti, precisamos de times com grandes batedores jovens, pela força e fome de vencer e precisamos também de grandes batedores com experiência e visão de jogo. “Anda, venha bater. Se perder, foda-se. Você bate bem! Força!”

Flavio Waiteman é CCO/founder da Tech and Soul
flavio.waiteman@techandsoul.com.br