A coluna Inspiração, do PROPMARK, pode ser considerada um espaço de reflexão para quem a escreve, mas, para mim em particular, este lugar pode ser um espaço para assuntos que precisam ser falados e para temas a serem debatidos. Como essa é a minha primeira vez por aqui, vou pedir licença para escrever sobre uma experiência que me vem tomando os pensamentos desde que a vivi. Levou algum tempo para falar sobre isso, por diversos motivos (que não será necessário contá-los aqui), mas finalmente cheguei.
Como estamos na coluna Inspiração e vamos falar sobre ela, por que não trazer Cannes para a pauta, visto que, para nós publicitários, esse é um tópico de “lugar-comum”? Quando penso em Cannes, eu me lembro de um lugar não tão comum, não tão acessível, mas escolhido uma vez por ano para premiar o que há de melhor
na criatividade. Ou seja, um lugar para ir e se inspirar.
Mas, se é pra falar de inspiração, será que falar de Cannes é falar desse lugar-comum? Ou será que o lugar onde você esteve em Cannes foi o lugar-comum? Você já esteve em Cannes? Já foi para esse lugar? E, indo mais fundo, você já ouviu falar do Cannes Can: Diversity Collective (CC:DC)? E da Inkwell Beach Cannes 2022? Não? Pois bem, eu também não… pelo menos não até Cannes 2022.
E , mesmo que já estejamos próximos do Cannes Lions 2023, esse assunto que trago aqui não está ultrapassado, eu prometo a você. A Inkwell Beach foi o lugar mais inspirador em que eu poderia ter estado no festival naquele ano. E olha que caí lá quase sem querer e, por sorte, fui fisgado para um almoço. E um pouco desavisado, se não fosse pelo Felipe Silva (partner & creative director da Gana) estar ao meu lado. Ao chegar lá, deparei com uma mesa repleta de jurados, empreendedores, diretores de criação, donos de agência, dirigentes de entidades de comunicação, pessoas que estão no mercado há um tempo e também talentos que estão moldando e estruturando uma nova geração na publicidade.
Seria um lugar-comum em Cannes, mas ali estava o que há de mais inovador, no sentido de promissor, para o começo da evolução desse mercado: publicitários pretos que estão recriando as formas da tal “criatividade do Brasil”. Pedi licença pra sentar, um rango (o melhor de todos os oferecidos na Croisette) e me dediquei a ouvir, aprender e absorver o máximo possível da conversa à mesa.
Ali ouvi falarem de criatividade sob um ponto de vista de inovação e inspiração que não estava no Palais nem em nenhum estande de big tech ao longo da praia. Até porque os cases e dados falados ali ainda serão apresentados em Cannes (e para o Brasil) em 2023.
Ouvi sobre como criar ativação de esporte dentro das comunidades, como ser agência independente brasileira construindo narrativas locais para marcas globais, como ser empreendedor, onde o preconceito com a cor da sua pele imprime desconfiança à sua entrega, como fazer logística onde não há endereço, como furar a bolha social. E, se é pra sair do lugar-comum, ouça, entenda e procure pessoas que não vêm do mesmo lugar que você. A inovação só é possível quando há diversidade de pessoas e pensamentos. Afinal, viver, pensar e trabalhar sob um único ponto de vista não é experiência, é repetição de um padrão. E o que é padrão não é criativo.
A título de curiosidade, estavam no Cannes Can: Diversity Collective (CC:DC) em 2022 os seguintes publicitários: Felipe Silva, Yhannath Vargas, Dilma Campos, Preto Zezé, Heitor Caetano, Peter de Albuquerque, Gabriela Rodrigues, Heloísa Santana, Patrícia Moura e Perifa Lions (Dan, Jeniffer e Bianca juntos com Letícia Rodrigues). Além dessa mesa, em Cannes ainda estavam: Regina Augusto, Angerson Vieira, Paulo Damasceno, Andre Mota, Spartakus, Konrad Dantas (KondZilla), Edu Lyra, Andre Chaves e tantos outros nomes.
Inkwell Beach Cannes 2022
Cannes Can: Diversity Collective (CC:DC)
Esse é o lugar e o cenário que espero encontrar todos os anos.
É um longo caminho, mas é o que eu desejo. Como criativo e como humano.
Até lá.
Teco Cipriano é diretor-executivo de criação na Ogilvy Brasil