Nunca fui muito fã da Fórmula 1. Mas também fui arrastado pela onda do Ayrton Senna ali pelo fim dos anos 1980, início dos anos 1990. As famosas manhãs de domingo me pegaram, como a tantos milhões de brasileiros.

Em 1º de maio de 94, a curva Tamburello, que depois desse dia virou uma “chicane” para diminuir os riscos de acidente, me fez chorar e me tirou pra sempre da frente da TV, quando o assunto era F-1. Barrichello, Massa e outros menos notórios não conseguiram reacender, nem em fogo brando, a chama dessas corridas no meu coração.

Eis que me deparo com Fórmula 1: Drive to Survive, na Netflix.

A série é de 2019, portanto, devo ter cruzado com ela várias vezes pilotando meu controle remoto, mas nunca me chamou a atenção. Como, em tempos de prisão domiciliar, estou quase zerando os streamings, resolvi dar uma espiada, sem muita expectativa.

E, olha: poucas vezes vi uma peça de comunicação tão eficiente para vender um produto. No momento em que se fala muito em conteúdo, formatos diferenciados, essa série é uma aula de marketing. Marketing com muita grana e muita influência, não se pode negar. Mas muito bem-feito. Storytelling da melhor qualidade.

Não imaginava que aquelas corridas e tomadas de tempo insossas pudessem ser mostradas como guerras psicológicas, duelos infernais, disputas de poder financeiro, de um jeito que prende o espectador.

Eu nunca tinha ouvido falar em Lance Stroll, o filhinho de papai bilionário que ganhou uma escuderia pra pilotar um F-1. Nem em Alex Albon, piloto tailandês de família de classe média que lutou bravamente pra chegar à categoria principal do automobilismo e durou pouco, colocado pra fora, por Hamilton, de duas corridas em que chegaria bem e ganharia moral.

Também não conhecia Claire Williams, filha do lendário Frank William, que fez de tudo para manter a paixão do pai, mas, sem conseguir resultados, acabou vendendo a equipe para um fundo de investimentos americano.

Storytelling, storytelling, storytelling. Na veia. Resultado: no último domingo de corrida, lá estava eu na frente da TV, sintonizando a Band – isso mesmo, agora é na Band – pra ver se meus novos coleguinhas pilotos se dariam bem na pista.

Fiquei íntimo dos caras.

Bingo. Eles me pegaram. Mais uma prova de que comunicação bem-feita sempre dá resultado.

Fórmula 1: Drive to Survive me lembrou de um outro conteúdo totalmente fora da caixinha, aliás, um dos mais fora da caixinha que eu já vi, até porque faz tempo: o filme O Náufrago, com Tom Hanks.

De 2001, ou seja, lá se vão 20 anos, o filme foi a peça publicitária mais brilhante que a Fedex fez na vida. Gente, que final é aquele em que o cara, depois de 4 anos perdido numa ilha, ainda vai entregar o último pacote que restou intacto na casa de uma cliente? Ok que a cena significava muito mais na trama, mas o funcionário da Fedex cumprir seu trabalho apesar de tudo é um show de roteiro.

Aliás, acho O Náufrago tanto brilhante quanto corajoso. Que cliente aprovaria um avião da sua frota, com a marca gigante, caindo no começo de um filme?

Fortune favors the brave.

Rodolfo Sampaio é sócio e CCO da Moma (rodolfo@momapro.com.br)