Com a mente de uma profissional de Marketing que atua numa promotora de eventos no Brasil, visitei em fevereiro duas importantes feiras na Alemanha: a Spielwarenmesse, a maior da indústria de brinquedos, e a Ambiente, que abraçou a Paperworld, referência em papelaria, decoração e materiais relativos a este universo. Das minhas impressões podemos tirar diversos insights para os eventos brasileiros.
A Spielwarenmesse, realizada em Nuremberg, me surpreendeu desde que desembarquei no aeroporto. O posicionamento do evento era nítido e a cidade realmente se torna uma Toy City, como promete. A cidade estava toda sinalizada - hotéis, estações de trem e diversos pontos – comunicavam a feira. No pavilhão, eu e a Luciana Ramos, gerente de produtos da Francal que me acompanhou nesta jornada de aprendizados, tivemos uma recepção calorosa. A decoração era bonita, uma banda tocava música de boas-vindas, o staff era simpático e altamente treinado para fornecer informações. Fomos acolhidas pelo alto astral e clima de encantamento que se espera em uma feira de brinquedos.
Também me chamou a atenção o bom aproveitamento dos espaços, os corredores sinalizados adequadamente, a temperatura agradável e a boa circulação: os pavilhões estavam cheios, mas transitáveis, sem aglomerações. A credencial não era exigida para visitar os estandes, o que numa feira de negócios faz toda a diferença e proporciona uma experiência diferenciada junto ao expositor e ao produto porque dá a chance de testar e de conversar com o representante da marca, sem a necessidade do inconveniente, mas ainda comum, ‘cara-crachá’ para ser bem recebido. Enfim, a feira me encantou em muitos sentidos.
Na sequência, emendamos a visita à Ambiente, em Frankfurt. Como eu tinha vindo desta experiência gratificante em Nuremberg, meu olhar ficou mais exigente e atento aos detalhes. Mas apesar do meu esforço em não comparar, a feira deixou a desejar em termos de experiência de visitante. Como realizamos a Escolar no Brasil, meu objetivo era conhecer a PaperWorld, uma franquia famosa desde 2012. Porém, em 2023, por decisão da promotora, ela foi incorporada à Ambiente, que tem como foco decoração. E, para completar, esta edição agregou outros dois eventos: a Christmasworld e a Creativeworld.
Conclusão: a união dos 3 eventos, que teoricamente estava correta e sinérgica, acabou tornando a experiencia do público, que estava em busca de stationery, um pouco complicada. O público interessado em papelaria ficou sem referência, já que a credencial dava acesso aos três eventos e, dentro do pavilhão, não havia setorização que atendesse completamente aos expositores e estes visitantes. Precisamos garimpar bastante até encontrar os estandes que eram do meu interesse, sem contar que estandes do meu interesse estavam literalmente espalhados por muitos dos 15 pavilhões da feira.
Do ponto de vista de marketing, ficou evidente que a feira passa por um momento de mudanças e o posicionamento da marca não era claro. As pessoas ainda buscavam a PaperWorld, mas não encontravam nenhuma referência. Mas ainda sob um olhar atento à experiencia do visitante, os alemães, que ainda são a referência máxima no mercado de feiras, também acertaram, pois existia uma preocupação enorme em medir a satisfação do visitante, com insistentes e complexas pesquisas de opinião. Isso me faz crer que a próxima edição terá mudanças e melhorias a partir das críticas recebidas o que pode tornar este ciclo de eventos mais proveitoso. Assim, espero.
Apesar dos percalços neste quesito de posicionamento e setorização, a feira surpreende pelo tamanho e possibilidades. A gente sai com uma sensação de “quero mais”. E nisso me identifiquei com os alemães. Eles sabem criar um evento tão grandioso que o visitante sai com a certeza de que não conseguiu ver e aproveitar tudo. Assim como eles, este é o meu objetivo quando faço uma feira no Brasil: que o visitante saia já contando os dias para a próxima edição.
Outro insight muito rico foi encontrar brasileiros em busca novidades e novos fornecedores, o que reflete a oportunidade que temos de internacionalizar nossas feiras e trazer estes fornecedores estrangeiros para o Brasil. Ou seja, se há um movimento no mercado de ir até a Alemanha para buscar novos fornecedores, podemos atrair estes expositores para nossos eventos e colocar o Brasil na rota dos principais destinos para se fazer negócios. Porque nossos produtos são diversificados e criativos e não deixam nada a desejar do que vi por lá. Aliás, não vi nenhuma inovação disruptiva nos produtos de papelaria. Apenas mudanças incrementais: novas cores, texturas, melhorias na apresentação, além e claro de um senso criativo imbatível.
A conclusão das visitas é que o Brasil está no caminho certo - no que se refere à oferta de produtos e conteúdo. Estamos alinhados às principais tendências internacionais em eventos B2B e B2C, com um certo GAP em tamanho e infraestrutura, eu sei, mas há sempre uma luz no fim do túnel. O setor de eventos é pujante, e as pessoas que o formam competentíssimas. Foram muitos aprendizados – principalmente do que podemos incrementar por aqui e sobre como melhorar a experiência do visitante. Os visitantes e expositores da Francal Feiras podem esperar melhorias e inovações nos nossos eventos pois sai da Alemanha com o tanque cheio e é com este espírito que pretendo aplicar novidades nas feiras que realizamos no Brasil.
Fernanda Sabino, Gerente de Marketing da Francal Feiras