Geleiras nos polos da Terra derretendo numa velocidade nunca vista, tempestades mais constantes e devastadoras, temperaturas em ascensão, incêndios de proporções assustadoras.
O alerta quanto às mudanças climáticas foi dado há algum tempo. Basta lembrarmos a cruzada do ex-presidente dos EUA, Al Gore, que fundou o Climate Reality Project, em 2005.
Gore criou uma impressionante apresentação, com previsões catastróficas, caso o aumento da temperatura da Terra não for contido. Essa apresentação correu o mundo (foi exibida inclusive no Cannes Lions
e aqui, no Brasil), mas não foi suficiente para sensibilizar, de forma definitiva, os governantes.
Mesmo os EUA, liderados por Trump, desdenharam e até ridicularizaram as previsões. Pois bem, o alerta demorou a ser levado realmente a sério e provocar uma orquestração mundial para que a Terra não alcance o ponto de não retorno.
Na COP 26, realizada em Glasgow, no ano passado, houve avanços com relação ao Acordo de Paris, fazendo com que 198 países participantes se comprometam a informar, detalhadamente, as emissões de GEE – Gases de Efeito Estufa até 2024, abrindo a possibilidade da aplicação de planos emergenciais mais efetivos.
Mas isso tudo ainda é pouco. Grandes potências resistem a mudanças mais drásticas de redução de emissão de GEE devido ao custo da mudança e ao tempo necessário para processá-las.
E assim vamos vendo avanços significativos pontuais, mas ainda titubeantes, por parte dos maiores emissores. Há ainda o atual impasse na Europa, que se vê pressionada a usar fontes de energia mais poluidoras, como o carvão, em função do boicote ao gás da Rússia.
O barateamento da energia solar e eólica permitirá um avanço importante dessas energias limpas, mas não a tempo de uma reversão no curto prazo.
Tic, tac... O relógio do clima começou a bater mais rápido com o novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), recém divulgado.
O relatório é enfático em antecipar para 2025 o ponto de inflexão das emissões de gases de efeito estufa. Ou seja, se isso não acontecer, o limite de aumento de temperatura da Terra em 1,5% poderá ser comprometido, causando efeitos irreversíveis ao clima terrestre.
Tic, tac, tic, tac... Só temos três anos para fazer as emissões de GEE caírem e chegarem a uma redução de 43% em 2030 (em relação a 2019). O estudo é muito sério.
O documento final tem 278 autores e recebeu mais de 60 mil comentários de especialistas, além de levar em conta 59 mil artigos científicos. Sob administração de um governo claudicante, o Brasil é o 4º emissor de GEE do mundo.
Apesar de ter uma matriz energética privilegiada – mais de 80% oriunda de fontes renováveis –, o Brasil tem o problema do desmatamento e do uso do solo, além das emissões de metano da agropecuária. O tic tac do clima é angustiante, mas é também uma oportunidade para o país.
Os créditos de carbono representam um caminho virtuoso para o Brasil, que pode melhorar ainda mais sua produtividade no campo e manter suas florestas de pé. Prevê-se que o mercado de carbono supere o valor do de petróleo até 2050.
Mas quem terá a coragem de deixar o petróleo existente embaixo dos seus pés intocado e privilegiar uma economia verde, baseada nos créditos de carbono? A Noruega acaba de fazer isso. Rico em petróleo, aquele país está disposto a ignorar novas perfurações, em benefício do planeta.
A nossa Petrobras, ao contrário, centra esforços e investimentos na exploração
de novos campos de petróleo. Um movimento no mínimo questionável, já que a exploração iniciada hoje só dará frutos lá pelos 2030, quando o mundo todo estará buscando metas de energia mais limpa e sustentável.
O certo é que, mais do que nunca, é necessária uma ação imediata. Tic, tac, tic, tac... Será que evitaremos o boom?
Alexis Thuller Pagliarini é sócio-fundador da ESG4
alexis@criativista.com.br