Leandro Hassum começou a carreira no teatro e foi para a TV como garoto-propaganda, bem antes da primeira novela Pecado Capital (1998).

Seu primeiro comercial foi para uma empresa de empréstimo financeiro, e ele buscava formas inusitadas de pedir dinheiro. “Entrava tocando pandeiro na casa da minha tia. Era algo como ‘titia linda, titia bonitinha, me empresta um dinheirinho'”, recorda.

O tom irreverente o fez ser parado nas ruas e reconhecido como ‘a’ e ‘o’ cara daquela marca. Segundo ele, é esse DNA que tenta manter desde então: fazer um humor popular e próximo das pessoas.

A postura serve para a publicidade, sim, mas mas também para as demais plataformas que tem atuação, como a TV por assinatura, onde está prestes a (re)estrear.

Após mais de 20 anos na Globo, o ator, humorista, escritor, produtor e dublador, que deixou a emissora recentemente, vai apresentar o programa “Tá Pago”, na TNT

Entre drinks, pratos e sobremesas, seus convidados contam histórias e detalhes de suas vidas e carreiras. Os primeiros participantes incluem Maisa, Thaynara OG, Bela Gil e Daniela Mercury.

Aliado a forte veia humorística, Hassum afirma que o público deve esperar muito mais dele. “As pessoas vão esperar sempre o humor e a piada, e que do caralho se eu posso dar mais. Sempre me vi nesse lugar: posso dar muito mais do que a piada, eu não sou só a piada.”

A seguir, ele fala sobre sua postura como garoto-propaganda, o novo desafio profissional e as mudanças em sua carreira e vida.

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Você tem uma longa relação com a publicidade. Como cuida da sua marca e escolhe com quem trabalhar?
Depois daquele primeiro comercial, eu virei meio a cara do produto. E isso me abriu um mercado de publicidade muito grande, sempre nesse filão popular. Sou um cara fiel ao tipo de humor que escolhi fazer na minha carreira. É um humor voltado para o povo. E daí em diante, enquanto marca e produtos que eu gosto de me associar, são produtos que agregam ao povo, que vão ao encontro do que o público busca em mim e acredita que eu estaria usando.

A importância dessa identificação é crescente na indústria…
Não dá para transformar o produto em uma coisa inatingível. Vivemos um momento que não funciona colocar uma pessoa da classe AAA usando um produto que quer ser vendido para a classe C, D, E. Ninguém acredita. Eu fiz muita coisa para mercados, cervejaria, restaurantes, bem-estar, produtos relacionados a alegria e família… Por exemplo, sou parceiro da Votorantim. Eu sou um cara família. As pessoas acreditam que o Hassum escolheria o melhor cimento para o bem-estar da sua família. 

Como vai levar isso para esse novo desafio profissional?
No universo do programa Tá Pago, eu quero que o público se sinta nessa mesa que a gente vai receber famosos e personalidades. Quem nunca falou que ‘queria ser uma mosquinha para ouvir a conversa’? Então quero que o público seja essa mosquinha e veja o quão normal é a nossa vida.

A TNT apoiou esse objetivo?
Sempre admirei a TNT muito antes de qualquer projeto, porque ela traz a magia e encanta o telespectador. Ela mostra o tapete vermelho, o que está se usando em Hollywood e aquela realidade fantástica, de uma forma muito natural, humana, próxima, que não distancia nem é arrogante. É um acordo e o que eu traço como meta: quero que o público se aproxime do nosso trabalho, do que estamos fazendo. E sempre pensando se essa conversa é popular, se está humanizando e talvez desmistificando aquele pensamento de ‘inatingíveis’… Nós falamos um pouco um do outro, temos os mesmos problemas, as mesmas angústias, as mesmas dúvidas. 

https://youtube.com/watch?v=hOnpy-twbvI%26nbsp%3B

Você participou do projeto? E costuma se envolver com as ações?
Eu me envolvo, sim, e acho que a gente tem que se envolver para que o programa tenha a nossa cara e linguagem. Mas existe um processo inicial de criação que precisa de outras mentes e raciocínios. Gosto muito de trabalhar dessa forma: criem, mostra o que vocês pensaram, e aí eu venho com as minhas cores, às vezes mais fortes, ou dizendo ‘isso não me identifico’. E isso em tudo, em peças, filmes, TV… 

E agora tem outro tipo de envolvimento, você está do outro lado…
Sim, é novidade para mim. Quero trazer para perto do meu universo e ao mesmo tempo passear por outros. Sempre fui o entrevistado e agora eu vou entrevistar. Me ver nesse lugar e fazer isso é mais uma conquista. E quero agradecer muito a TNT e a equipe da Turner por me trazer para esse lugar e acreditar que sou capaz de fazer isso.

Sentiu que precisava mudar?
O pior lugar para uma pessoa pode se colocar, em qualquer profissão, chama-se zona de conforto. Ela é destrutiva para todos nós. Tem um pensador que dizia – e pode soar arrogante – assim: ‘Quem nunca sentiu a ânsia de ser algo jamais será nada’. Ter ambição é muito diferente de ter ganância. A ambição nada mais é do que o segredo do sucesso, que é a constância do propósito. A gente não sabe, como o surfista não sabe que pegou uma grande onda, enquanto está no topo dela. No topo você só pensa em não cair da prancha. Quando desce e chega na areia percebe que fez sucesso. A nossa carreira é entre a sequência de ondas.

Você manteve isso sempre em mente?
Sou uma pessoa inquieta em tudo. Comecei no teatro como todo ator começa: numa batalha diária. Sabia que eu podia fazer muito mais e isso me levou a publicidade. E querer ser mais do que um ator de comercial me levou a TV, e querer ser mais do que um ator de TV me levou a ter meu próprio programa, e querer ser mais do que um ator de TV tendo seu próprio programa me levou a ser um ator de cinema… e hoje me leva a ser um dublador, um stand up comedy e agora apresentador de um talk show. A inquietude é que faz nossa carreira continuar. A hora que a gente estagnar algo está errado e a gente não está feliz.

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Você teve apoio nessas transições? 
Se você acreditar só no que outros falam ‘ah você é engraçado fazendo isso’, não só internaliza como se fecha numa caixa. Não. Você pode escolher. As pessoas vão olhar para o Hassum e esperar sempre o humor e a piada. E que do caralho se eu posso dar mais do que a piada. Sempre me vi nesse lugar: posso dar muito mais do que a piada, eu não sou só a piada. Sou um formador de opinião, um exemplo de superação e de que é possível fazer. Quando comecei a pensar em televisão, falavam que eu era muito exagerado e careteiro, e que a TV trabalha num regime naturalista e mais simples. Quem disse que eu não conseguiria… e que eu não seria capaz de emagrecer e continuar trabalhando, talvez hoje se arrependa.

Falaram isso diretamente?
Falaram e sempre falarão. Todos os dias. E não tem problema. As pessoas têm direito de falar e pensar o que quiserem. E eu tenho que acreditar no que eu sou e no que sou capaz de fazer. Não posso ser cego para mundo, mas ter fé no que eu sei que é melhor para mim.

É esse outro lado do Hassum que o público pode esperar?
As pessoas podem esperar o mesmo Hassum, com mais cores do que já viram o Hassum, e num outro lugar.