Castrinho estudou no Colégio Militar. Que Castrinho? Ora, Castrinho, aquele do Geraaallllldo! Castrinho.

Ele foi um dos mais conhecidos alunos do colégio nos seus vários centenários de existência. Era conhecido porque foi brilhante em história, matemática, geografia, inglês?

Não, foi péssimo nessas matérias, e que se lhes acrescentem português, educação física, química e física. Foi medíocre nelas todas. Outras matérias houvesse, nelas Castrinho seria um fracasso.

No entanto, posso garantir que foi mais do que conhecido, foi amado. De certa forma, que me perdoem as personalidades que se formaram no colégio ao longo de sua extensa vida, um exemplo a ser seguido.

Entre outras contribuições imorredouras ao acervo cultural da veneranda instituição, Castrinho organizou com desvelo a fanfarra vocal, inesquecível pela qualidade canora de seus integrantes e encantadora harmonia da união das vozes.

Vocês sabem como funciona uma banda vocal: há um fundo de percussão, que imita o som dos taróis e dos repiniques cantando “toma limonada pra cagar de madrugada… toma limonada pra cagar de madrugada…toma limonada pra cagar de madrugada…”.

Na marcação, entra o surdo, também cantando: “bundão… bundão… bundão…”. Sobre esses sons, entram os acordes rampantes da corneta em voz aguda: “cu da mãe tem dente… morde o pau da gente…”

Em assemble ouve-se “toma limonada pra cagar de madrugada… bundão… toma limonada pra cagar de madrugada… bundão… bundão”. Emocionante.

Uma vez Castrinho – general da banda -, desfilava pela Tijuca com sua orquestra, em passo marcial, peito erguido, misto de caricatura e homenagem, quando se encontrou com um general de verdade, cheio de medalhas como lata de azeite.

Conhecedor da ritualística militar, Castrinho deu voz de comando “alto!”, prestou continência, e se apresentou.

Permaneceu em posição de sentido, até que recebeu o cumprimento em resposta. Sem um único sorriso, sério como se espera, deu ordens para prosseguir.

E a trupe desceu a rua: “toma limonada pra cagar de madrugada… bundão… bundão…”

Pois bem, há pouco tempo Castrinho teve de ir a uma solenidade das mais importantes, de altíssimo escalão, cheia de pompas e circunstâncias.

Nível de Supremo pra cima. Gente togada, com poderes de vida e de morte, capaz de botar deputado em cana.

À certa altura, quem chega, paramentado como Rei Etíope de Rancho? Sua Excelência Altíssima, ministro em chefe, juiz dos juízes, A autoridade, O fodão, O pica. Quem?

O antigo clarim da banda de Castrinho. O velho aluno Caniço, magro e desengonçado, com talento para imitar com a boca o som exato de uma clarinada: “Cu da mãe tem dente… morde o pau da gente…” Castrinho, emocionado pelo encontro, vai até ele e pergunta em voz alta: “Tu tem hemorroida, Caniço?”

A autoridade reconhece o velho companheiro, fica sem jeito, sorri amarelo e se dá ao trabalho de responder: “Não, Castrinho”. Ao que ele responde, sério: “Então esse cu ainda me interessa”.

Continua solto. E amado. Castrinho. O maestro da banda do Colégio Militar. Meu ídolo.

Lula Vieira é publicitário, diretor do Grupo Mesa e da Approach Comunicação, radialista, escritor, editor e professor
lulavieira.luvi@gmail.com