E dona da minha vida! Essa é a maior afirmação que carrego comigo todos os dias. Nós, mulheres, nascemos achando que não somos capazes de muita coisa, que não vamos conseguir ocupar grandes espaços, que temos vidas fadadas a determinado espaço ou fim. Por algum tempo, me senti dessa maneira, mas busquei dentro de mim força e obstinação. Para quem me conhece de perto sabe, eu amo o que eu faço, eu sinto que muitas vezes não é um trabalho, é um hobbie, são horas do meu dia entregando projetos com propósito e paixão.

Sempre fui persistente, convicta do que queria atingir na minha carreira ao longo desses mais de 25 anos. Fui me preparando, obtendo conhecimento de áreas das empresas que passava, eu procurava, investigava, aprendia, até virar especialista. Tive um sócio também que me incentivou, o Ricardo Marques, na época da Music2!. Ele acreditava em mim e nas minhas decisões, me apoiou quando eu quis empreender e criar a Mynd, em 2017. Hoje sigo tendo apoio do Carlos Scappini, meu sócio, do Marcello Azevedo e de tantos outros que estão comigo na empreitada. Isso, para dizer que há homens que acreditam que é possível e respeitam. Que pena que ainda são poucos. O mercado e a sociedade brasileira ainda são retrógrados, machistas e misóginos.

Dados de 2023 da FIA Business School mostraram que 38% dos cargos de liderança no Brasil são ocupados por mulheres. Na Mynd, estamos indo para além desta estatística. Temos mais da metade da liderança - 60% - sendo ocupada por mulheres, em diversos cargos hierárquicos, todas muito competentes e batalhadoras. Eu me sinto mais confortável muitas vezes contratando mulheres, pois sei que juntas vamos trocar ideias, celebrar conquistas, quebrar barreiras e conversar quando o sentimento de culpa vier.

E, infelizmente, ele ainda vem! A sociedade aponta o dedo para nós mulheres sempre e quando você trabalha, é bem sucedida, falam que você não pode, que você não vai conseguir criar seus filhos, estar com eles em todos os momentos. Mas, aí, eu respondo - Eu posso ser CEO, bem-sucedida no meu trabalho e posso ser uma boa mãe. Prefiro qualidade de tempo com meus 3 filhos do que quantidade. Eu quero que eles vejam minha felicidade e amor atuando e entendam que isso faz parte do que eu sou. E eles veem. Minha filha me disse que prefere me ver feliz, trabalhando, motivada, do que em casa apenas cuidando dela e dos gêmeos. É uma visão que me deixa feliz, porém respeito e conheço mulheres que optam por outro caminho; são pontos de vista e decisões de vida.

A fala totalmente arbitrária, equivocada e ignorante de Tallis Gomes, que menciona não querer ter uma mulher CEO, pois ela vai passar por processo de masculinização e vai colocar o lar, marido e filhos em segundo e terceiros planos, é estarrecedora. Eu já fui acusada de trabalhar tanto que não tinha tempo de criar meus filhos e eu ganhei, porque eu posso, sim, ser líder de uma grande empresa, educar meus filhos, ter um relacionamento saudável e ser feliz. Também posso ser feminina, se eu quiser ser, afinal isso também é só um estereótipo fraco. Masculinização é ser grosso, estúpido? Prefiro ser coerente, estratégica, valorizar meu time e trazer diversidade.

Em outra fala, ele comenta: "Homem que tem condição de bancar a sua mulher e não o faz, está perdendo o maior benefício de uma mulher, que é o uso da energia feminina nos lugares certos, lar e família." A energia feminina não pode ser usada com estratégia, conhecimento e criatividade? Dados recentes da organização Leadership Circle apontam que as lideranças femininas refletem maior eficácia do que homens em todos os níveis de faixas etárias e gerenciamento. Mulheres constroem relacionamentos mais autênticos, têm mais propensão de mentalidade criativa, jogam em time para que todos ganhem. Foram analisados mais de 84 mil líderes e 1,5 milhão de avaliadores. Ou seja, temos sim muito potencial.

Parabenizo todas nós CEOs e mulheres em cargos de liderança pela força e coragem em avançar mesmo num mercado ainda tão segregado. Não é fácil, mas todas temos total capacidade e conhecimento. O melhor exemplo que podemos dar para nossos filhos e para as próximas gerações é que é possível, sim, ser bem-sucedida, trabalhar com propósito, amor e vencer juntas porque realmente assim somos mais fortes.

Fátima Pissarra, CEO da Mynd

Crédito: Marcos Duarte